Transição

"Não é papel das Forças Armadas fazer avaliação política", diz Gleisi Hoffmann

Durante coletiva nesta sexta (11), petista disse que equipe de transição produzirá relatório sobre situação do Executivo

Brasil de Fato | Brasília (DF) |
"O direito de manifestação não cabe a quem atenta contra a Constituição", afirmou Gleisi Hoffmann durante coletiva nesta sexta (11) - Magno Romero

A coordenadora do Conselho Político da equipe de transição de governo, deputada Gleisi Hoffmann (PT-PR), criticou, nesta sexta (11), as manifestações de comandantes das Forças Armadas em que estes condenam "eventuais excessos cometidos em manifestações" e, ao mesmo tempo, amenizam o caráter golpista dos protestos que questionam o resultado das urnas. Hoffmann, presidenta nacional do PT, disse que a iniciativa foge à postura esperada das instituições militares.

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"Não é papel dos comandantes das Forças Armadas fazerem avaliação política, se posicionarem politicamente e nem fazerem avaliação sobre as instituições republicanas. E o direito de manifestação não cabe a quem atenta contra a Constituição. Isso é uma leitura clara. Temos que defender a Constituição e a democracia. Mas vejo isso como um fato desses comandantes deste governo [Bolsonaro], e um fato que tende a ser isolado. Não acredito que a totalidade das Forças Armadas pense assim." 

Depois de uma série de ataques do presidente Jair Bolsonaro (PL) ao sistema eleitoral, o Ministério da Defesa publicou, na última terça-feira (9), um relatório em que admitiu o resultado proclamado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Apesar disso, a pasta publicou nota na quinta-feira (10) dizendo não excluir a chance de "fraude ou inconsistência nas urnas eletrônicas", o que ajudou a incentivar os protestos golpistas pelo país.

Nesta sexta (11), os comandantes Almir Garnier Santos, da Marinha; Marco Antônio Freire Gomes, do Exército; e Carlos de Almeida Baptista Junior, da Aeronáutica, publicaram uma nota conjunta em que mandam recados indiretos ao Poder Judiciário, sistematicamente atacado por Bolsonaro e apoiadores. O documento tem como pano de fundo uma disputa travada pelos extremistas de direita com o presidente do TSE, Alexandre de Moraes, por discordância em torno de decisões tomadas pela Corte.

Mercado

Ao ser questionada por jornalistas, a presidenta do PT também comentou, nesta sexta, a reação do mercado financeiro na quinta (10) após a declaração de Lula (PT) sobre a estabilidade fiscal. Depois de o presidente eleito defender prioridade para investimentos sociais em detrimento da ideia de estabilidade fiscal, houve queda de 3,35% na Ibovespa e o dólar disparou a R$ 5,396. Os resultados foram associados pela grande mídia empresarial à declaração de Lula. A petista disse que recebeu a postura do mercado com "espanto".  

"Eu não sei o que o presidente Lula falou que pudesse fazer uma avaliação tão grande do sentimento de mercado. Aliás, hoje todos os indicadores de dólar voltaram à normalidade. Então, foi um movimento especulativo, o que é muito ruim pro país. O mercado não tem que se preocupar, conhece quem é Lula, sabe como ele trabalha com as finanças públicas, a responsabilidade que tem, e também conhece o compromisso social que ele tem. Ele falou isso durante a campanha inteira", afirmou Gleisi.

Conselho Político

Gleisi falou sobre o assunto durante coletiva concedida à imprensa após a primeira reunião do conselho político que atua na transição. O grupo se reuniu na sede do Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), onde operam os trabalhos da transição, e conta com representantes dos 14 partidos que hoje integram a equipe. A lista das siglas conta com PT, PDT, PSB, Psol, PCdoB, Cidadania, Agir, PV, Avante, PSD, Pros, Rede, Solidariedade e MDB.

"A reunião foi muito boa e serviu pra que a gente pudesse esclarecer com os partidos como estão se dando o processo de transição, a composição dos grupos de trabalho, a participação dos partidos e o papel desse conselho, que é um papel de orientar politicamente, discutir os problemas que se tem, ajudar a encontrar soluções, sabendo que o processo de transição é um processo de diagnóstico", afirmou a coordenadora do coletivo.


MDB foi único partido dos 14 integrantes da equipe de transição que esteve ausente nesta sexta (11); segundo Hoffmann, sigla participará das próximas reuniões / Magno Romero

De acordo com Hoffman, as equipes dos núcleos temáticos que atuam no CCBB vão trabalhar na produção de diagnósticos que irão compor um relatório final a ser entregue ao vice-presidente eleito, Geraldo Alckmin (PSB), escolhido por Lula como coordenador da transição. A ideia é mapear a situação da administração pública federal nas mais diferentes áreas para organizar e consolidar informações que subsidiem a tomada de decisão no âmbito do próximo governo.

Segundo a presidenta do PT, a equipe irá levantar dados como estrutura e atual organização do Poder Executivo federal, órgãos e pastas que foram desmembrados ou anexados a outros, identificar os principais problemas e analisar contratos em andamento, portarias e outros dispositivos que ajudam a mostrar qual a atual situação da máquina de governo.   

A petista explicou que o conselho político, por exemplo, não tem papel propositivo. "Não é onde estamos debatendo programas e propostas de governo. Claro que tem algumas propostas que vamos ter que oferecer no início do governo pra solucionar problemas, mas é pra diagnosticar", disse, ao informar que o grupo voltará a se reunir na próxima quinta-feira (17). O terceiro encontro dos integrantes está marcado para ocorrer no dia 24 deste mês.

Edição: Thalita Pires