Ana Júlia Ribeiro (PT) tomou posse como vereadora na Câmara de Curitiba, nesta segunda (4), assumindo a vaga aberta com a cassação de Renato Freitas. Com 22 anos, Ana Júlia é a vereadora mais jovem da história da capital paranaense. Ela ficou nacionalmente conhecida em 2016, como liderança estudantil nas ocupações de colégios estaduais.
A vereadora iniciou seu discurso afirmando não chegar à Câmara "no momento planejado", "nem pelo motivo certo", uma vez que entende o processo contra Renato Freitas como "injusto e desproporcional."
"Renato foi perseguido por sua origem, sua luta e por tudo aquilo que um jovem negro e periférico representa. Se o cassaram por isso, cassaram mal, muito mal, porque também sou vinda da escola pública e do seio da classe trabalhadora, para representar as pautas dos movimentos sociais, para continuar, no que me couber, o trabalho do Renato", afirmou Ana Júlia.
A vereadora disse que irá defender os projetos pautados por Freitas na Câmara, garantindo que continuem tramitando e sejam aprovados. Ana Júlia já adiantou que irá reapresentar requerimento proposto pelo presidente da Câmara, Tico Kuzma, em 2013, concedendo título de cidadão honorário de Curitiba ao ex-presidente Lula.
Visivelmente emocionada durante o discurso, Ana Júlia disse não assumir o mandato sozinha. "Chego acompanhada por lideranças de movimentos sociais que lutam diariamente. Chego com ideias, projetos, sonhos, esperança e uma tarefa honrosa de representar as pessoas que, em 2020, acreditaram na revolução política e no projeto que defendemos", afirmou.
Partido tenta reaver mandato de Freitas
A posse de Ana Júlia para a vaga aberta por Renato Freitas causou protesto da Movimenta Feminista Negra, um movimento de mulheres negras de Curitiba. Isso porque elas defendem que a vaga deixada por um parlamentar negro seja ocupada por representantes também negras.
Na lista de suplências do partido, após Ana Júlia, estaria Angelo Vanhoni e, em terceiro lugar, a Mandata Coletiva das Pretas. A Movimenta Negra defende que Ana Júlia e Vanhoni desistam da vaga para que a terceira suplente ocupe a cadeira.
"Não é justo uma mulher branca assumir o mandato cassado. Nós temos a Mandata das Pretas, que representam as mulheres negras, o povo pobre e periférico", afirmou Telma Mello, representante da Movimenta Negra.
Angelo Vanhoni, presidente do PT de Curitiba, explicou que a luta pela manutenção do mandato de Freitas ainda não acabou. O recurso ao Tribunal de Justiça do Paraná pedindo a anulação da sessão que cassou Freitas foi negado. Na sexta (01), a defesa entrou com um pedido de agravo do recurso.
"Esperamos que nos próximos dias a desembargadora tome decisão favorável. O que restabelece o mandato do vereador Renato Freitas e abre novamente o processo. Enquanto isso perdurar, a primeira suplente é Ana Júlia, que é do PT, e de acordo com as normas deve assumir o mandato", disse.
Segundo Vanhoni, o partido continuará lutando pelo mandato em todas as instâncias cabíveis. "Essa luta não termina hoje. Vamos recorrer ao Superior Tribunal de Justiça e, em última instância, ao Supremo Tribunal Federal. A causa do Renato é uma luta contra o racismo. Não há motivo para a cassação", concluiu.