CULTURA POPULAR

Em Natal (RN), artistas nordestinos se unem para celebrar os frutos da agricultura familiar

São João potiguar reuniu Mestrinho, Maciel Salú, Lia de Itamaracá, e outros nomes da cultura popular nordestina

Brasil de Fato | Natal (RN) |
O sanfoneiro Mestrinho (SE) foi um dos grandes nomes da primeira Festa da Colheita - Pedro Stropasolas

É pelo embalo da rabeca de Maciel Salú que a música celebra os frutos da agricultura familiar. Em Natal (RN), ele e outros artistas levaram ao São João potiguar a força de uma região construída por camponesas e camponeses.

"A maioria da nossa cultura popular vem dessas pessoas que trabalham na agricultura. E são cortadores de cana que trabalham no roçado. Que está ali plantando feijão, que planta o milho. Então a nossa cultura vem desse povo, desse povo negro. De mulheres negras também que trabalham no roçado, que são empregadas domésticas e são agricultoras", pontua Salú. 

Assista ao vídeo:

A primeira Grande Festa da Colheita reuniu mais de 1.200 agricultores e 32 artistas, em um momento único de celebração da vida no campo. O encontro inédito, com mais de 300 toneladas de alimentos compartilhados e comercializados, aconteceu na primeira edição da Feira Nordestina da Agricultura Familiar e Economia Solidária.

"O São João é uma festa da colheita. A gente celebra a fartura na mesa que não existe nos outros meses, né? É tanto que a gente segue um calendário de plantação. A gente planta em dia de São José e depois colhe a primeira colheita em dia de Santo Antônio, 13 de junho. A segunda colheita, no São João, é dia 24. E se for tudo bom mesmo no final do mês ainda tem a terceira colheita. Para gente também é o momento de afirmação nordestina", explica Max Medeiros, oordenador de produção cultural da Fundação José Augusto (RN) e responsável pela curadoria e seleção dos artistas.

Para o instrumentista Carlos Zens, músicas como o Arapuá no cabelo e o Fuxico de feira são obras que retratam os laços que unem as colheitas e a cultura popular. 

"São músicas que falam desse agreste. Minha mãe é do agreste aqui do Rio Grande do Norte, divisa com a Paraíba. Então isso aí é muito natural, ou o sertão aqui do Seridó, então tudo respira essa produção nativa desses agricultores e guerreiros da agricultura familiar", pontua. 

"Então vamos mostrar que o nosso país é forte na agricultura para mudar esse quadro de miséria, de fome", completa o flautista e exímio arranjador potiguar.


Dona Iza, Carlos Zens e a rainha da ciranda, Lia de Itamaracá, subiram ao palco juntos em Natal (RN) / Pedro Stropasolas

Assim como a de Carlos Zens, a infância de uma grande mestra do Boi de Reis de Natal também foi na agricultura. Ao lado da rainha da ciranda Lia de Itamaracá, Odaiza Pontes Galvão reviveu os festejos juninos de quando era menina. 

"Eu brincava de ciranda, sabe? Nessa época ninguém falava em quadrilha, só falava em ciranda. Botava roupa, às vezes brincava com a roupa mesmo de casa, porque não tinha condição de comprar e assim ia, até hoje", relembra a Guardiã do Auto do Boi de Reis Manoel Marinheiro (RN).

Um dos grandes nomes do evento, o sanfoneiro Mestrinho também celebrou a volta da principal manifestação popular do Nordeste, após dois anos de interrupção em decorrência da pandemia.

Ao Brasil de Fato, ele destaca os segredos da sanfona, instrumento consagrado por seu ídolo Luiz Gonzaga, e que ele revive com maestria em músicas como "Te faço um Cafuné".


"Te Faço um Cafuné" é um dos grandes sucessos do sanfonista / Pedro Stropasolas


"É um instrumento que consagra e que ele (Luiz Gonzaga) colocou uma marca registrada, como instrumento nordestino, instrumento que tem o poder de emocionar as pessoas, né? Dependendo do jeito que você toca esse instrumento, ele vai retribuir muitas coisas boas na sua vida se você souber tratá-lo bem", explica.

Para o sergipano, a celebração da agricultura familiar nordestina também se relaciona com o seu passado. 

"Eu fui criado no sítio da minha vó em Carira, um interiorzão, é o que eu mais sinto saudade hoje, né? De ver todos aqueles cactos, todas aqueles pé de fruta, pinha, enfim, correr no campo livremente, isso é o que eu mais sinto falta hoje e foi um prazer tocar para eles aqui. Todos felizes da vida. E com certeza a gente tem que melhorar muita coisa para que a agricultura cresça cada vez mais no nosso país", finaliza.

 

Edição: Vivian Virissimo