Novo capítulo

Sonia Guajajara toma posse na Câmara e filhos relembram trajetória de luta na Casa

Yaponã e Ywara Guajajara veem a mãe como facilitadora da luta política das próximas gerações de indígenas

Brasil de Fato | Brasília (DF) |

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Yaponã Guajajara (à esquerda), 21, e Ywara Guajajara, 17, filhos de Sônia Guajajara, durante posse da ministra como deputada federal - Cristiane Sampaio/Brasil de Fato

A alegria tomou conta do indígena Yaponã Guajajara, de 21 anos, quando, nesta quarta-feira (1º), ele pisou pela segunda vez no prédio do Congresso Nacional, em Brasília (DF). O jovem saiu do Maranhão para acompanhar a mãe, Sônia Guajajara (PSOL-SP), que se licenciou temporariamente do cargo de ministra dos Povos Indígenas para tomar posse como deputada federal.

Yaponã contou à reportagem que, em 2019, quando veio ao local pela primeira vez, foi para lutar contra a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 215, que formaliza a tese do marco temporal e por isso se tornou um dos piores pesadelos dos povos indígenas nos últimos anos, em meio às ameaças do governo Bolsonaro. Agora, o sentimento do filho de Sônia ao pisar na Câmara se transformou.

Uma das principais e mais influentes vocalizadoras dos povos tradicionais no país, Guajajara já ultrapassou as fronteiras nacionais para divulgar as aflições e demandas do segmento em outros lugares do mundo. Por esse motivo, esta quarta-feira fortaleceu o clima de esperança para Yaponã.   

"Desde muito novo a gente sabia que a missão dela era ser uma mãe de todos os povos indígenas. Então, é uma representatividade muito forte e pra nós, como filhos, é só orgulho, muito orgulho. A gente está muito feliz em estar participando deste momento histórico", comemora.

Para o jovem, a posse facilita o caminho para as gerações futuras de indígenas na luta política em defesa da agenda ambiental e de todas as outras pautas que mobilizam o segmento.

"Eu entendo que ela está plantando sementes e que a gente vai colher esses frutos porque a gente aprende bastante com ela. E é muito importante, no meio disso, a gente aproveitar pra formar novos jovens, novos comunicadores indígenas também. A juventude vai seguir participando desses espaços", afirma Yaponã.

Ele chegou ao Congresso acompanhado da irmã, Ywara Guajajara, de 17 anos, que também foi prestigiar a mãe. "Ver ela ocupando esses cargos de poder, esses cargos tão importantes pro Brasil, pros povos indígenas, pra Amazônia, pro meio ambiente é de se orgulhar bastante", disse a estudante.


Denúncia contra o garimpo marcou presença da ministra Sônia Guajajara durante posse nesta quarta-feira (1º) na Câmara dos Deputados / Cristiane Sampaio/Brasil de Fato

Sônia Guajajara esteve entre os atores políticos mais assediados pela imprensa e pelos convidados que se misturavam em meio à multidão que tomou conta da Câmara nesta quarta-feira de abertura do ano legislativo. Em conversa com o Brasil de Fato, a deputada comentou que espera uma "forte articulação" entre o Ministério dos Povos Indígenas e o Congresso Nacional. A expectativa de Sônia se concentra especialmente na deputada indígena Célia Xakriabá (PSOL/MG), que também tomou posse nesta data.

"Eu vou estar no ministério e ela vai estar aqui, mas a gente vai somar essa força. Essa articulação entre Congresso e Executivo é muito importante. A gente sabe que tem muitos desafios aqui, mas nós vamos continuar no enfrentamento contra essa bancada [ruralista], que continua reacionária e querendo aprovar medidas contra nossos direitos."

Segundo Sônia, o primeiro passo será recriar a Frente Parlamentar em Defesa dos Povos Indígenas. "Estamos na articulação pra Célia assumir a coordenação da frente. Este momento me emociona porque é um novo momento da política brasileira, com essa presença indígena chegando de forma articulada, chegando pra ocupar esses espaços no Legislativo e no Executivo, então, é o começo de um outro tempo".

Edição: Thalita Pires