ELEIÇÕES EM SP

Chefe da segurança de Tarcísio defendeu PM em massacre com nove mortes em Paraisópolis em 2019

Corte Interamericana de Direitos Humanos condenou ação da PM, mas aliado de bolsonarista saiu em defesa de ex-colegas

Brasil de Fato | Brasília (DF) |
Ex-policial e ex-vereador de Campinas (SP), Nelson Santini Neto é sócio das empresas que fazem segurança de candidato bolsonarista em SP - Reprodução

O ex-policial militar Nelson Santini Neto, dono da CampSeg Vigilância e Segurança Patrimonial e presidente da AutoDefesa Brasil, empresas de segurança que atuam na campanha do candidato a governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), defendeu a Polícia Militar no caso que deixou nove jovens mortos em Paraisópolis, no Baile da 17, em dezembro de 2019.

Na ocasião, Santini saiu em defesa dos policiais que atuaram na operação, que foi duramente criticada pela Comissão Interamericana de Direito Humanos, da Organização dos Estados Americanos (OEA), por organizações, movimentos populares e entidades da sociedade civil, e até mesmo pelo então governador João Doria (PSDB), que ordenou "apuração rigorosa".

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Um relatório da própria Corregedoria da PM-SP concluiu que agentes da corporação foram responsáveis pela perda da vida dos nove jovens.

No entanto, em texto com forte tom de sarcasmo, publicado nas redes sociais, Santini chegou a insinuar que a responsabilidade era do "ex-prefeito que dizia que funk era expressão cultural", em referência a Fernando Haddad (PT). Hoje, o petista enfrenta Tarcísio no segundo turno da eleição ao Palácio dos Bandeirantes.

Execução em Paraisópolis

Agora, o ex-policial e empresário de segurança privada se viu novamente obrigado a se posicionar em uma discussão que envolve morte, também em Paraisópolis.

Desta vez, Santini é figura-central no tiroteio que interrompeu a agenda do ex-ministro bolsonarista e matou Felipe Lima, de 27 anos. Ele chegou a chamar o caso de "atentado", apesar de a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo ter negado a possibilidade.

O jovem foi assassinado por um policial militar na rua Manoel Antônio Pinto, que fica a cerca de 100 metros do Polo Universitário de Paraisópolis. A vítima tinha passagem por roubo à residência e assalto à mão armada. O Boletim de Ocorrência lavrado pela Polícia Civil, na 88ª Delegacia de Polícia mostra ainda que agentes adulteraram a cena do crime antes da chegada da perícia.

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Nesta quinta-feira (27), o Intercept Brasil revelou que o segurança de Tarcísio que coagiu um cinegrafista da Jovem Pan a apagar imagens do episódio é Fabrício Cardoso de Paiva, um agente da Agência Brasileira de Inteligência (Abin).

Em resposta, o ex-ministro bolsonarista divulgou uma nota em que confirma a identidade do agente e afirma que Paiva está licenciado do cargo na Abin, sem remuneração do órgão, e que não exerce nenhuma função em nome da agência.

O episódio foi inicialmente rotulado como "atentado" por bolsonaristas – inclusive, Nelson Santini Neto –, principalmente pela Jovem Pan, emissora de TV ligada à extrema-direita brasileira, que passou o dia noticiando o episódio como um ataque direto à comitiva do candidato.

Nos últimos 10 dias, contudo, evidências têm apontado uma possível participação da equipe de segurança do candidato bolsonarista na morte em Paraisópolis.

Nelson Santini Neto é irmão de um dos assessores mais próximos de Bolsonaro, o advogado José Vicente Santini, que chegou a ser destituído do cargo de secretário-executivo da Casa Civil, em janeiro de 2020, por utilizar um dos aviões da Força Aérea Brasileira (FAB) para voar da Suíça à Índia. Hoje, ele é assessor especial da Presidência da República.

Os irmãos Santini são filhos do general do Exército Nelson Santini Júnior, amigo próximo de Jair Bolsonaro. Ambos teriam se conhecido na Escola de Artilharia do Exército, no Rio de Janeiro, ainda na década de 1970.

Edição: Thalita Pires