Mobilização

Contra intervenção militar internacional, haitianos vão às ruas

Após anúncio do premiê Ariel Henry, EUA e Canadá enviaram veículos blindados ao país caribenho

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Protesto no Haiti - Richard Pierrin / AFP

Milhares de pessoas saíram às ruas das principais cidades do Haiti nesta segunda-feira (17/10) para exigir a renúncia do primeiro-ministro Ariel Henry e protestar contra a intervenção internacional solicitada pelo premiê para enfrentar a crise política e humanitária no país. 

Segundo o portal Telesur, a iniciativa das manifestações foi do grupo político "Pitit Desalin" e seu líder, Jean Charles Moïse, lembrando a data de assassinato do líder da revolução haitiana, Jean Jacques Dessalines, em 17 de outubro de 1806. 

De acordo com a organização, Henry “é incapaz de resolver os problemas de inflação, insegurança e organização de eleições” no país. 

No último domingo (16/10) o país chegou a receber um lote de veículos blindados vindos do Canadá e dos Estados Unidos para apoiar a polícia local. A equipe deve enfrentar gangues que controlam há um mês o terminal de combustível mais importante da capital Porto Príncipe, dificultando a economia e o bombeamento de água potável para comunidades imersas em violentos protestos populares e um crescente surto de cólera.

Segundo um comunicado da Embaixada dos EUA em Porto Príncipe e as ministras do Canadá para Relações Exteriores e Defesa Nacional, Mélanie Joly e Anita Anand, consecutivamente; e Antony Blinken e Lloyd Austin, Secretário de Estado, e de Defesa dos EUA, a chegada de equipamentos vai continuar até a próxima sexta-feira (21/10) com o “objetivo de apoiar a polícia local e proteger os cidadãos haitianos".

Em 8 de outubro, o governo haitiano autorizou a possibilidade de solicitar intervenção militar estrangeira para lidar com a crise humanitária no país. Segundo o documento, o objetivo da intervenção militar estrangeira seria deter, em todo o país caribenho, a crise "causada principalmente pela insegurança derivada da atuação das quadrilhas e gangues". 

O pedido de assistência militar foi solicitado após semanas consecutivas de protestos no país, que se agravaram devido ao aumento dos preços e ao ressurgimento da violência nas ruas. 

Por sua vez, a resolução sobre a intervenção militar gerou críticas entre organizações de direitos humanos e demais personalidades políticas, considerando que “a soberania do país caribenho está em jogo”.

Contexto da crise política e humanitária 

De 2004 a 2017, as Nações Unidas implantaram equipes de Forças de Manutenção da Paz no país após o golpe de estado contra o então presidente Jean Bertrand Aristide (2001-2004). Porém para muitas organizações sociais e políticas, a ocupação foi um fracasso devido a denúncias de estupro, introdução de cólera, além de não atingir os objetivos de pacificação do país. 

Já em julho de 2021, o então presidente do Haiti, Jovenel Moïse, foi assassinado dentro da própria casa. Desde então, o país enfrenta uma crise política na sequência de nomes que ocuparam o cargo de chefe de Governo do país. 

Logo após a morte de Moïse, o primeiro-ministro vigente, Claude Joseph, assumiu o cargo, mas após duas semanas em governo, anunciou sua renúncia para que Ariel Henry, premiê indicado por Moïse pouco antes de sua morte, pudesse assumir a administração do país.

Desde então, Henry tem como responsabilidade convocar uma Constituinte e eleições, no entanto, não o realizou até o momento. Em janeiro deste ano, o Comitê Nacional de Transição do Haiti elegeu o economista Fritz Alphonse Jean como primeiro-ministro interino e Steven Benoit como presidente de transição do país. Porém, tais resultados não são reconhecidos pelo atual premiê. 

(*) Com Telesur e Brasil de Fato.