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EUA mantêm grupos de ataque próximos ao estreito de Taiwan e China mobiliza seus porta-aviões

Noite de 2 de agosto é a mais tensa no caso da possível visita da congressista estadunidense Nancy Pelosi a Taiwan

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O porta-aviões da Marinha dos EUA, USS Ronald Reagan (CVN 76), realiza um abastecimento no mar com o petroleiro da frota USNS Pecos, em imagem de 2021 - Jackie Hart/Official U.S. Navy Page/Flickr

A noite desta terça (2 de agosto, horário local) é a mais tensa da recente crise envolvendo a província chinesa de Taiwan e a provocação dos EUA a partir da possível visita da congressista estadunidense Nancy Pelosi.

Segundo a estatal Global Times, os dois porta-aviões do Exército Popular de Libertação saíram de seus portos de origem em direção ao Estreito de Taiwan.

O porta-avião Liaoning foi mobilizado a partir de Qingdao, oeste de Shandong, e o porta-aviões Shandong foi mobilizado a partir de Sanya, na província de Hainan.

De acordo com a CCTV, o porta-aviões Liaoning estaria fora de seu porto devido às comemorações do 95º aniversário do Exército Popular de Liberação, ocorrida na última segunda-feira, primeiro de agosto.

Essa mobilização não é uma simples resposta à viagem de Pelosi. O instituto “Iniciativa de Sondagem do Mar do Sul da China” (SCSPI) vem relatando o aumento na mobilização de voos espiões estaunidenses desde 2009. Segundo um relatório de 2020, são cerca de 3 a 5 voos por dia, representando mais de 1500 voos por ano.

Utilizando-se de rastreamento ADS-B, o mesmo utilizado pela Agência Brasil China para determinar a posição de Nancy Pelosi na última semana, o SCSPI tem determinado a movimentação do USS Ronald Reagan, porta-aviões de propulsão nuclear.

Na última segunda, o instituto divulgou a rota do USS Ronald Reagan entre no mês de julho:

 

Possível localização do Ronald Reagan CSG em Primeiro de Agosto e todas suas rotas de primeiro de julho até primeiro de agosto.

 

Além do USS Ronald Reagan, os EUA mantêm dezenas de bases militares cercando a costa chinesa, que vão desde o mar do Japão até o Oceano Índico.

No momento, além do USS Ronald Reagan, os EUA mantém dois grupos de assalto anfíbio próximos ao Estreito de Taiwan.

Entenda o caso

Taiwan é governado pelo antigo regime chinês da República da China (ROC na sigla em inglês). Em 1949, quando Mao Zedong anunciou a fundação da República Popular da China (PRC na sigla em inglês) em consequência da vitória comunista na Guerra Civil, os partidários do derrotado Jiang Jieshi (Chiang Kai-shek) se isolaram na província de Taiwan. A partir de 1971, a ONU passou a reconhecer o governo da PRC como o único legítimo de toda China, e o regime da ROC como um regime rebelde.

Segundo os acordos estabelecidos entre China e EUA, oficialmente os EUA concordam com a política chinesa de Uma Só China, reconhecendo a soberania chinesa sobre Taiwan. Mas no bojo de sua política dependente da guerra, os americanos são os principais financiadores do governo rebelde de Taiwan, armando e treinando as tropas da província.

Em março deste ano, em uma tentativa de esfriar as tensões, os presidentes da China e dos EUA, Xi Jinping e Joe Biden, realizaram uma conversa telefônica na qual Biden reafirmou o compromisso americano com a política de Uma Só China e disse não apoiar a ‘independência de Taiwan’. Essas palavras, no entanto, entram em contradição com a prática dúbia de Biden sobre a questão, que afirmou em maio que estaria disposto a usar a força para defender Taiwan de uma possível ‘agressão chinesa’.

A conversa de Biden e Xi no telefone ocorreu semanas antes de uma visita bipartidária de legisladores estadunidenses a Taiwan, que voltou a agravar as relações entre os dois países. Na ocasião, uma visita de Pelosi começou a ser anunciada após a declaração do senador democrata Bob Menendez de ‘abandonar Taiwan seria abandonar a democracia e a liberdade’.

No último mês de julho, Biden e Xi voltaram a conversar no telefone, seguindo o mesmo padrão duplo por parte do presidente estadunidense.

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A tensão envolve outros países da Ásia-Pacífico, como Austrália e Japão. Austrália compõe a aliança militar AUKUS, junto com EUA e Reino Unido, e tem se tornado o maior parceiro militar do Japão depois dos EUA.

O Japão, por sua vez, está em uma escalada militarista que sem precedentes no pós-segunda guerra. Em junho deste ano, o primeiro-ministro Fumio Kishida anunciou que o orçamento militar será fixado em 2% do PIB, o que fará saltar da oitava para a terceira posição entre os maiores gastos militares do planeta.

Com o assassinato de Shinzo Abe e a conquista de ampla maioria por parte dos aliados do partido de Kishida em julho de 2022, especula-se que muito em breve o Japão irá remover o status pacifista da sua constituição. A mudança constitucional é almejada há décadas por membros da seita restauracionista imperial, Nippon Kaigi, da qual proeminentes figuras da política japonesa fazem parte, como Shinzo Abe e Fumio Kishida.