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Temporais no Grande Recife deixam mortos, desaparecidos e mais de 80 quedas de barreiras

Chuvas estão entre as maiores já registradas desde os anos 1970; aulas foram suspensas

Brasil de Fato | Recife (PE) |
Cenas como esta foram comuns nos últimos dias na RMR, que recebeu em três dias mais da metade das chuvas esperadas para o trimestre - Captura de tela/NETV

A Região Metropolitana do Recife (PE) vive uma semana de intensas chuvas, resultantes do encontro de uma frente fria vinda do sul do país com um "distúrbio ondulatório", fenômeno climático vindo do oceano Atlântico. Já foram registrados mais de 80 deslizamentos nos municípios do litoral pernambucano, resultando em mortes, desaparecimentos e pessoas feridas.

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Em Olinda pelo menos três pessoas morreram, segundo o corpo de bombeiros do estado. No Córrego do Abacate, bairro de Águas Compridas, duas pessoas foram atingidas, uma ficou ferida e um homem de 62 anos morreu. No bairro Córrego do Abacaxi duas pessoas ficaram soterradas. Os corpos foram localizados nesta quinta-feira (26), segundo o G1.

Vários municípios do Grande Recife registraram mais de 150 milímetros cúbicos de chuvas num intervalo de 24 horas entre esta terça (24) e quarta (25). Olinda passou dos 200mm, enquanto no Recife foram foram 196mm, o que é a 3ª maior precipitação já registrada na capital pernambucana, atrás apenas um registro de 1970 e outro de 1986.

Além de Recife e Olinda, os municípios do Paulista, São Lourenço da Mata e Itapissuma também tiveram precipitações acima de 170mm. A expectativa da Agência Pernambucana de Águas e Climas (Apac) é que as chuvas continuem até o fim de semana, principalmente na Zona da Mata do estado, mas com menor intensidade.

As chuvas também devem alcançar a região leste do Agreste pernambucano, mas dificilmente devem ultrapassar o Planalto da Borborema em direção ao Sertão.

O segundo trimestre costuma ser o período de mais chuvas na região, mas as precipitações deste início de semana equivalem a mais da metade das chuvas esperadas para o período entre abril e junho.

Desabrigados, mortes e desaparecimentos

Em Camaragibe, o centro da cidade ficou alagado e houve um incêndio no mercado público, queimando parte dos boxes de comerciantes. O município também registrou 46 deslizamentos de barreira, com cinco famílias desabrigadas. Em Jaboatão dos Guararapes foram registradas 27 quedas de barreiras, mas o município ainda não informou o número de mortos ou feridos.

Às margens do rio Fragoso, o bairro de Cidade Tabajara, no limite entre Olinda e Paulista, é um dos que sofrem com cheias em período de chuvas. Em alguns trechos o alagamento passa de um metro. E o terreiro Ilê Oguian Alobomaxó é sempre afetado. “As casas ficam inundadas e quando a água vai embora, a lama fica. O local onde nossos orixás residem fica em péssimo estado”, lamenta a moradora Glayce Silva, filia do pai de santo Babá Iguaracy. “Aparecem cobras, tartarugas, ratos. É muito triste de ver”, completa.

Glayce reside na região há 13 anos, e seu pai, há 16 anos. Eles já viveram a situação outras vezes. “Todo inverno pesado a comunidade toda sofre com esse descaso. Perdemos geladeira, freezer, colchões, lençol... sempre que chove é assim”, lamenta, em conversa com o Brasil de Fato.

A moradora denuncia que a localidade sequer tem saneamento básico, e o abastecimento de água é de oito em oito dias. “Precisamos armazenar água para tomar banho, usar no banheiro e lavar pratos durante a semana. Mas essas cheias, perdemos a água limpa”. 

Os alagamentos também se multiplicam por toda a região metropolitana, com trechos críticos em que nem mesmo ônibus conseguem circular. Imagens nas redes sociais mostram alagamentos nos bairros do Ibura e Ipsep, na zona sul da capital; Jiquiá, na zona oeste; Nova Descoberta e Vasco da Gama, na zona norte. As cenas repetem em diversos bairros de toda a região metropolitana.


Quarto que abriga os orixás no Ilê Oguian Alobomaxó; a casa sofre com as chuvas e cobra medidas do poder público / Glayce Silva/arquivo pessoal

Parte considerável do Recife fica no nível do mar ou mesmo abaixo disso, o que dificulta o escoamento da água, especialmente nos horários de maré alta. 

Abrigos

Muitas casas foram tomadas pela água. A Prefeitura de Olinda está com cinco abrigos improvisados em equipamentos públicos. No bairro de Rio Doce, mais de 130 pessoas estão abrigadas em escolas. O município também abriu as escolas Claudino Leal (Cidade Tabajara) e José Mendes (Passarinho) para receber a população. As pessoas receberão a alimentação da escola.

O executivo municipal pede doações de alimentos não-perecíveis, material de limpeza, agasalhos, cobertores e lençóis. As doações devem ser levadas entre as 8h e as 17h na Biblioteca Municipal (Carmo), na Secretaria de Defesa Social e Direitos Humanos (Bairro Novo), na Vila Olímpica ou no estádio Grito da República (ambos em Rio Doce).

 

Fonte: BdF Pernambuco

Edição: Vanessa Gonzaga