Primeiros contatos

Meio ambiente se destaca nas expectativas internacionais com o Brasil após eleição de Lula

Propostas e primeiras declarações incluem controle do desmatamento da Amazônia e acordos comerciais não predatórios

Brasil de Fato | Buenos Aires, Argentina |

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Lula é recebido por outros mandatários como um grande líder regional no combate à emergência climática e nas relações internacionais. - PT/Ricardo Stuckert

Poucas horas após o resultado das urnas designarem Luiz Inácio Lula da Silva (PT) como próximo presidente do Brasil, a partir de 1º de janeiro do ano que vem, as articulações internacionais já tiveram início.

Além de receber as felicitações e o reconhecimento pela vitória – Lula é o presidente eleito com mais votos na história do país, superando 60 milhões de votos –, o petista foi buscado por chefes de Estado de diferentes regiões para alinhamentos sobre diversos temas, em especial, o ambiental.

Agenda ambiental

Visto como um líder de enorme capacidade para as relações internacionais e como um mandatário que já superou o desafio de reduzir o desmatamento na Amazônia, Lula foi convidado pelo presidente do Egito, Abdel Fatah al-Sissi, para participar pessoalmente da Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, a COP27.

O convite não foi dirigido ao atual presidente e o evento acontece na próxima semana, entre os dias 6 e 18 de novembro, na cidade de Sharm El Sheikh. A presidenta do Partido dos Trabalhadores, Gleisi Hoffmann, confirmou nesta terça-feira (1) que Lula comparecerá ao evento. Na ocasião, terá a oportunidade de discutir pessoalmente com chefes de Estado do norte global sobre a agenda política externa do próximo governo.

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Um dos sinais mais importantes e frequentes nas mensagens dirigidas ao presidente eleito consistem em pautas ambientais. O tema foi citado nas felicitações por redes sociais pela presidenta da Comissão Europeia Ursula von der Leyen, pelo presidente estadunidense Joe Biden, pelo mandatário espanhol Pedro Sánchez e pelo chanceler alemão Olaf Scholz.

O presidente colombiano Gustavo Petro foi mais enfático em sua mensagem, publicada no Twitter, e definiu quatro temas que tem interesse em desenvolver com o novo presidente brasileiro para alinhar uma agenda de políticas ambientais. O primeiro ponto consiste no “resgate da selva amazônica e sua pesquisa científica”. O segundo diz respeito ao “caminho de uma nova política antidrogas não violento”. O terceiro, “a rede integrada de energia elétrica da América com energias limpas” e, por último, “a integração econômica latino-americana”.

A Colômbia é o segundo país, depois do Brasil, cujo território contempla a maior parte da floresta amazônica, que abarca nove países (Brasil, Colômbia, Bolívia, Venezuela, Peru, Guiana, Suriname, Equador e Guiana Francesa, respectivamente).

 

Além disso, a Alemanha e a Noruega sinalizaram na segunda e na terça-feira (01/11), respectivamente, que pretendem desbloquear as verbas destinadas ao Fundo Amazônia. Os repasses foram suspensos após o governo Bolsonaro extinguir unilateralmente dois comitês que eram responsáveis pela gestão do fundo, rompendo o acordo entre os países que definia as regras do projeto. 

Perspectivas da política internacional do 3º governo Lula

O presidente argentino Alberto Fernández, que visitou Lula no dia seguinte à eleição, reforçou a expectativa de uma integração entre os países latino-americanos com um “líder regional muito importante”, referindo-se a Lula. Como grandes parceiros comerciais, este foi um sinal de que Argentina e Brasil podem, também, contar com um novo horizonte de relação bilateral, em parte rompida por Jair Bolsonaro (PL). A campanha do atual presidente esteve, inclusive, fortemente apoiada em desinformação sobre a Argentina e o governo peronista.

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Lula já vinha ressaltando em sua campanha a proposta de fortalecer a integração regional, com foco na Celac (Comunidade dos Estados Latino-americanos e Caribenhos), Mercosul e no G20. No início do ano, em visita ao México, Lula discutiu sobre esses temas com o presidente Andrés Manuel López Obrador (AMLO), projetando a Celac como um bloco de interação com a União Europeia, a China e os Estados Unidos.

Além disso, aposta por um “comércio internacional mais justo”, citando parcerias com Estados Unidos e União Europeia a partir de novas bases. “Não nos interessa acordos comerciais que condenem o nosso país ao eterno papel de exportador de commodities e de matéria-prima”, disse Lula em seu primeiro discurso após ser eleito, destacando a necessidade de reindustrializar o Brasil e investir na economia verde e digital, além de exportar inteligência e conhecimento.

Em seu pronunciamento, Lula também ressaltou seu compromisso com a retomada do Brasil como um país respeitado no exterior e em suas relações internacionais.

“Nas minhas viagens internacionais, e nos contatos que tenho mantido com líderes de diversos países, o que mais escuto é que o mundo sente saudade do Brasil. (...) O Brasil que apoiou o desenvolvimento dos países africanos por meio de cooperação, investimento e transferência de tecnologia. Que trabalhou pela integração da América Latina, América do Sul e do Caribe, que fortaleceu o Mercosul e ajudou a criar o G20, a Unasul, a Celac e o Brics”, destacou.

No quesito ambiental, Lula relembrou que, em seus governos anteriores, conquistou a marca de 80% de redução do desmatamento da Amazônia e de gases do efeito estufa. E lançou uma das propostas mais ambiciosas de seu discurso: o desmatamento zero. “Vamos retomar o monitoramento e a vigilância da Amazônia e combater toda e qualquer atividade ilegal, seja garimpo, mineração, extração de madeira ou ocupação agropecuária indevida.”

Segundo fontes do partido, os alinhamentos sobre a articulação internacional ainda estão em fase de planejamento, portanto, ainda não há maiores detalhes sobre novos convites ou reuniões com representantes de outros países por parte do presidente eleito.

Edição: Glauco Faria