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Morre Dom Cláudio Hummes, defensor dos pobres e dos povos indígenas

Figura importante na igreja católica mundial, cardeal abrigou operários e militantes da repressão durante a ditadura

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |
Dom Claudio Hummes ao lado do papa Francisco em participação no Sínodo para a Amazônia, em 2019 - Andreas Solaro/AFP

Morreu nesta segunda-feira (4) o cardeal Cláudio Hummes, arcebispo emérito de São Paulo, aos 87 anos. Figura importante pelo apoio aos movimentos sindical e populares na época da luta contra a ditadura militar, ele estava em sua residência, na zona sul de São Paulo, onde lutava contra um câncer.

Segundo a Arquidiocese de São Paulo, o velório e os ritos fúnebres serão realizados na Catedral Metropolitana de São Paulo, com início ainda nesta segunda. O sepultamento ocorrerá na Cripta da Catedral, em dia e horário ainda a serem definidos. 

“Convido todos a elevarem preces a Deus em agradecimento pela vida operosa do falecido Cardeal Hummes e de sufrágio em seu favor, para que Deus o acolha e lhe dê a vida eterna, como creu e esperou”, afirmou em nota o cardeal arcebispo de São Paulo, Odílio Pedro Scherer. 

Nomeado bispo em março de 1975, Dom Cláudio Hummes assumiu a Diocese de Santo André, na região do ABC paulista, em dezembro do mesmo ano. O período é marcado pelas grandes greves da região, puxadas pelo movimento operário, inclusive a histórica greve dos metalúrgicos de 1979, liderada por Lula. Na época, Hummes se notabilizou por abrir as portas da igreja para acolher militantes perseguidos pelas forças de repressão. 

Direitos indígenas

Permaneceu em Santo André até 1996, quando foi nomeado para a Arquidiocese de Fortaleza, onde ficou até 1998. Neste ano, foi nomeado arcebispo de São Paulo, cargo que ocupou até 2006. Em 2001, foi nomeado cardeal pelo papa João Paulo II. 

Após a morte de João Paulo, em 2005, participou da eleição de seus dois sucessores na Santa Sé e chegou a ser incluído em listas de possíveis escolhidos. Entre 2006 e 2010, foi nomeado pelo papa Bento XVI como prefeito da Congregação para o Clero, no Vaticano, cargo responsável pela gestão de questões ligadas aos mais de 400 mil sacerdotes em todo o mundo. 

Em 2010, retornou ao Brasil como presidente da Comissão Episcopal para a Amazônia da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), cargo que exerceu até 2019. Nessa posição, ajudou a criar a Rede Eclesial Pan-Amazônica (Repam) em 2014. 

Esteve à frente da questão amazônica durante o impacto da encíclica Laudato Si, editada pelo papa Francisco em maio de 2015, que trouxe forte impulso para o debate sobre a questão ambiental na igreja. Nesse contexto, foi relator-geral do Sínodo para a Amazônia, realizado em 2019. A partir de julho de 2020, presidiu a Conferência Eclesial da Amazônia (Ceama), cargo do qual pediu afastamento em março deste ano, já por problemas de saúde. 

Falando na COP21, em dezembro de 2015, Dom Cláudio manifestou irrestrito apoio ao modo de vida dos indígenas: “é preciso defendê-los, defender seus direitos, dar-lhes de novo a possibilidade de serem os protagonistas de sua história, os sujeitos de sua história. Deles foi tirado tudo: a identidade, a terra, as línguas, sua cultura, sua história, tudo”. 

Homenagens

Nas redes sociais, lideranças políticas e de movimentos populares manifestaram seu pesar.  

"A classe trabalhadora, os mais pobres e o MST perdemos um grande amigo, Dom Claudio Hummes. Ele teve a coragem de enfrentar a ditadura e contribuiu mais recentemente para a eleição do Papa Francisco. Uma vida inteira de luta por justiça e igualdade. Nossos sentimentos", afirmou João Pedro Stedile, do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST)

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) manifestou seu pesar e lembrou das ações de Hummes no ABC e na Amazônia. "Lutou pela preservação da Amazônia e pela demarcação das terras indígenas. Durante as greves do ABC, nos anos 70, desafiou a ditadura abrindo as portas da diocese de Santo André aos operários, para protegê-los da repressão", lembrou. "Seu amor incondicional ao próximo levou-o a se colocar sempre ao lado dos pobres, mesmo nas situações mais adversas."  

"Choro hoje a morte de D. Cláudio Hummes, arcebispo emérito de SP. D. Hummes foi fundamental no apoio à luta sindical nos 80/90 e na defesa da demarcação das terras indígenas na Amazônia, nos 1990. Meus sentimentos à família e a todo o país", afirmou o deputado federal Ivan Valente (PSOL-SP)

A governadora do Ceará Izolda Cela (PDT) manifestou seu pesar e lembrou a passagem de Dom Cláudio como arcebispo de Fortaleza. “Em toda sua vida dedicada ao sacerdócio, dom Cláudio se notabilizou pela justiça social e dedicação à população mais carente.” 

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Edição: Glauco Faria