empresa em crise

Centrais processam acionistas bilionários da Americanas por garantias trabalhistas

Entidades sindicais querem que patrimônio de homens mais ricos do país seja bloqueado para proteger trabalhadores

Brasil de Fato | Curitiba (PR) |
Fundada em 1929, em Niterói (RJ), as Lojas Americanas têm hoje mais de 1.700 lojas físicas e cerca de 40 mil funcionários - Mauro Pimentel/AFP

As centrais sindicais brasileiras abriram nesta quarta-feira (25) uma ação civil pública na Justiça do Trabalho de Brasília visando o bloqueio de bens dos acionistas bilionários da Americanas, gigante do varejo que entrou em recuperação judicial. O processo visa que o patrimônio dos acionistas seja usado para garantir direitos trabalhistas de 44 mil funcionários da companhia enquanto ela enfrenta severa crise após detectar um rombo de R$ 20 bilhões em suas demonstrações financeiras.

A Americanas pertence, desde 1983, majoritariamente a três dos homens mais ricos do Brasil, segundo a revista Forbes: Jorge Paulo Lemann, o mais rico do país; Marcel Telles, o terceiro; e Beto Sicupira, o quarto.

De acordo com a revista, juntos eles têm juntos quase R$ 160 bilhões.

A Americanas, por sua vez, deve R$ 43 bilhões a quase 8 mil credores, incluindo grandes bancos, grandes empresas e até ex-funcionários. Os dados foram informados pela própria empresa em seu processo de recuperação judicial, que nada mais é que uma tentativa jurídica de salvar a empresa da falência.

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A empresa pediu recuperação judicial dias depois de relevar "inconsistências contábeis” de R$ 20 bilhões em seu balanço. Após isso ocorrer, credores passaram a executar dívidas da empresa. Ela se viu sem caixa para pagá-los e precisou recorrer à Justiça em busca de um acordo para acertar suas contas junto a quem deve.

Centrais sindicais temem que, durante esse processo de recuperação, a empresa fique sem dinheiro também para pagar seus trabalhadores. Por isso, pediram o bloqueio dos bens de Lemann, Sicupira e Telles.

“Com a ameaça de descumprimento dos direitos de trabalhadores e de trabalhadoras, a ação civil pública busca garantir que o patrimônio pessoal dos acionistas de referência Jorge Paulo Lemann, Carlos Alberto Sicupira e Marcel Telles possa ser executado independentemente do processamento da recuperação judicial”, diz uma nota assinada por dirigentes das entidades sindicais que acionaram a Justiça nesta quinta.

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Ajuizaram a ação a Central Única dos Trabalhadores (CUT), a União Geral dos Trabalhadores (UGT), a Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), a Força Sindical (FS), a Central dos Sindicatos Brasileiros (CSB), a Nova Central Sindical de Trabalhadores (NCST), a Confederação dos Trabalhadores no Comércio e Serviços (Contracs-CUT) e a Confederação Nacional dos Trabalhadores no Comércio (CNTC).

Ainda segundo as centrais, para além dos 44 mil funcionários, a Americanas tem outras 17 mil ações trabalhistas contra ela tramitando na Justiça, nas quais são discutidos pagamentos de mais de R$ 1,5 bilhão. Para as centrais, o bloqueio dos bens dos acionistas também serviria para garanti-los.

Fraude contábil

Os dirigentes das centrais reforçaram também argumentos de banqueiros de que Lemann e seus sócios, na verdade, praticaram uma fraude na Americanas. Essa possibilidade foi levantada primeiramente pelo banco BTG, também em ação contra a Americanas.

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“A ação visa desconsiderar a personalidade jurídica da Americanas e responsabilizar os acionistas de referência pela fraude contábil que se desenrolou durante anos na Companhia e que inflou artificialmente não só o lucro, mas os dividendos distribuídos aos acionistas, sendo os três bilionários os maiores beneficiários da fraude”, dizem as centrais.

Lemann, Sicupira e Telles negam cometeram fraude e que sabiam do rombo antes de ele ser anunciado ao mercado, apesar de terem controlado a empresa por 40 anos.

“É essencial que a Justiça do Trabalho desconsidere a personalidade jurídica da Americanas e responsabilize solidariamente aqueles que mais se beneficiaram da fraude durante todos esses anos. É a única forma de garantir que o grupo não dê calote nos trabalhadores”, afirmou Valeir Ertle, secretário de Assuntos Jurídicos da CUT.

Edição: Rodrigo Durão Coelho