Lawfare?

Opinião: 6 meses após tentativa de assassinato de Cristina, por que a investigação não avança?

Um perigo mudo paira sobre a Argentina

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Cristina Kirchner em sua última declaração no caso das obras públicas, "causa Vialidad", em seu gabinete - Twitter Cristina Kirchner

Nesta quarta-feira (1°) faz seis meses desde a tentativa de assassinato da vice-presidenta Cristina Fernández de Kirchner, o episódio mais grave que o país viveu desde a volta da democracia há quarenta anos.

Um homem com uma arma dispara - e, por acaso, falha - mirando a cabeça de uma das três figuras mais importantes da história da Argentina nas últimas décadas. Mas após a comoção política inicial, não há progressos nas investigações para punir esta tentativa.

Seis meses depois, há apenas três detidos, meia dúzia de pistas que o sistema judicial se recusa a investigar (a maioria delas ligadas a pessoas próximas do ex-presidente Mauricio Macri) e um número escandaloso de irregularidades processuais. Perderam-se provas vitais para esclarecer o caso porque o celular de um dos detidos, Fernando Sabag Montiel, foi bloqueado e teve todas as suas informações apagadas de forma suspeita. Por quê? Quem tem o poder e a tecnologia para manipular um dispositivo com informações como este?

Há provas de que, dois dias antes do atentado, um deputado do partido da oposição (Juntos Por el Cambio) disse aos seus assessores: "Quando ela estiver morta, estarei no litoral" (e, de fato, no dia do ataque contra o CFK, ele estava lá). Existem, portanto, provas suficientes de que este deputado, Gerardo Milman, poderia fornecer informações sobre os autores intelectuais do crime. No entanto, a juíza María Eugenia Capuchetti, responsável pelo caso, recusa-se a seguir esta pista. Por que é que ela é tão negligente?

Outra pista que a justiça se recusa a investigar liga o Grupo Caputo (propriedade de "Nicky" Caputo, um amigo próximo do ex-presidente Mauricio Macri) a Jonathan Morel, fundador da "Revolución Federal", um grupo de extrema direita ao qual as três pessoas detidas pelo ataque contra o CFK também pertencem.

Morel é um homem violento não só em palavras ("Tem que matar eles, não pode fazer outra coisa"; "Tem de atirar água fervendo sobre militantes kirchneristas e colocar uma bomba na Casa Rosada", disse ele nas suas mensagens). Ele também procura semear o terror com ações como atirar pedras aos carros dos ministros, levar guilhotinas à Praça de Maio e atirar tochas com fogo à Casa Rosada, a sede do governo nacional.

Ficou demonstrado que Morel recebeu 13 milhões de pesos (aproximadamente R$ 354 mil) do Grupo Caputo. Se há tantas conexões, por que é que o juiz se recusa a ligá-lo à tentativa de assassinato?

A defesa da vice-presidenta, tendo em conta as irregularidades óbvias na investigação, exigiu o afastamento da Juíza Capuchetti do caso. O pedido foi rejeitado pela justiça federal em uma clara atitude de proteção corporativa. As irregularidades processuais são tantas que ultrapassam o âmbito de um texto jornalístico.

Apenas mais dois elementos. Primeiro, as ações da polícia metropolitana, que respondem ao governo da capital (Horacio Rodríguez Larreta também de Juntos Por el Cambio) antes, durante e depois do ataque, não só nunca prenderam nenhuma das pessoas violentas (por exemplo, quando apedrejaram e vandalizaram o gabinete da vice-presidenta no Congresso, semanas antes do ataque), como os membros dessa força policial aparecem em muitos vídeos saudando educadamente os extremistas de Revolución Federal denunciados.

Um fator agravante decisivo na paralisação da investigação da tentativa de assassinato é que a juíza Capuchetti está também intimamente ligada ao Juntos Por el Cambio e recebe um pagamento mensal do governo metropolitano do referido líder da oposição Rodríguez Larreta, por suposto trabalho de investigação vinculados ao Ministério da Segurança.

Rodríguez Larreta concorrerá à presidência da Argentina nas eleições de outubro de 2023 pelo principal partido da oposição, o Junto Por el Cambio. A questão é como, face a tantas irregularidades processuais e à comprovada convivência política com o Juntos Por el Cambio, a juíza ainda não foi retirada do caso?

A incapacidade e a demora na investigação, os erros processuais, o pouco que se avançou em compreender o planejamento do ataque - é possível atribuir isto a uma casualidade ou faz parte de uma impunidade perigosa dos meios de comunicação e do poder empresarial?

Como aconteceu com Lula no Brasil, a imprensa hegemônica demoniza e persegue Cristina Kirchner por um suposto caso de corrupção — chamado "Caso Vialidad", sem provas suficientes e confiáveis, e no qual Cristina já havia sido absolvida em casos anteriores —, deixando deliberadamente de lado um ataque que poderia prejudicar para sempre a democracia argentina se ficar impune devido à inação do sistema judiciário.

Como no caso de Lula, no exterior circula apenas o relato parcial dos meios hegemônicos, o que, no caso da Argentina, tornou invisível a tentativa de femimagnicídio de uma das líderes mais importantes da América Latina.

No Brasil, esta campanha difamatória foi revertida quando a amoralidade do juiz Sergio Moro e parte do sistema judiciário brasileiro foi revelada, a fim de perseguir e proscrever política e eleitoralmente Lula da Silva.

Procuraremos a verdade na Argentina. Vamos difundi-la. Exijamos probidade no sistema de justiça. E um fim à impunidade. O futuro da Argentina está em perigo.

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