alimento é saúde

Curso da USP prepara estudantes de medicina para lidar com questões relacionadas à alimentação

Disciplina considera aspectos da realidade brasileira, com situação de fome e diversidade alimentar do país

Ouça o áudio:

Acesso aos alimentos, insegurança alimentar e diversidade da alimentação brasileira são aspectos considerados na disciplina de Medicina Culinária - Tânia Rêgo/ Agência Brasil
O médico tem que lembrar que não vai poder oferecer salmão e óleo de oliva para o paciente

Você ou algum conhecido já pode ter ouvido de um médico ou médica a recomendação para reduzir o sal da comida, por exemplo, como forma de contribuir com o tratamento de alguma doença. Também é comum a indicação de alimentos considerados mais saudáveis para a dieta. "Substitua o óleo de soja pelo azeite de oliva", "no lugar de carne vermelha, que tal incluir o salmão na dieta?". Essas podem ser algumas das frases escutadas em consultórios médicos. No entanto, esse discurso muitas vezes não está alinhado à realidade do paciente. 

Em um país como o Brasil, onde mais de 30 milhões de pessoas vivem em situação de insegurança alimentar, conforme dados da Rede Penssan, não é viável recomendar trocas como essas ao indicar caminhos para uma alimentação mais saudável. Alimentos caros não cabem no orçamento de uma grande parte da população, que enfrenta dificuldades para comprar o essencial para sobreviver. E os profissionais de saúde, que estão na ponta, especialmente nos serviços públicos, precisam saber disso. 

Essa foi uma das motivações para a incorporação da disciplina de Medicina Culinária, há quatro anos, no currículo dos futuros médicos e médicas formados pela Universidade de São Paulo (USP).

Em entrevista à edição desta quinta-feira (12) do programa Bem Viver, a professora Thais Mauad, docente da Faculdade de Ciências Médicas (FCM), conta que o curso pioneiro no país foi inspirado em escolas estadunidenses, mas adaptado para a realidade brasileira. 

"O médico tem que lembrar que não vai poder oferecer salmão e óleo de oliva, né? Que isso não faz parte da nossa realidade."

Ela acrescenta que a formação dos estudantes é pautada na nossa biodiversidade alimentar. "Em São Paulo, a gente está lidando com pacientes de toda a parte do país, então tem que respeitar essa cultura alimentar. Introduzir mais biodiversidade, que às vezes é mais barato. Se você for pensar nas [plantas alimentícias não convencionais] PANCs, por exemplo, você consegue cultivar na sua casa e colocar na alimentação uma verdura fresca. E pensar em alternativas baratas, nutritivas e saudáveis que existem", explica. 

Segundo a professora, a questão da alimentação ainda é subestimada dentro do currículo médico, apesar de os alimentos serem um aliado importante na prevenção e manejo de doenças. 

"O que esse curso, na verdade, quer é abrir um pouquinho o olho do futuro médico para ele perceber que a alimentação, e não só a alimentação, mas atividade física, saúde mental, o estilo de vida são fatores que tem uma importância muito grande na gênese e no manejo de várias doenças", ressalta.

"Doutor, posso comer isso?"

O Sistema Único de Saúde (SUS) conta com profissionais habilitados para atendimentos nutricionais. Um ponto que a docente faz questão de destacar é que a disciplina de Medicina Culinária não pretende, de modo algum, capacitar o médico para substituir o nutricionista, mas, sim, prepará-lo para lidar com questionamentos dos pacientes relacionados à alimentação. 

"Considerando as realidades que a gente vive, muitas vezes esse médico vai ser confrontado com perguntas. “Doutor, posso comer isso?” “Posso comer aquilo?” Se você fala “tira o sal”, mas não sabe como, você fechou uma porta de diálogo. Então essa é nossa ideia, que esse médico possa conhecer, entender o que é a cozinha, o que é o alimento e tentar repassar isso para os seus pacientes”, conta. 

Entre os problemas de saúde que se relacionam com a alimentação, a médica Thais Mauad destaca as doenças crônicas não transmissíveis, como diabetes, obesidade e hipertensão. Ela aponta a associação desses males com o elevado consumo de alimentos ultraprocessados pela população, especialmente em um cenário de alta no preço dos alimentos e agravamento da insegurança alimentar no país. 

::Conheça as novas regras para rótulos de ultraprocessados::

"Eles têm muito sal, muita gordura e muito açúcar. A gente tenta bater nessa tecla com os estudantes, mostrar esses aspectos, explicar os malefícios do excesso de sal, do excesso de açúcar. Mostrar que ultraprocessado é a desconstrução dos alimentos. A gente acha que consegue conversar, abrir o olho deles para isso, que é um problema grave”, afirma. 

::Declínio cognitivo no longo prazo é maior para quem consome mais ultraprocessados::

A sustentabilidade é outro ponto que faz parte da ementa do curso, de modo a chamar a atenção para a redução do lixo produzido e também para o aproveitamento integral dos alimentos

"Na aula, a gente tenta chamar atenção da quantidade de resíduo plástico que a gente gerou, que é uma coisa que também faz parte do nosso curso. Abrir os olhos para como se cozinha de uma maneira mais sustentável. A gente preza muito também pelo uso integral dos alimentos. Então todas as nossas receitas vão ter alguma coisa como casca da banana, justamente pensando como se repassa para um paciente que está em insegurança alimentar que é uma coisa a menos para jogar por uma coisa mais que pra consumir.”

Políticas públicas 

A abordagem da questão da alimentação na formação dos estudantes é apenas um reforço no sentido de garantir que a população se alimente de forma mais saudável. A garantia da segurança alimentar e nutricional, no entanto, é um tema que passa pela formulação e implementação de políticas públicas voltadas para o tema, como defende a professora. 

::Com o compromisso de combater a fome, governo Lula reativa Conselho de Segurança Alimentar::

"Com o retorno de políticas públicas em relação à agricultura familiar, merenda escolar, segurança alimentar, a gente consegue sair de novo, disso [do Mapa da Fome]. Alimento tem. Não é falta de alimento”, conclui. 


Card Bem Viver / Brasil de Fato

Sintonize

O programa Bem Viver vai ao ar de segunda a sexta-feira, das 11h às 12h, com reprise aos domingos, às 10h, na Rádio Brasil Atual. A sintonia é 98,9 FM na Grande São Paulo.  

Em diferentes horários, de segunda a sexta-feira, o programa é transmitido na Rádio Super de Sorocaba (SP); Rádio Palermo (SP); Rádio Cantareira (SP); Rádio Interativa, de Senador Alexandre Costa (MA); Rádio Comunitária Malhada do Jatobá, de São João do Piauí (PI); Rádio Terra Livre (MST), de Abelardo Luz (SC); Rádio Timbira, de São Luís (MA); Rádio Terra Livre de Hulha Negra (RN), Rádio Camponesa, em Itapeva (SP), Rádio Onda FM, de Novo Cruzeiro (MG), Rádio Pife, de Brasília (DF), Rádio Cidade, de João Pessoa (PB), Rádio Palermo (SP), Rádio Torres Cidade (RS); Rádio Cantareira (SP); Rádio Keraz; Web Rádio Studio F; Rádio Seguros MA; Rádio Iguaçu FM; Rádio Unidade Digital ; Rádio Cidade Classic HIts; Playlisten; Rádio Cidade; Web Rádio Apocalipse; Rádio; Alternativa Sul FM; Alberto dos Anjos; Rádio Voz da Cidade; Rádio Nativa FM; Rádio News 77; Web Rádio Líder Baixio; Rádio Super Nova; Rádio Ribeirinha Libertadora; Uruguaiana FM; Serra Azul FM; Folha 390; Rádio Chapada FM; Rbn; Web Rádio Mombassom; Fogão 24 Horas; Web Rádio Brisa; Rádio Palermo; Rádio Web Estação Mirim; Rádio Líder; Nova Geração; Ana Terra FM; Rádio Metropolitana de Piracicaba; Rádio Alternativa FM; Rádio Web Torres Cidade; Objetiva Cast; DMnews Web Rádio; Criativa Web Rádio; Rádio Notícias; Topmix Digital MS; Rádio Oriental Sul; Mogiana Web; Rádio Atalaia FM Rio; Rádio Vila Mix; Web Rádio Palmeira; Web Rádio Travessia; Rádio Millennium; Rádio EsportesNet; Rádio Altura FM; Web Rádio Cidade; Rádio Viva a Vida; Rádio Regional Vale FM; Rádio Gerasom; Coruja Web; Vale do Tempo; Servo do Rei; Rádio Best Sound; Rádio Lagoa Azul; Rádio Show Livre; Web Rádio Sintonizando os Corações; Rádio Campos Belos; Rádio Mundial; Clic Rádio Porto Alegre; Web Rádio Rosana; Rádio Cidade Light; União FM; Rádio Araras FM; Rádios Educadora e Transamérica; Rádio Jerônimo; Web Rádio Imaculado Coração; Rede Líder Web; Rádio Club; Rede dos Trabalhadores; Angelu'Song; Web Rádio Nacional; Rádio SINTSEPANSA; Luz News; Montanha Rádio; Rede Vida Brasil; Rádio Broto FM; Rádio Campestre; Rádio Profética Gospel; Chip i7 FM; Rádio Breganejo; Rádio Web Live; Ldnews; Rádio Clube Campos Novos; Rádio Terra Viva; Rádio interativa; Cristofm.net; Rádio Master Net; Rádio Barreto Web; Radio RockChat; Rádio Happiness; Mex FM; Voadeira Rádio Web; Lully FM; Web Rádionin; Rádio Interação; Web Rádio Engeforest; Web Rádio Pentecoste; Web Rádio Liverock; Web Rádio Fatos; Rádio Augusto Barbosa Online; Super FM; Rádio Interação Arcoverde; Rádio; Independência Recife; Rádio Cidadania FM; Web Rádio 102; Web Rádio Fonte da Vida; Rádio Web Studio P; São José Web Rádio - Prados (MG); Webrádio Cultura de Santa Maria; Web Rádio Universo Livre; Rádio Villa; Rádio Farol FM; Viva FM; Rádio Interativa de Jequitinhonha; Estilo - WebRádio; Rede Nova Sat FM; Rádio Comunitária Impacto 87,9FM; Web Rádio DNA Brasil; Nova onda FM; Cabn; Leal FM; Rádio Itapetininga; Rádio Vidas; Primeflashits; Rádio Deus Vivo; Rádio Cuieiras FM; Rádio Comunitária Tupancy; Sete News; Moreno Rádio Web; Rádio Web Esperança; Vila Boa FM; Novataweb; Rural FM Web; Bela Vista Web; Rádio Senzala; Rádio Pagu; Rádio Santidade; M'ysa; Criativa FM de Capitólio; Rádio Nordeste da Bahia; Rádio Central; Rádio VHV; Cultura1 Web Rádio; Rádio da Rua; Web Music; Piedade FM; Rádio 94 FM Itararé; Rádio Luna Rio; Mar Azul FM; Rádio Web Piauí; Savic; Web Rádio Link; EG Link; Web Rádio Brasil Sertaneja; Web Rádio Sindviarios/CUT.  

A programação também fica disponível na Rádio Brasil de Fato, das 11h às 12h, de segunda a sexta-feira. O programa Bem Viver também está nas plataformas: Spotify, Google Podcasts, Itunes, Pocket Casts e Deezer.  

Assim como os demais conteúdos, o Brasil de Fato disponibiliza o programa Bem Viver de forma gratuita para rádios comunitárias, rádios-poste e outras emissoras que manifestarem interesse em veicular o conteúdo. Para fazer parte da nossa lista de distribuição, entre em contato através do formulário

Edição: Lucas Weber