mais uma troca

Novo presidente da Petrobras não cumpre requisito legal para cargo, alertam petroleiros

Indicado pelo governo, Caio Mário Paes de Andrade não tem experiência no setor petróleo ou energia

Brasil de Fato | Curitiba (PR) |

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Segundo o governo, Caio Andrade é formado em Comunicação Social - divulgação

Apontado pelo governo federal como novo presidente da Petrobras, Caio Mário de Andrade não tem a experiência exigida em lei para assumir o comando da maior empresa do país. Isso é o que indicam a Federação Única dos Petroleiros (FUP) e o Observatório Social da Petrobras (OSP), ligado à Federação Nacional dos Petroleiros.

Andrade foi indicado nesta segunda-feira (24) para assumir o lugar do químico José Mauro Ferreira Coelho, que perdeu o emprego após apenas 40 dias no cargo. Coelho foi o terceiro presidente da Petrobras durante o governo do presidente Jair Bolsonaro (PL), o qual critica o custo dos combustíveis no ano eleitoral, mas não muda a política de preços da estatal.

Andrade é formado em Comunicação Social e tem pós-graduação e mestrado em Administração. Foi presidente do Serviço Federal de Processamento de Dados (Serpro) e é atual secretário especial Desburocratização, Gestão e Governo Digital, ligado ao Ministério da Economia, comandado por Paulo Guedes.

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Segundo seu currículo, Andrade nunca trabalhou numa empresa do setor de energia ou petróleo –áreas em que atua a Petrobras.

A Lei das Estatais, sancionada em 2016 pelo então presidente Michel Temer (MDB), determina que presidentes de companhias públicas tenham experiência de pelo menos 10 anos no setor da empresa a qual dirigem.

“Caio Andrade sequer preenche os critérios básicos da lei das estatais. Não tem formação e nem atuação na área, não conhece nada do setor, só é um ideólogo privatista e amigo do Paulo Guedes”, afirmou o economista Eric Gil Dantas, da OSP.

Dantas lembrou que, quando o Bolsonaro demitiu o general da reserva Joaquim Silva e Luna da presidência da Petrobras, em março, Caio Andrade chegou a ser cotado para a vaga. Naquela época, a primeira opção do governo para a estatal era o consultor Adriano Pires, que desistiu do cargo por conflitos de interesse. O nome de Andrade circulou nos bastidores da estatal. Sequer foi levado adiante justamente por sua falta de experiência.

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A FUP também alertou que Caio Mário de Andrade pode não cumprir os requisitos legais para assumir o controle da Petrobras em nota divulgada nesta terça-feira (24). “O atual secretário do ministério de Paulo Guedes foi escolhido mesmo sob suspeita de não cumprir requisitos impostos pela Lei de Responsabilidade das Estatais para assumir o comando da Petrobras”, declarou a entidade.

Em reportagem publicada ainda na segunda-feira, a Folha de São Paulo informa que acionistas minoritários da Petrobras também acreditam que Andrade não está apto ao cargo.

Em nota divulgada também na segunda, o Ministério das Minas e Energia (MME) declarou que Andrade “reúne todas as qualificações para liderar a companhia [Petrobras]”.

Análise e aprovação

Mesmo indicado pelo governo, sócio-controlador da Petrobras, Andrade só assume a presidência da companhia caso seja aprovado pelo conselho de administração da estatal. O conselho tem 11 nomes, sendo seis indicados pelo próprio governo.

No entanto, primeiro, Andrade terá que ser aprovado como membro do conselho de administração. Na Petrobras, o presidente da companhia necessariamente deve fazer parte do grupo. Andrade deve assumir a cadeira de José Mauro Coelho, demitido.

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Depois de ingressar no conselho, sua indicação à presidência é avaliada. Um comitê analisa o currículo do candidato à chefia da Petrobras e recomenda ou não sua aprovação. Acatar essa recomendação cabe ao conselho.

Derretimento moral

Dantas, do OSP, reclamou da gestão da Petrobras durante o governo Bolsonaro. Segundo ele, o governo trabalha para desmoralizar a estatal trocando sua direção aleatoriamente.

“Um efeito claro é o derretimento da moral da empresa”, disse Dantas, que vê um objetivo oculto na desorganização da Petrobras: a privatização.

“A maioria da população defende a Petrobras estatal, e para reverter isso você o governo quer mostrar que ela é uma ‘bagunça’”, disse.

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Deyvid Bacelar, coordenador-geral da FUP, disse que a troca de presidente também tem interesses políticos. “É mais um movimento eleitoreiro e desesperado do presidente da República para tentar se descolar da escalada de reajustes dos combustíveis, como se ele não tivesse responsabilidade pela política de preço dos combustíveis”, disse.

Segundo a FUP, durante o governo Bolsonaro, iniciado em 2019, a gasolina, nas refinarias, já subiu 155%; o diesel, 165%; e o GLP, 119%. Isso, de acordo com a entidade, “tem impactos nefastos sobre a sociedade e os vários setores da economia”.

Edição: Rebeca Cavalcante