Feira das Graças

Primeira feira agroecológica de Pernambuco completa 25 anos de histórias e comida de verdade

A experiência gerou uma rede estadual de comercialização agroecológica que reivindica mais investimentos públicos

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Através da economia solidária, alimentos orgânicos são comercializados desde 1997 no bairro das Graças, no Recife
Através da economia solidária, alimentos orgânicos são comercializados desde 1997 no bairro das Graças, no Recife - Sara Brito
O Centro Sabiá esteve presente desde o início da criação da primeira feira e criou um ‘know-how'

A primeira feira agroecológica de Pernambuco comemora 25 anos comercializando comida sem veneno. O Espaço Agroecológico do bairro das Graças, na zona norte do Recife, reúne feirantes de diferentes municípios do estado, que produzem desde alimentos in natura até produtos beneficiados, como bolos e pães. Toda a produção é feita com alimentos saudáveis, respeitando a natureza e favorecendo a economia solidária. 

O agricultor familiar e coordenador da feira Adeildo Barbosa da Silva mora em Bom Jardim, no agreste pernambucano, e participa da feira desde o início, em 1997.

"Foi bastante difícil, porque chegou no início aqui e teve bastante resistência, os agricultores foram convidados a sair daqui, como se fosse na 'carrocinha' mesmo, sair daqui. Então, houve resistência, os agricultores resistiram e hoje nós conseguimos essa rua aqui e estamos aqui há 25 anos", lembra Adeilda.

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Já a agricultora Jocilene Naria Ferreira, de Gravatá, também no agreste pernambucano, participa da feira há 18 anos. Ela comercializa produtos beneficiados a partir de alimentos que sua família produz, como pães, bolos e esfirras. Para a agricultora, as feiras aproximam os produtores e produtoras de quem consome, transformando a venda em uma relação quase familiar. 

“No supermercado, a gente chega, compra, paga e vai embora. Aqui a gente já tem uma relação mais familiar de comprar, perguntar, a gente informar os nutrientes, as proteínas, os benefícios, principalmente de ervas e os poderes medicinais que elas tem e aquele convívio. A gente acha que é um núcleo familiar, mesmo, porque tem cliente que já faz parte do núcleo familiar da gente. não é nem cliente, é família mesmo”, relata Jocilene.

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Rede

A feira faz parte da Rede Espaço Agroecológico, que foi criado com a auto-organização de agricultores e agricultoras familiares que contaram, desde o início, com o apoio e a assessoria técnica do Centro Sabiá, uma organização não-governamental que trabalha a promoção da agricultura familiar a partir da agroecologia.

Com o objetivo de criar um sistema alternativo de abastecimento de base agroecológica, a semente plantada no bairro recifense das Graças, em 1997, se transformou nas mais de 150 feiras agroecológicas que estão espalhadas em todo o estado, sendo 55 apenas na capital pernambucana.

Flávio Duarte faz parte do Centro Sabiá e atua na assessoria técnica das feiras. Para ele, ainda falta investimento público para o seu fortalecimento.

"O Centro Sabiá esteve presente desde o início da criação da primeira feira e criou um ‘know-how’ em termos de assistência técnica e também de apoio à realização dessas feiras, mostrando que é possível ter esse tipo de ação massificada em toda a região nordeste", afirma Flávio.

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Proposta 

Na contramão do modelo de exploração dos atravessadores, do uso excessivo de agrotóxicos ou dos produtos ultraprocessados da indústria alimentícia, os 25 anos da Feira representam uma conquista para os produtores e produtoras e para a soberania alimentar.

"Eu tenho orgulho de levar alimentos saudáveis para a mesa de várias pessoas, principalmente de pessoas com câncer, crianças, pessoas com outros tipos de doença que não podem se alimentar com agrotóxicos e até para quem não tem nenhum tipo de doença e está se prevenindo. Porque a gente sabe o quanto o agrotóxico agride e as sequelas que ele também deixa", aponta Jocilene. 

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Conheça

A chamada "Feirinha das Graças" acontece todos os sábados, a partir das primeiras horas da madrugada e segue até às 9h da manhã, na Rua Souza de Andrade, no bairro das Graças, no Recife. 

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Edição: Daniel Lamir