Agroecologia

Leonardo Boff: a destruição da Terra é resultado da voracidade do capitalismo

O teólogo participou da Conferência, durante a Jornada da Agroecologia, que debateu ciência e solidariedade

Curitiba (PR) |
"É preciso divulgar o que está acontecendo com o nosso planeta e conclamar ao mundo que a defenda como sua casa comum", diz Leonardo Boff - Giorgia Prates

"Em cinco anos podemos chegar a 1,5ºC de aquecimento da Terra e isso será um desastre para a humanidade. Mas o cenário pessimista que se apresenta tem alternativa, e uma delas é o que vocês estão fazendo na luta pela agroecologia," disse o teólogo Leonardo Boff, na Conferência deste sábado (25) na 19º Jornada da Agroecologia, que acontece em Curitiba. O reitor da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Ricardo Marcelo e a coordenadora do MST e do projeto Marmitas da Terra, Adriana Oliveira, também estavam presentes à mesa.

Para Boff, além do auxílio que a ciência e tecnologia podem trazer para salvar o planeta que hoje está em ameaça de destruição e degradação, é preciso destacar o trabalho realizado pelo Movimento Sem Terra (MST) e todos os outros ligados à agroecologia. "Muitos são céticos, acham que já estamos atrasados demais. A destruição da Terra é resultado da voracidade do capitalismo. Mas, é preciso reforçar e apoiar o que faz o MST e todas as pessoas ligada a esse modo de vida, a agroecologia, que tem a ética da solidariedade como princípio. Isso não existe na cultura capitalista", disse. O teólogo ainda citou a ações de solidariedade feitas pelo movimento na distribuição de milhares de marmitas para comunidades mais vulneráveis durante a pandemia.

Crítica à mídia comercial

"Iniciativas como as que o MST fez e continua fazendo não aparecem na mídia comercial. Os dados alarmantes da destruição do planeta também não aparecem porque eles são e integram o mundo capitalista que explora e destrói a Terra. Por isso, não divulgam", criticou Boff.

Para ele, o combate ao modo capitalista é o único caminho possível para salvar o planeta. "Vocês são a premissa do mundo novo que se contrapõe ao capitalismo. Se eu faço da terra lugar para cavar, explorar e comprar e vender, ela não cumpre seu destino. Já se eu faço da terra como se ela fosse mãe e lhe devoto cuidado e amor, ela cumprirá seu destino. E, isso o capitalismo não faz, por isso, é importante combatê-lo," finalizou.

Nós somos a Terra!

Ao concluir, Leonardo Boff disse que é preciso conclamar todas as nações para cuidar da Terra. "Nós somos a Terra, o ser humano e a Terra formam uma unidade. É preciso divulgar o que está acontecendo com o nosso planeta e conclamar ao mundo que defenda a Terra como sua casa comum", disse.

Ele ainda defendeu que não se percam a indignação e ação como instrumentos de luta. "Vamos nos enamorar das duas irmãs da esperança: a indignação e a coragem. Vamos nos indignar contra o governo deste inominável que defende a morte e não a vida. Vamos nos indignar contra a morte de Bruno e Dom, contra os ataques aos povos indígenas e sempre agir", finalizou.

O reitor da UFPR, Ricardo Marcelo, defendeu a luta pela ciência contra o negacionismo. "Parte desta destruição do país está o negacionismo e as tentativas de destruição da Ciência. O negacionismo vem de braços dados com a política da morte", disse. "Por isso, nos tempos atuais, quando defendemos a Ciência contra esse projeto que visa destruir a pesquisa, as Universidades, somos então revolucionários", afirmou Marcelo.

Solidariedade é resistência

Adriana Oliveira, por sua vez, destacou a importância das ações de solidariedade no fortalecimento da aliança com comunidades e movimentos. "Esse é um processo de resistência que começou lá atrás, mais precisamente no Golpe de 2016, que nos possibilitou abrir portas para o trabalho coletivo com outros movimentos. Do golpe, para a vigília Lula Livre, chegamos à pandemia e mostramos que com solidariedade é possível sanar a forme", disse. O projeto Marmitas da Terra distribuiu milhares de refeições para comunidades vulneráveis de todo o Paraná.


"O trabalho de resistência que começou no golpe de 2016 nos possibilitou abrir portas para o trabalho coletivo", afirma Adriana Oliveira/ Giorgia Prates

Assim como o "Marmitas da Terra", outras ações de solidariedade e resistência fizeram uso da palavra, no palco principal da Jornada da Agroecologia, para fazer seus relatos, como a União de Moradores/as e Trabalhadores/as (UMT), União Solidária, dos Petroleiros e a Comunidade dos Catadores Novo Amanhecer.

Edição: Thalita Pires