ENTREVISTA

“Minha lógica de fazer gestão não é só para aliados, é para toda a Paraíba", diz João Azevêdo

Governador comentou sobre os desafios da próxima gestão, presidência do Consórcio Nordeste e a relação política com Lula

Brasil de Fato | João Pessoa (PB) |
João Azevedo recebendo diplomação de Governador da Paraíba - Reprodução - Instagram @joaoazevedolins

Reeleito com mais de 1,2 milhão de votos, o governador da Paraíba João Azevêdo (PSB) assume também como presidente do Consórcio Interestadual de Desenvolvimento Sustentável do Nordeste, o Consórcio Nordeste, que tem como propósito servir de instrumento jurídico, político e econômico de integração dos nove Estados da região, atuando como um articulador de pactos de governança.
 
Em entrevista exclusiva ao Brasil de Fato Paraíba, Azevêdo conversou sobre a sua gestão, os desafios que se apresentam para os próximos anos, a eleição para presidência do Consórcio Nordeste e a relação política com o novo governo de Luiz Inácio Lula da Silva.

Confira a entrevista a seguir:

Brasil de Fato Paraíba: Como o senhor recebeu essa eleição para presidência do Consórcio Nordeste e o que espera realizar neste cargo, quais os desafios dessa nova gestão do Consórcio?
 
João Azevêdo: De certa forma foi uma surpresa para mim. Até porque essa articulação foi feita entre os colegas governadores e depois na reunião que tivemos foi colocada essa possibilidade na mesa e aprovada. O Consórcio Nordeste é de extrema importância e já demonstrou isso desde 2019 quando foi efetivamente implantado e atingiu um efeito que se esperava em cada estado no compartilhamento dessas políticas exitosas. Logicamente, todo o trabalho que foi feito nas câmaras técnicas instaladas: agricultura familiar, saneamento, desenvolvimento humano, tecnologia, enfim, isso tudo dentro de troca de experiências que fizeram com que os estados avançassem cada um nas suas políticas, baseado nas experiências exitosas de outros lugares.

O Consórcio Nordeste vai exercer uma função de consolidar e fazer com que aquele conjunto de governadores - pelo menos seis governadores novos dentro desse processo – mantenham aquela unidade que nós tivemos nesses últimos quatro anos. Serão governadores e governadoras diferentes, pessoas diferentes, mas teremos que manter o espírito que o Consórcio sempre desenvolveu que foi exatamente na direção de que as decisões sejam sempre colegiadas e consensuais, isso pra mim vai ser um ponto principal da nossa gestão e, logicamente, fazer voltar algumas experiências que deram certo, mas tiveram paralisações, como é o caso do Conselho dos Secretários de Segurança do Nordeste, uma área que interessa a todos, fazer voltar o sistema que implantamos e que houve descontinuidade porque, de certa forma, o Governo Federal entendeu que era uma experiência tão boa que achava que podia implantar no país inteiro, mas não conseguiram. Isso fez com que aqui no Nordeste tivesse uma redução no ritmo de implantação e nós queremos retomar porque os nossos limites e as nossas fronteiras precisam ser estabelecidas de uma forma extremamente segura e que a troca de informação seja muito rápida entre secretários e não tenha que passar necessariamente por Brasília para que possamos nos comunicar com estados vizinhos como Rio Grande do Norte, Pernambuco, Ceará...

Então, essa será uma das metas do Consórcio e, logicamente, aproveitar esse trabalho que foi iniciado da implantação do Escritório de Projetos que permitirá que cada estado, através desse escritório, possa buscar financiamentos internacionais em bancos, agências ou fundos de desenvolvimento internacionais, para suprir, diria eu, essa deficiência que vamos ter com relação ao Orçamento Geral da União que provavelmente não terá recursos para implantar programas com um nível de investimento que precisamos para continuar mantendo a geração de emprego e renda.  

Sobre a sua reeleição, o senhor poderia fazer uma breve prospecção do que o povo paraibano pode esperar para esses próximos quatro anos? O que precisa ser modificado e o que deu certo?

Eu costumo sempre afirmar e esclarecer que não existe vencedores e nem vencidos, ao término de uma eleição, aqui deixo de forma muita clara, serei governador de toda uma Paraíba, de toda uma população, dos mais de 4 milhões de habitantes. Houve uma representação dessa quantidade de votos, mas serei governador de toda uma Paraíba. A minha lógica de fazer gestão não é apenas para aliados, isso já foi demonstrado nesses últimos quatro anos em que convênios, ações, políticas públicas aconteceram em todos os municípios independentemente da posição partidária de cada prefeito.

O que eu espero verdadeiramente é que possamos ampliar as políticas de cuidado às pessoas; tenho uma leitura que fazer gestão pública é acima de tudo cuidar das pessoas, gerando emprego, investindo em educação, saúde e desenvolvimento humano. Essa continuidade é um processo natural, mas ainda temos aquelas políticas e problemas que mais nos preocupam e que exigem um maior olhar diante da condição que se encontra o país agora, são programas como o "Tá na mesa", programa de segurança alimentar que fornece mais de um milhão e trezentas mil refeições hoje para quem passa fome. E a fome é uma realidade que precisa ser enfrentada realmente sem divergências, sem pensar muito, é implantar, é urgente o problema da fome.

Nessa próxima gestão queremos dar ênfase a esses programas, expandir para todo o estado. Outra questão que ainda é urgente no nosso estado é a questão hídrica porque a Paraíba ainda carece muito de estruturas hídricas e por isso agora estamos em processo de licitação com grandes adutoras para trazer essa segurança hídrica para o estado. Além das energias renováveis e limpas pois até 2024 vamos ser autossuficientes nesse campo. Nessa primeira gestão, mesmo enfrentando a pandemia, a Paraíba fez uma gestão interna que foi reconhecida no país. Enfrentamos da melhor forma a pandemia, tivemos reconhecimento pela Educação que nos levou a prêmios, e ao mesmo tempo implantamos políticas públicas urgentes como o Opera Paraíba.

Durante toda a campanha eleitoral o senhor esteve aliado ao presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva. Como avalia a relação do estado da Paraíba e também do Consórcio Nordeste com o atual presidente, visto que, nesses últimos anos, o Consórcio teve divergências com o ex-presidente Bolsonaro... Como o senhor pode falar sobre essa relação que se inicia com o governo federal a partir de 2023?
 
Não tenho dúvidas que das melhores! O Consórcio Nordeste teve momentos que foi mal compreendido pelo antigo governo federal, imaginando que se estaria criando uma estrutura para se fazer disputa política, e não era isso. O Consórcio não foi criado com essa finalidade, ele foi criado como uma instância administrativa que tem seu lado político, mas principalmente administrativa para que possamos defender os interesses da região e essa unificação trazer mais forças para essas reivindicações, mas é óbvio que teve uma leitura política feita por parte da presidência da república e que não houve relação, eu diria, minimamente republicana, o que foi extremamente difícil.

Isso gerou dificuldades como, por exemplo: a Paraíba não teve acesso a financiamento de bancos como Caixa Econômica e outros, mesmo tendo uma gestão fiscal eficiente. O que nós queremos e esperamos é que haja uma relação republicana com o governo federal de agora e o Nordeste, claro, mostrou mais uma vez sua posição e deu uma votação relevante e importante ao presidente Lula e isso, logicamente, e pelos contatos iniciais que tivemos com o presidente Lula, ele já deixou claro que está disposto a ouvir o Consórcio e dialogar com os governadores do Nordeste. Espero que possamos discutir desde projetos importantes para a região até a gestão dos órgãos regionais como Banco do Nordeste, Sudene, Chesf, enfim. Colocamos isso pessoalmente para Lula e ele afirmou que fará esse diálogo e essa ponte para que a gente encontre os melhores caminhos. Eu tenho certeza que a relação será bem proveitosa e diferente desses últimos quatros anos.

Existiram muitas críticas dos profissionais de Educação e Cultura quanto a gestão dessas Secretarias durante o seu primeiro mandato. Reformas e construção de escolas, investimentos e amplo diálogo com atores culturais do estado... O que faltou para que o diálogo entre esses profissionais e sua gestão fosse ampliado?

Não existe nenhuma política pública que esteja tão finalizada que não precise melhorar, claro que precisa melhorar. A Educação da Paraíba precisa melhorar! Nós temos uma rede de 660 escolas e muitas precisam ainda passar por reformas e sim, é um processo que precisa ser continuado. Não tenho dúvidas disso. Construímos 17 escolas novas, ainda vamos entregar outras e é isso, sempre estaremos mantendo esse nível de investimento, mas as coisas aconteceram e houve avanços, lembrando que ganhamos prêmios e fomos reconhecidos pelo trabalho realizado na Educação da Paraíba durante a pandemia.

Já na Cultura, eu fico muito tranquilo para tratar sobre, pois através da Lei Aldir Blanc nós conseguimos fazer com que R$ 38 milhões chegassem no segmento e ainda fizemos implantação de obras que foram importantes na área como o Teatro Santa Catarina, o Museu da Cidade de João Pessoa, que não existia, os shows mensais na Funesc, o Museu da Polícia Militar e as transformações no Palácio da Redenção para ser um museu da história da Paraíba, além de 16 festivais de cinema que fomentamos... Ou seja, a Cultura evoluiu, mas entendo que ela precise ampliar suas ações, talvez até com uma maior abertura ao diálogo com determinados segmentos, mas isso tudo é um processo de aperfeiçoamento, não significa dizer que não houve avanço, o avanço está aí e precisamos continuar, mas aí é um trabalho que será melhorado em cada uma das políticas públicas, e é um trabalho que terá toda nossa atenção. 

Fonte: BdF Paraíba

Edição: Maria Franco