ATAQUES A TIROS

Impactada por Belo Monte, Altamira (PA) vive nova onda de violência que já deixou 12 mortos

Cidade sofreu explosão da criminalidade desde construção da usina; governo responde com aumento da repressão policial

Brasil de Fato | Lábrea (AM) |

Ouça o áudio:

"Rondas repressivas e preventivas se intensificaram nas últimas horas e vão continuar", informa o governo paraense - Agência Pará

A cidade de Altamira, no Pará, vive uma onda de violência que já deixou pelo menos 12 mortos nas últimas duas semanas. Dois bairros registraram nove ataques a tiros, com características de execução.

Até agora, a resposta do governo paraense foi intensificar a repressão policial na cidade, onde índices de criminalidade explodiram após a construção da hidrelétrica de Belo Monte, que entrou em operação há seis anos.

Uma das vítimas, José Marcelino de Sousa, trabalhava na Associação de Moradores da Reserva Extrativista do Rio Iriri (Amoreri). Ele teria sido morto a tiros dentro de casa no sábado (14).

“Marcelino estava crescendo muito em suas funções, era um ávido aprendiz e um jovem de responsabilidade extrema em seu trabalho”, diz nota divulgada pela entidade.

Leia mais: Pará: Altamira é a cidade com maior taxa de homicídios do país, aponta estudo do Ipea

No sábado (14) à noite, quatro pessoas foram executadas em um bar. Uma câmera de segurança registrou dois homens se aproximando e efetuando os disparos, segundo o portal Dol.

O tiroteio deixou outras quatro pessoas feridas. Os mortos são: Diego Batista Lima, 28 anos; Nila Loiana Félix Cunha; Alcides da Costa Araújo Neto, 57 anos; e Melquis Cesário da Cunha, 38 anos.

Na terça-feira (10), mãe e filha foram assassinadas na calçada de casa. Segundo testemunhas informaram à polícia, homens fizeram quatro disparos e fugiram. Os bombeiros foram acionados, mas Carmem Lúcia, de 53 anos, e a filha dela, Luciana, que não teve a idade revelada, já estavam mortas. 

Na tarde de 6 de maio, o dono de uma barbearia foi assassinado a tiros. A Polícia Militar (PM) afirmou que um homem chegou atirando e atingiu a cabeça de Patrick Lima, 22 anos.

Quatro dias antes, Francisco Simão Souza Júnior, 24 anos, aguardava para ser atendido na mesma barbearia, quando também foi alvejado e morto. As informações são do portal O Liberal.

Impactos de Belo Monte 

Altamira vive uma explosão nos índices de violência urbana desde a construção da usina hidrelétrica de Belo Monte. O empreendimento fez a população praticamente dobrar em cinco anos. 

Sem emprego, infraestrutura ou políticas públicas adequadas, a cidade testemunhou o crescimento vertiginoso da criminalidade, com atuação marcante de facções ligadas ao tráfico de drogas. 

Em 2017, O Brasil de Fato ouviu uma moradora de Altamira, a Maria Euda de Andrade, de 54 anos. Ela mora no mesmo bairro da barbearia onde dois homens foram assassinados. Na época, contou que vivia com medo da violência e evitava sair sozinha de casa. 

:: Seis anos após operação de Belo Monte, moradores de Altamira sofrem com a falta de água ::

Para ela, a insegurança se generalizou após a construção da usina. “Foi aí que piorou tudo, depois da usina, veio tudo de ruim para cá. Foi quando começou a aparecer mais [casos de violência], apesar que já tinha, mas depois disso dobrou”.

“Altamira registra indicadores de violência elevados. Os casos de homicídios, acidentes de trânsito, violência contra mulheres e adolescentes, furtos e roubos praticamente duplicaram desde o início da construção da usina. Entre 2011 e 2014, o número de assassinatos por ano em Altamira saltou de 48 para 86 casos, um aumento de quase 80%”, diz o dossiê Belo Monte, publicado pelo Instituto Socioambiental (ISA), em 2015.

Governo responde com repressão 

O governo do Pará anunciou a criação de uma força-tarefa enviada até a cidade para elucidar os crimes. O governador Helder Barbalho (MDB) viajou a Altamira no domingo (15) e se reuniu com o Ministério Público e integrantes do poder Judiciário. Segundo ele, os crimes podem ter ligação com facções criminosas.

Ainda segundo o governo paraense, mais de 60 policiais militares e civis “estão realizando, de forma ininterrupta, ações preventivas e repressivas” em Altamira. “Há um trabalho de inteligência em curso para identificar e localizar os autores dos crimes”, diz nota publicada no site do Executivo estadual.

:: Um ano do massacre de Altamira: denúncias de tortura e presídios sem fiscalização ::

De acordo com o comunicado, um casal foi preso em flagrante por tráfico de drogas. Eles estariam em uma das residências de suspeitos de envolvimentos nos crimes.

“Diligências foram feitas em residências, e houve apreensão de alguns objetos, cujas análises devem contribuir para as investigações”, diz comunicado da Secretaria de Estado de Segurança Pública e Defesa Social.

Edição: Rebeca Cavalcante