CATAR 2022

Como a Copa do Mundo pode aquecer a economia do país vencedor

Campeonatos anteriores mostram que essa conquista aumenta o PIB das nações que levam a taça

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França e Argentina se enfrentam neste domingo em busca do tricampeonato mundial de futebol no Catar - Giuseppe Cacace /AFP

Durante quatro semanas, a Copa do Mundo do Catar atraiu a atenção do mundo e, depois da final realizada neste domingo (18/12), o torneio chega ao fim. Mas o Catar, de longe o menor país a sediar uma Copa do Mundo, será confrontado com olegado do torneio pelas próximas décadas.

Vários estudos já foram publicados nos últimos anos sobre o impacto econômico de sediar grandes torneios esportivos, como a Copa do Mundo ou os Jogos Olímpicos. Em geral, os efeitos foram considerados pequenos ou de curta duração.

Para o país que vence o torneio, os efeitos ainda são pouco conhecidos. Neste domingo, argentinos ou franceses irão fazer festa quando um deles vencer a final. Mas esse fator único de bem-estar e alegria pode ser convertido em um bônus econômico tangível?

Ganhos além da Copa

Nos últimos 30 anos, cinco países diferentes venceram as sete Copas do Mundo realizadas neste período: Brasil (1994 e 2002), França (1998 e 2018), Itália (2006), Espanha (2010) e Alemanha (2014).

Em seis destas sete nações, o país registrou um aumento na taxa de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) no ano da conquista em relação aos dois anos anteriores e posteriores.

Em 1994, o Brasil registrou uma taxa de crescimento de 5,9%, muito maior do que nos dois anos anteriores e seguintes. O mesmo aconteceu em 2002, quando a taxa de crescimento de 3,1% superou o 1,4% e 1,1% registrados em 2001 e 2003, respectivamente.

Esta é a quarta vez em que a França disputa uma final nos últimos 30 anos. Em 1998, quando conquistou sua primeira Copa do Mundo, a economia do país, que também sediou o evento, cresceu 3,6% – mais do que em 1997 e 1999. Os franceses voltaram a vencer em 2018, mas desta vez o crescimento do PIB caiu de 2,3% para 1,9% em comparação com o ano anterior.

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A Itália venceu a Copa de 2006, ano em que sua economia cresceu 1,8% e superou as taxas de 0,8% e 1,5% registradas em 2005 e 2007, respectivamente. A Alemanha teve sucesso semelhante em seu ano de glória, 2014. A economia alemã cresceu 2,2%, bem acima dos 0,4% de 2013, e do 1,5% de 2015.

Até a Espanha, que venceu o campeonato em 2010 em meio a uma grande recessão global decorrente de uma crise financeira, aparentemente se beneficiou do bônus da Copa do Mundo: sua economia cresceu 0,2% naquele ano, 4 pontos percentuais a mais que no ano anterior e 1 ponto percentual a mais do em 2011.

Mas a vitória na Copa do Mundo seria a verdadeira razão para esse crescimento ou seria apenas uma coincidência?


Torcedoras argentinas assistindo à final da Copa do Mundo do Catar / Luis Robayo / AFP

Efeito provocado ou somente economia

Na época da Copa do Mundo de 2014, o colunista da Forbes Allen St John escreveu: "Nos meses que se seguem a uma vitória na Copa parece haver um aumento de produtividade de curta duração." No entanto, acrescentou: "Pense nisso como o equivalente nacional do efeito de comer um doce, com um pico de energia de curta duração seguido por um esgotamento dessa energia."

Certamente, é fácil imaginar esse efeito. Bares e restaurantes lotados por dias e semanas após a vitória. Empresários tentando canalizar a confiança e o brio dos jogadores lançando metas audaciosas que talvez não fariam antes.

No entanto, os poucos dados acadêmicos que existem sobre o tema apontam em outra direção. Uma pesquisa realizada antes do Mundial deste ano pela Universidade de Surrey, no Reino Unido, descobriu que os saltos do PIB após a vitória na Copa são atribuídos a um aumento nas exportações, e não no consumo interno ou investimento.

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O estudo mostrou que há um aumento do PIB nos primeiros dois trimestres após a vitória, quando a força da marca do país vencedor aumenta significativamente a popularidade de suas exportações.

"As evidências reforçam a ideia de que o sucesso em uma das competições esportivas internacionais mais vistas e prestigiadas tem o potencial de afetar o ciclo de negócios", conclui Marco Mello, autor do estudo.

A pesquisa comparou os dados de crescimento dos países vencedores com os dos perdedores.


Franceses celebram gol de Mpbappé na final da Copa do Mundo do Catar neste domingo (18) / Christophe Simon /AFP

A realidade de 2022

Para os dois países finalistas deste domingo, um impulso econômico associado a uma vitória seria bem-vindo, principalmente para a Argentina.

O país está atolado num caos econômico há décadas. A expectativa é que a inflação chegue a 100% este ano, enquanto a enorme pilha de dívidas continua aumentando. Embora o sucesso no Catar tenha contribuído para melhorar a moral dos cidadãos, os problemas econômicos da Argentina são muito graves e enraizados para que uma vitória tenha qualquer impacto significativo.

Em relação ao Catar, o impacto econômico da Copa será mais profundo. Estima-se que o país gastou entre 200 e 300 bilhões de dólares no evento, para a construção de estádios e infraestrutura. O ganho com o turismo, por mais empolgantes que tenham sido as últimas quatro semanas em Doha, obviamente não preencherá essa lacuna.

No entanto, especialistas afirmaram diversas vezes que o Catar sediou o torneio para tentar obter prestígio no cenário global, e não qualquer tipo de impulso econômico.

"Está claro que esta Copa do Mundo não é uma questão de viabilidade econômica para o Catar", afirma Dan Plumley, da Universidade Sheffield Hallam, em entrevista à DW. "A Copa do Mundo de 2022 provavelmente será deficitária em termos comerciais."

"Os principais ganhos que o Catar busca não são comerciais. As relações internacionais são a principal motivação para sediar o torneio e também se trata de soft power como estratégia de defesa e segurança. Dinheiro claramente não é problema para o Catar. O país com certeza pode se dar ao luxo de sediar uma Copa e está disposto a absorver essas perdas".