Quarta onda

Média de casos de covid-19 no Brasil se aproxima dos piores patamares registrados em 2021

País tem mais de 50 mil novas infecções confirmadas a cada 24 horas desde 25/6; subnotificação sugere cenário ainda pior

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |

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Óbitos crescem em ritmo menor por causa da vacinação contra a covid-19 - Vinicius de Melo/Agência Brasília

A média móvel de novos casos de covid-19 no Brasil está acima de 50 mil desde o dia 25 de junho, quando passou a crescer seguidamente. Os registros levaram o total de infecções a mais de 400 mil somente na semana passada, patamar muito próximo ao observado nos meses de colapso sanitário de 2021.

A primeira vez em que o país contabilizou tantos casos ocorreu em fevereiro do ano passado, no início do que viria a ser o período mais grave da trajetória do coronavírus em território nacional. Nos cinco meses seguintes, mais de 250 mil pessoas perderem a vida para a covid-19.

Atualmente, o aumento de novos casos tende a ser ainda maior do que mostram os números oficiais. Autoridades sanitárias alertam há meses para a subnotificação crescente com o uso dos autotestes. Ao contrário de outras nações, o Brasil não estabeleceu mecanismos para incluir os resultados positivos desse tipo de exame nos levantamentos diários.

Com isso, municípios, estados e o governo federal não têm como saber a real proporção das novas infecções e nem qual é o ritmo verdadeiro de propagação do coronavírus em solo nacional.

::Quarta onda de covid já é realidade::

O médico de família e comunidade, Aristóteles Cardona, da Rede Nacional de Médicas e Médicos Populares, conta que na linha de frente do Sistema Único de Saúde (SUS) a percepção de que o coronavírus está se espalhando com mais intensidade é geral e a testagem insuficiente esconde o cenário.

"Dada uma desigualdade nacional que temos, além dessa questão dos autotestes, há locais onde a testagem acontece nas unidades básicas de saúde. Mas tem locais em que diminuiu o acesso. Uso como exemplo aqui, Petrolina (PE), onde atuo. Já tivemos três, quatro pontos de testagem. Hoje, temos um ponto de testagem que vive cheio. Há relatos de quatro ou cinco horas para as pessoas serem testadas. Então as pessoa não vão, desistem."

Vacina salva vidas

No cenário atual, o crescimento dos óbitos não acompanha o ritmo intenso da alta de casos. A vacinação diminuiu consideravelmente as mortes por covid-19 e a quantidade de pacientes em estado grave. Ainda assim, os registros sobem sem parar há três semanas. A média móvel diária é superior a 200 desde a terça-feira passada (28).

O país viveu situação semelhante à atual no início deste ano e chegou a superar 1 milhão de novos casos em sete dias por duas semanas consecutivas no mês de janeiro. Na ocasião, as mortes por covid aumentaram, mas, como agora, não chegaram aos patamares do período de colapso em 2021.

"Só está acontecendo de não termos hospitalização muito grande por conta da vacina, da forma que ela avançou", destaca Cardona. O médico afirma que a resposta do poder público ao crescimento atual de casos não é suficiente. 

"Não tenho a menor expectativa de que instâncias governamentais, dado o período eleitoral, dadas as questões políticas deste momento, vão comprar essa briga e passar a exigir medidas novamente. Lógico que continuamos falando (sobre a proteção) e conversando com as pessoas. Mas está comprovado que isso tem um alcance limitado se não houver política pública, se não houver um estímulo para além de ficar pedindo que as pessoas façam isso."

Cardona cita ainda a necessidade de sensibilização da própria população e da iniciativa privada em geral. "Nós esperávamos o bom senso, mas tenho a impressão de que está acontecendo o contrário. Vez ou outra ouço relatos de pacientes de que empregadores dizem: 'mesmo que esteja com covid', venha. Não sabemos onde isso vai parar, mas não tenho dúvidas de que precisaríamos de novas políticas neste momento."

Edição: Nicolau Soares