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Impedidos de votar, brasileiros na Venezuela celebram resultado e prometem reunião no 2º turno

No dia da eleição, o Brasil de Fato acompanhou o encontro de brasileiros que não puderam votar na Venezuela

Caracas (Venezuela) |
Brasileiros se reuniram no centro de Caracas para acompanhar a apuração dos resultados - Lucas Estanislau

O fato de estarem impedidos de votar na Venezuela não impossibilitou que os brasileiros que vivem no país se mobilizassem no primeiro turno das eleições presidenciais. Cerca de 100 pessoas, entre estudantes, trabalhadores e membros de movimentos populares se reuniram no último domingo (2) no bairro de San Agustín, centro da capital Caracas, para acompanhar a apuração dos resultados e se manifestar politicamente.

Com música, dança, palavras de ordem e debates a comunidade brasileira reunida celebrou a votação no Brasil e prometeu permanecer mobilizada até o dia 30 de outubro, quando Lula (PT) e Jair Bolsonaro (PL) se enfrentarão no 2º turno.

Em entrevista ao Brasil de Fato, Simone Magalhães, brasileira que vive em Caracas e é coordenadora da brigada do MST no país, disse que mesmo sem poder votar os cidadãos que estão em território venezuelano podem participar do debate político e expressar seus posicionamentos com mobilizações.

"Nós estamos aqui emanando nossas energias porque sabemos que a luta que a sociedade brasileira está fazendo hoje é para restabelecer a democracia em nosso país. Então mesmo não tendo o direito de votar garantido, nós estamos com o nosso povo organizado, o povo brasileiro, o povo sem terra, reconhecendo que nessas eleições a democracia precisa ser restabelecida, estamos conscientes e trabalhando intensamente para isso", disse.

Simone ainda destacou a união dos brasileiros que vivem na Venezuela e prometeu novas mobilizações para o 2º turno, afirmando que espera que o próximo governo brasileiro retome as relações com o país vizinho.

"Dia 30 estaremos aqui novamente porque somos brasileiros conscientes, sabemos qual é a importância dessas eleições e vamos contribuir daqui na medida do possível, conversando com nossos familiares, amigos, porque isso é muito importante, conscientizar a população brasileira sobre a importância dessas eleições e também das consequências para a América Latina, porque nós queremos que o próximo governo não demore em reatar as relações diplomáticas com a Venezuela", afirmou.

Entre momentos de apreensão e celebração, os brasileiros estiveram atentos também aos resultados legislativos e estaduais. Tiago Coelho, estudante de medicina da Escola Latino-Americana de Medicina Dr. Salvador Allende, disse que ficou muito feliz ao saber do encontro para acompanhar a apuração e fez questão de revelar em quem teria votado caso tivesse a oportunidade.

"É de uma importância imensa a gente conseguir reunir esse núcleo para poder comemorar esse momento. Eu falo comemorar porque a gente já viu que o povo brasileiro quer o Lula, quer democracia e liberdade de expressão, então a gente poder se reunir aqui para compartilhar esse momento é de extrema importância", disse.

Itamaraty impede votação

Mais de 1,3 mil eleitores brasileiros foram impedidos de votar na Venezuela. Por decisão do Ministério das Relações Exteriores, as urnas que viriam para a Venezuela foram enviadas para a embaixada em Bogotá, na Colômbia. Isso porque o Brasil não mantém sedes diplomáticas funcionando em território venezuelano desde 2020.

Segundo apurou o Brasil de Fato, a decisão do Itamaraty divergiu da posição do TRE-DF, órgão responsável por organizar as eleições no exterior, que iria dispensar a votação no país por ausência de locais apropriados para receber os eleitores e as urnas.

Para Simone, a impossibilidade de votar no país fez com que ela e outros brasileiros se sentissem impedidos de exercer sua cidadania e manifestar suas vontades políticas através da escolha de um dos candidatos presidenciais.

"É uma consequência nefasta da atual política externa brasileira e de uma crise que foi instalada desde o golpe contra Dilma [Rousseff], que esse governo atual estendeu. Para nós, não poder votar aqui é uma violência e eu atribuo essa violência ao governo atual", disse.

Edição: Thales Schmidt