Rússia e Ucrânia

Mobilização e referendos: entenda a nova fase do conflito na Ucrânia

Vladimir Putin anunciou uma mobilização parcial dos cidadãos russos para o conflito na Ucrânia

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |
Vladimir Putin realizou movimento de altíssimo risco na madrugada de 24 de fevereiro, ao comandar um ataque militar unilateral à Ucrânia - Yuri Kochetkov/AFP

O presidente russo, Vladimir Putin, declarou nesta quarta-feira (21) que qualquer enfraquecimento da soberania representa uma ameaça para a Rússia. Esta declaração foi no mesmo dia do anúncio da "mobilização parcial" de cidadãos russos na guerra da Ucrânia. 

"Durante 1160 anos, aprendemos firmemente que é mortalmente perigoso para a Rússia enfraquecer temporariamente sua soberania, abandonar os interesses nacionais. Durante esses períodos, a própria existência da Rússia foi ameaçada, mais erros desse tipo não serão esperados de nós. Não vamos sucumbir à chantagem e à intimidação", disse Putin. 

Ele acrescentou que a Rússia foi construída durante séculos como um lar comum e nativo para pessoas de muitas nacionalidades e religiões.

De acordo com o ministro da Defesa, Serguei Shoigu, a primeira onda da mobilização será composta por 300 mil militares que estão na reserva e que já serviram nas Forças Armadas. Estes serão enviados ao campo de batalha. 

Nesse contexto, regiões do leste da Ucrânia sob controle da Rússia confirmaram a realização de referendos sobre adesão à Federação Russa entre 23 e 27 de setembro. 

As autoproclamadas Repúblicas Populares de Donetsk e Lugansk, bem com as regiões de Kherson e Zaporozhie, confirmaram a realização das consultas populares. 

De acordo com o chefe da região de Kherson, Vladimir Saldo, foi estabelecido "um rumo para a reunificação com a Rússia e não vamos nos afastar dele". 

"Com base nos resultados do referendo, vou pessoalmente apelar ao presidente da Federação Russa, Vladimir Vladimirovich Putin, para que seja aprovado legalmente o mais rápido possível, e tenho certeza de que esse procedimento não demorará", afirmou. 

Essas movimentações do Kremlin surgem em meio à anunciada contra-ofensiva da Ucrânia em retomar o controle de territórios no campo de batalha nas últimas semanas. 

O diretor do Instituto Ucraniano de Política, Ruslan Bortnik, em entrevista ao Brasil de Fato, afirmou que, através dos referendos, a Rússia busca "ter tempo de fixar para si esses territórios ocupados" e pode usar essas regiões para uma escalada do conflito.

"Mesmo que a Ucrânia realize mais uma contra-ofensiva bem-sucedida e retome esses territórios ao seu controle, a Rússia vai se basear no resultado desses referendos para provocar ainda mais a guerra nestes territórios por considerá-los como seus", disse. 

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Já o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, disse que a iniciativa de realizar referendos sobre a adesão à Rússia diz respeito ao desejo dos povos que vivem nesses territórios de decidir seu próprio destino.

Ruslan Bortnik lê a afirmação de Lavrov sobre os referendos como uma forma de pressão da Rússia. "O objetivo mais simples desses referendos é a Rússia exercer uma pressão sobre a Ucrânia e os EUA, e provocá-los para levar a um processo de negociação , buscando demonstrar que a Rússia não abriu mão dos seus planos iniciais na guerra, planos de conseguir, de uma forma ou de outra, a rendição ou a desmilitarização da Ucrânia".  

O alerta de uma intensificação do conflito aumenta na medida em que a Ucrânia continua recebendo ajuda financeira do Ocidente, Na última semana, foi confirmado o recebimento de um pacote de 1,5 bilhão de dólares em assistência financeira internacional ao país. 

O presidente norte-americano, Joe Biden, declarou que, através da "ajuda significativa" dos EUA e dos seus aliados a Ucrânia não está perdendo uma guerra, e "estão obtendo ganhos em certas áreas". 

O cientista político Ruslan Bortnik observou que a partir da contra-ofensiva ucraniana, foram determinados os parâmetros da ajuda financeira-militar à Ucrânia pelo Ocidente até o inverno e a primavera do próximo ano. 

"Se a Ucrânia tivesse falhado nessa contra-ofensiva e os parceiros ocidentais deixassem de acreditar na possibilidade da vitória da Ucrânia, ou na resistência prolongada da Ucrânia, o volume da ajuda seria menor", completa. 

Edição: Arturo Hartmann