refúgio silvestre

Engenho Uchoa: conheça a luta de mais de 40 anos pela preservação de mata atlântica no Recife

Sindicatos, movimentos populares e partidos políticos defendem território cobiçado pela especulação imobiliária

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O Engenho Uchoa é considerado um refúgio da vida silvestre da mata atlântica - Ascom/Semas-PE
As pessoas tomavam banho e pescavam no rio Tejipió. Hoje o rio Tejipió é um esgoto

Quem mora no Barro, um dos onze bairros ao redor da mata do Engenho Uchôa, assim como a aposentada Luci Machado, sabe que o clima na região é diferente do resto do Recife. Isso por causa da proximidade com a reserva de mata atlântica no meio da cidade.

"Sabíamos que morar aqui é um privilégio de viver aqui pertinho da mata, a gente sabia que o clima é diferenciado. Não era um clima igual a todo lugar. Eu moro aqui no Barro e o clima é completamente diferente. Aqui é uma descidazinha onde eu moro e fica ladeado mesmo com o rio Tejipió e a Mata do Uchôa", afirma a aposentada.

A mata do Engenho Uchôa é um refúgio da vida silvestre que atravessa onze bairros da capital pernambucana e faz parte do Sistema Estadual de Unidades de Conservação (SEUC), dos quais são protegidos quase 172 hectares.

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Segundo informações da Agência Estadual de Meio Ambiente (CPRH), a unidade de preservação é um importante fragmento da mata atlântica no estado, por fazer parte da bacia hidrográfica do rio Tejipió e apresentar ecossistemas de restinga e manguezal. 

Desde a década de 1980, há mais de 40 anos, moradores da região junto a sindicatos, movimentos sociais e partidos políticos atuam em defesa da mata, que tem sua maior parte de propriedade da iniciativa privada.

"Temos no Ministério Público muitas denúncias de incêndio criminoso, de retirada de areia, de retirada de barro, de tentativa de invasão, mesmo, de grupos grandes, enormes, eram empreendedores que queriam mesmo ter lucro nisso aí", relata Luci.

O movimento em defesa da mata do Engenho Uchôa assumiu o papel de lutar pela região. A atuação coletiva já brigou contra grandes imobiliárias, que ameaçaram acabar com a mata para a construção de prédios.

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Essa defesa do território faz parte da relação dos moradores com a mata. Muitos deles brincavam e pescavam no local. Entre eles está o aposentado Augusto Semente.

"Eu tirava folha de dendê para fazer papagaio, que o pessoal hoje chama 'pipa'. Então, na minha infância eu ia lá tirar folha de dendê. Muita gente, lá dentro da Mata do Engenho Uchôa ia a riachos, que tinha camarão, ia pescar camarão lá. O rio Tejipió, como Luci falou, que a Mata do Engenho Uchôa está na Bacia do rio Tejipió, pessoas tomavam banho, pescavam no rio Tejipió. Hoje o rio Tejipió é um esgoto", compara.

O grupo tem lutado para que a mata se torne um parque natural, garantindo assim a sua preservação, o acesso de mais pessoas ao espaço, além de regulação e o equilíbrio climático.

"Essa mata do Engenho Uchôa, sendo criado esse Parque Natural que a gente quer, vai contribuir e muito com a questão climática. Ela tem uma dimensão muito grande: econômica, ecológica, ambiental. Essas enchentes mesmo que a gente teve agora o Recife, a Mata do Engenho Uchôa amenizou muito do que essa catástrofe poderia ter sido bem maior", afirma Augusto. 

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Segundo informações da Secretaria de Meio Ambiente do Governo de Pernambuco, apenas 3% da área de mata atlântica no estado é protegida, menos da metade da meta estabelecida pela Organização das Nações Unidas (ONU), que é de 10%. Neste sentido, o órgão tem sido provocado a assegurar aquisição e a regularização fundiária de regiões de mata atlântica. 

O maior sonho dos moradores é ver a mata protegida e o parque implementado.

Edição: Douglas Matos e Daniel Lamir