agressões e ofensas

Homofobia: aluno petista recebe carta com ameaça de morte em faculdade no Mato Grosso

Vítima afirma que episódio pode ter a ver com o contexto eleitoral; ele foi chamado de "petista vagabundo"

Brasil de Fato | Rio de Janeiro (RJ) |
Apostila de estudante foi rabiscada com ofensas - Arquivo pessoal

"Bicha que fede a promiscuidade", "viado (...) tem que morrer", "petista vagabundo". Essas são apenas algumas das ofensas dirigidas a um estudante ameaçado de morte dentro da própria faculdade, por carta. Ele é aluno do curso de Direito da Unifacc, universidade privada de Mato Grosso.

O estudante, que prefere não se identificar, contou que a carta com as ameaças e ofensas foi colocada dentro de uma apostila de estudos. O material ficou perdido por mais de uma semana, até que foi encontrado por uma colega de curso. As folhas foram rabiscadas e outras ofensas foram escritas em meio aos textos didáticos.

A vítima relatou que teve discussão com um professor que foi acusado de assédio por alunas do curso. Ele se envolveu no caso, que culminou com a demissão do docente. O caso prosseguiu, e um coordenador, amigo do professor demitido, discutiu com o estudante. Esse coordenador veio a pedir demissão na sequência.

"Tivemos discussão bem acalorada na frente de toda a turma e no dia seguinte o professor pediu demissão. Nesse mesmo dia a noite minha apostila apareceu na faculdade, estava toda rabiscada, com ofensas, e tinha carta dentro, repleta de ameaças de morte, dando prazo pra ir embora do Mato Grosso, sair da faculdade por que ia morrer", contou ao Brasil de Fato.

O aluno, que está afastado da faculdade desde o último dia 18, quando recebeu as ameaças, acredita que todo o episódio pode ter relação com o posicionamento político dele.

"Foram algumas ameaças homofóbicas, xingamentos em relação a meu posicionamento político, que é algo público, todo mundo da minha faculdade sabe. Estamos vivendo momento em que tudo está muito polarizado. Eu e mais duas ou três pessoas [no grupo de alunos] nos colocamos contra esse governo atual. Eu acredito que de fato isso possa ter uma relação com o ocorrido", afirmou.

O estudante procurou a coordenação da faculdade e está afastado das atividades. Ele cogita até abrir mão de concluir o semestre de aulas, que termina no próximo mês. O Brasil de Fato entrou em contato com a Unifacc e a nota emitida pode ser lida ao final da reportagem.

Vítimas devem denunciar

Após a carta com as ameaças, o estudante da faculdade matogrossense registrou boletim de ocorrência e procurou apoio jurídico. A advogada Amanda Baliza, coordenadora da área jurídica da Aliança Nacional LGBTI+, acompanha o caso.

"Infelizmente chegam casos de violência ou discriminação quase todos os dias, inclusive contra crianças e adolescentes LGBTI+. A desinformação no processo eleitoral tem potencial de instigar a violência", destacou.

Amanda reitera a importância de registrar casos como esse junto às autoridades. A Aliança Nacional LGBTI+ acionou o Ministério Público e a polícia para que a situação seja investigada e o agressor identificado.

"Em uma situação de ameaça é importante registrar o crime em alguma delegacia. Se houver contornos de discriminação é possível que outros crimes sejam registrados, como, por exemplo, racismo, homofobia, transfobia, etc. Outras medidas podem ser adotadas dependendo do caso em concreto, o que deve ser analisado por um advogado ou defensor público", complementou.

Leia abaixo, na íntegra, o posicionamento enviado pela Unifacc -MT: 


A União das Faculdades Católicas de Mato Grosso (Unifacc-MT) torna público de forma categórica o posicionamento da Instituição de Ensino Superior contra a ameaça anônima sofrida por um estudante do Curso de Direito, em Várzea Grande. A Unifacc, que tem entre os valores a promoção da paz e de valorização da diversidade humana, repudia essa execrável e condenável situação que atenta a integridade física, psicológica e emocional do estudante. 

A Direção da IES, além de continuar investigando internamente o fato, se coloca à disposição das autoridades para colaborar e contribuir na elucidação do caso para que os responsáveis pelo ato sejam devidamente punidos conforme prevê a legislação penal. 

Como instituição de ensino que atua na formação profissional de pessoas, a Unifacc-MT defende o respeito a todos os acadêmicos e acadêmicas, independente de orientação sexual, etnia, religião ou posicionamento político. Assim, qualquer atitude que reproduza a intolerância, discriminação e o preconceito continuará sendo declaradamente repudiada e combatida pela organização de ensino.  

A Unifacc-MT, a Católica de Mato Grosso, por meio da Coordenação Pedagógica, está prestando todo tipo de assistência ao acadêmico, e assegura que não será tolerante com a situação e tomará medidas cabíveis e pontuais no âmbito educacional baseadas no regimento da IES.

Edição: Rodrigo Durão Coelho