Pressão sobre juros

Presidente do BC diz ser contra mudar meta de inflação antes de reunião sobre tema

Roberto Campos Neto afirmou que alterar planos neste momento pode ter efeito prejudicial e contrário ao desejado

Brasil de Fato | Curitiba (PR) |

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Presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto - Sergio Lima / AFP

O presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, afirmou na segunda-feira (13) que é contra a mudança da meta de inflação estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), do qual ele faz parte. Campos Neto falou sobre o tema três dias antes de uma reunião do próprio CMN na qual o assunto tende a ser debatido.

“Se a gente fizer uma mudança agora, sem um ambiente de tranquilidade e um ambiente onde a gente está atingindo a meta com facilidade, o que vai acontecer é que você vai ter um efeito contrário ao desejado”, previu o economista, em sua participação no programa Roda Viva, da TV Cultura.

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O CMN tem reunião marcada para quinta-feira (16). Esta será a primeira do colegiado após a posse de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e a mudança na composição do órgão após as nomeações feitas pelo presidente.

Fazem parte do CMN: Campos Neto, presidente do BC – nomeado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) – e também o atual ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), e a atual ministra do Planejamento, Simone Tebet (MDB) – nomeados por Lula.

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Entenda a crise

Lula tem criticado Campos Neto por conta da alta taxa básica de juros da economia brasileira, a Selic. Hoje, a Selic está em 13,75% ao ano, a maior taxa de juros real do mundo (juros descontados a inflação).

Segundo o presidente, com essa Selic, a economia brasileira não consegue retomar o crescimento. Por isso, ele defende uma redução.

Campos Neto, por outro lado, tem dito que a Selic está neste patamar para que o BC consiga cumprir a meta de inflação. Atualmente, o índice de aumento de preços acumulado em 12 meses está em 5,77%. O CMN estabeleceu que o índice deve estar em 3,25% no final de 2023, podendo chegar, no máximo, a 4,75%.

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Esse cenário reforça a expectativa de que a meta só será cumprida com mais aumento da Selic. Alguns economistas defendem, como alternativa, a revisão da meta – o que Campos Neto é contra, segundo ele mesmo disse.

Aceno ao governo

Campos Neto foi questionado no Roda Viva por sua relação com Bolsonaro e seus ministros. Ele foi indicado ao cargo no Banco Central pelo ex-presidente e, em janeiro, após a posse de Lula, ainda fazia parte de um grupo de whatsapp de ex-integrantes do governo passado.

Ele minimizou a relação com bolsonaristas. Disse que estabeleceu relações com ministros do antigo governo por conta do trabalho, mas que isso não influenciou sua atuação no BC.

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Questionado se estava com a camisa da seleção brasileira quando votou nas últimas eleições, ele se esquivou: "Voto é um ato privado", disse. "Tentei diferenciar o que é vida privada, o que é vida pública".

"O Banco Central é uma instituição de Estado, precisa trabalhar com o governo sempre. Eu vou fazer tudo o que estiver ao meu alcance para aproximar o BC do [atual] governo", complementou Campos Neto, em aceno ao atual presidente.

Edição: Vivian Virissimo