análise

Economia real explica favoritismo de Lula, mas homens e evangélicos dão fôlego a Bolsonaro

Pesquisa mostra que 50% das mulheres votam em Lula e 24% em Bolsonaro; entre os homens, vantagem menor: 42% a 39%

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Força do bolsonarismo entre homens e evangélicos ajuda a diminuir larga vantagem conquistada por Lula nas intenções de voto - Marcelo Camargo/Agência Brasil - Ricardo Stuckert

A pesquisa Genial/Quaest divulgada nesta quarta-feira aliviou a apreensão do Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e aliados, que temiam uma diminuição da vantagem para Jair Bolsonaro. Mas, com 46% das intenções de voto, Lula subiu dois pontos em relação ao levantamento de 7 de abril, enquanto o atual mandatário ficou estacionado nos 29%. A pesquisa mostra que “o favoritismo de Lula continua sendo explicado pela relevância da economia real na vida do cidadão”, escreveu o diretor da Quaest, Felipe Nunes. “Para 50%, a economia é o principal problema enfrentado pelo país hoje”, afirmou.

O levantamento aponta para a possibilidade de vitória do petista no primeiro turno, o que tem sido um objetivo cada vez mais claro da campanha que oficializou o movimento pela democracia lançado no sábado (7) por Lula e seu vice Geraldo Alckmin.

Em sua página no Twitter, o professor da Universidade Federal do ABC (UFABC) Vitor Marchetti avalia que “se Lula vencer em primeiro turno será por uma margem pequena de votos, o que alimentaria o discurso contra as urnas eletrônicas”.

“Ao mesmo tempo, no primeiro turno estão em votação todos os outros cargos eletivos (governadores, senadores deputados federais e estaduais). Ficará mais difícil questionar a eleição presidencial sem questionar a eleição toda, reduzindo o apoio do sistema político partidário ao discurso golpista, o que poderia acontecer em um segundo turno, em que a diferença entre os dois candidatos pode ser mais consistente”, acrescenta o cientista político.

Economia: fator decisivo

Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) foi a 1,06% em abril na comparação com março. É a maior taxa para o mês desde 1996.

No governo de Jair Bolsonaro, a gasolina acumulou 155,8% de aumento nas refinarias, o diesel subiu 165,6% e o GLP aumentou 119,1%. No atual governo, o salário mínimo perdeu o poder de compra pela primeira vez desde o início do Plano Real.

Em sua análise, Felipe Nunes aponta que, no universo de 50% de eleitores que se dizem preocupados com a economia, 18% afirmam que a inflação é o principal problema do país. Para 13% é o desemprego e 19% indicam a “crise econômica”.

“Em setembro de 2021, apenas 6% diziam espontaneamente que a inflação era o principal problema. Esse protagonismo da inflação é preditor de eleição de mudança”, prevê.  Ainda segundo o diretor da Quaest, continua muito alto (59%) o percentual de eleitores com dificuldade de pagar suas contas nos últimos meses.

Bolsonarismo de homens e evangélicos

Para Marchetti, se “a economia continua sendo o motor das eleições”, por outro lado “Bolsonaro está conseguindo movimentar um conjunto de eleitores pelos valores, apesar da economia”. Ele acrescenta que esse conjunto é formado “em especial homens e evangélicos”.

A avaliação do governo no estrato “Religião” mostra que, entre os católicos, 48% o consideram a gestão bolsonarista negativa e 23% positiva, enquanto para 26% é regular. Já entre os evangélicos, 32% avaliam o governo como negativo, 36% dizem ser positivo e 29% regular.

Em relação às intenções de voto, a vantagem de Lula entre católicos é significativa: 53% apontam voto no petista, 27% no atual presidente, 13% em outros e 7% não sabem. Já no ambiente evangélico a intenção de voto praticamente se inverte: 47% apontam voto em Bolsonaro, 30% em Lula, 11% em outros e 12% não escolhem nenhum candidato.

No recorte por sexo, para 50% das mulheres o governo é negativo, 21% classificam como positivo e 27% como regular. Entre os homens, os índices são 41%, 30% e 27%, respectivamente.

Em relação à intenção de voto, 50% das mulheres apontam Lula, 24% Bolsonaro, 13% outros e 12% não responderam. Entre os homens, há equilíbrio: 42% indicam voto em Lula, 39% em Bolsonaro, 12% em outros e 7% não sabem.

A pesquisa foi registrada no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) sob o protocolo BR-01603/2022.