Assista ao vídeo

Movimentos populares organizam resposta à Cúpula das Américas fraturada pelos EUA

Cúpula dos Povos organizará discussões, workshops e palestras para oferecer contranarrativa à agenda da Casa Branca

Brasil de Fato | Los Angeles (EUA) |

Ouça o áudio:

Cartaz nas ruas de Los Angeles nas vésperas da Cúpula das Américas - André LoreAndré Lorenz Michiles / #PeoplesCollab22

É esperado que um encontro cujo propósito seja "fortalecer as relações entre os países das Américas" inclua todos os países da região, mas não é o que acontece na 9ª edição da Cúpula das Américas, que ocorre ao longo desta semana, em Los Angeles.

Como país sede do evento, os Estados Unidos têm poder para escolher os convidados. Sob a justificativa de que Cuba, Nicarágua e Venezuela são regimes que não seguem princípios democráticos, o governo Joe Biden optou por não convocá-los para o encontro, o que gerou críticas e protestos — inclusive de autoridades, diplomatas e acadêmicos.

"Foi um erro do Biden essa abordagem, porque ela gerou mais atritos e desconfiança sobre qual é, de fato, o interesse e a vontade estadunidense para a região", diz a professora de relações internacionais da ESPM, Denilde Holzhacker, à reportagem do Brasil de Fato. Ainda de acordo com a docente, essa decisão "de certa forma, reforça uma visão de que os americanos não estão preocupados com o desenvolvimento do Hemisfério, mas em reafirmar a sua posição de poder".

Entenda: O que está em jogo para os EUA e a América Latina com a Cúpula das Américas?

O presidente do México, Andrés Manuel López Obrador, cumpriu a sua palavra e retirou a sua participação. "Não pode haver Cúpula das Américas se todos os países do continente americano não participarem”, disse Obrador. “Ou pode haver, mas acreditamos que isso significa continuar com a política antiga, de intervencionismo, de falta de respeito pelas nações e seus povos.”

Para Nicolás Maduro, presidente da Venezuela, a decisão dos Estados Unidos foi discriminatória, enquanto a atitude de Obrador foi "corajosa". O primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau, e o presidente do Chile, Gabriel Boric, também lamentaram a exclusão dos três países.

Contexto: Excluído da Cúpula das Américas, Maduro vai à Turquia para 'fortalecer cooperação'

A sociedade civil também reagiu à altura, e uma cúpula paralela foi estabelecida: a Cúpula dos Povos. O evento promove discussões, workshops e palestras ao longo de três dias, entre 8 e 10 de junho. 

"A exclusão de Cuba, Nicarágua e Venezuela é uma amostra da dinâmica estadunidense que insiste em excluir países específicos, e a gente sabe porquê isso continua se repetindo: porque os Estados Unidos têm um alinhamento político que considera esses países indignos de se envolverem em conversas interestaduais, mesmo que isso os afete direta ou indiretamente", conta ao Brasil de Fato uma das organizadoras da Cúpula dos Povos, Xochitl Sanchez.

Um dos grandes diferenciais deste evento paralelo, encabeçados por lideranças civis, é que ele dá a voz a palestrantes e especialistas relevantes em sua região, trazendo uma visão bastante assertiva sobre os seus lugares de origem e de fala. "A partir dos debates, a ideia é propormos colaborações, mas tudo com uma abordagem coletiva", completa. 

Para trazer as propostas para o campo das ações e pressionar as lideranças políticas, a Cúpula dos Povos pretende organizar uma grande marcha rumo ao centro de Los Angeles na sexta-feira, 10 de junho. É ali que Joe Biden receberá os líderes latino-americanos.

"Vamos protestar ao mesmo tempo em que eles [as autoridades] se reúnem, e fazemos isso para denunciar e vocalizar nossas preocupações quando se trata das políticas que esses governos promulgaram, que impactaram as pessoas de dentro e fora do país", diz Xochitl. 

Por fim, a ativista nos convida a refletir: "o que vai ser acordado nesta Cúpula? Como as decisões tomadas aqui vão afetar os países vizinhos? Porque qualquer acordo firmado aqui por um país, vai ter um impacto na região toda".

Edição: Thales Schmidt