Bruno e Dom

 Justiça decreta prisão preventiva de suspeito pelo desaparecimento de jornalista e indigenista

Pescador “Pelado” foi visto ameaçando a dupla um dia antes do desaparecimento e poderá ficar preso durante investigações

Brasil de Fato | Lábrea (AM) |

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O repórter Dom Philips (esquerda) e o indigenista Bruno Pereira (direita) - Divulgação/Funai

A Justiça do Amazonas ordenou nesta quinta-feira (9) a prisão preventiva do pescador Amarildo da Costa de Oliveira, conhecido como “Pelado”, por envolvimento no desaparecimento do jornalista Dom Phillips e do indigenista Bruno Pereira. A ordem ocorreu após a perícia criminal encontrar vestígios de sangue na lancha do pescador. O material foi encaminhado para exames em Manaus (AM). 

Uma testemunha ocular ouvida pelo Brasil de Fato afirmou que “Pelado” ameaçou o indigenista da Funai e o repórter do jornal britânico The Guardian, quando cruzaram caminhos um dia antes do desaparecimento. “Eles [‘Pelado’ e outro pescador] levantam duas armas dizendo para os indígenas: ‘vocês vão levar tiros’”, relatou à reportagem

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“Nós chegamos à nossa base [de fiscalização], em frente a um lago de nome Jaburu. O senhor ‘Pelado’ passa beirando a nossa canoa com uma cartucheira de mais ou menos uns 30 cartuchos. Nós fizemos o vídeo e fizemos fotos. O repórter [Dom Philips] tirou foto e filmou. Todo o material estava em nossas mãos para tentar incriminar esse invasor”, contou a testemunha.

“Pelado”, de 41 anos, está preso em flagrante desde terça-feira (7), quando a Polícia Militar (PM) o deteve por porte de munição de uso restrito. Com a prisão preventiva, o pescador poderá ficar detido enquanto durarem as investigações. A decisão é da juíza Jacinta dos Santos, do Tribunal de Justiça do Amazonas (TJ-AM).

Phillips e Pereira não são vistos desde o último domingo (5), quando navegavam de uma comunidade ribeirinha até o município de Atalaia do Norte. O indigenista acompanhava o repórter, que apurava informação para um livro no qual estava trabalhando, com o título Como salvar a Amazônia.

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Os moradores do Vale do Javari, segunda maior terra indígena do Brasil, sofrem com intensas invasões, principalmente de pescadores ilegais, que lucram alto com peixes valorizados, como o Pirarucu. A carne é consumida nas cidades do entorno e contrabandeada para fora do país. 

Desde o desaparecimento, indígenas, indigenistas e familiares da dupla denunciam omissão do governo brasileiro nas buscas. Ontem (8) foi anunciada a criação de uma força-tarefa entre PF, Exército, Marinha e a Secretaria de Segurança Pública, para agilizar as investigações.

Edição: Rodrigo Durão Coelho