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Lista entregue à Petrobras é do governo, diz Padilha: 'Quem disser o contrário está mentindo'

Ministro das Minas e Energia indicou para a estatal executivos criticados por petroleiros por relação com bolsonarismo

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |

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Para Padilha, conselheiros indicados vão defender a posição do governo na Petrobras. "Eles estão lá para defender o governo", afirma. - Ricardo Stuckert

O ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha (PT), ratificou em entrevista ao Brasil de Fato, as oito indicações do governo para o conselho de administração da Petrobras, principal instância decisória da empresa. Segundo Padilha, a lista com oito nomes enviada pelo Ministério das Minas e Energia (MME) à estatal foi definida conjuntamente entre ministros e é a posição consensual do governo sobre o assunto.

"Olha, os nomes encaminhados pelo ministro das Minas e Energia foram definidos e encaminhados pelo ministro de Minas e Energia (Alexandre Silveira), o ministro da Casa Civil (Rui Costa) e o presidente da Petrobras (Jean Paul Prates). Qualquer pessoa que esteja falando algo diferente está mentido. Foi decisão conjunta dos três", afirmou Padilha.

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"Ali, há uma composição equilibrada, que pode ter visões diferentes, o que é positivo. De concreto, é que a decisão foi conjunta. Há uma posição firme do governo de cumprir o que foi dito na campanha eleitoral. O que o presidente disse? Que ele queria pintar de verde e amarelo a política de preços da Petrobras", concluiu o ministro.

Críticas

A lista seguiu para a Petrobras na segunda-feira (27). No mesmo dia, a Federação Única dos Petroleiros (FUP), que fez campanha pela eleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), emitiu uma nota criticando as indicações.

A FUP disse que a lista dos indicados foi elaborada pelo MME unilateralmente. "O MME, de forma unilateral, elaborou sua lista de nomes para o CA [conselho de administração] da Petrobras sem discussão prévia", declarou Deyvid Bacelar, coordenador-geral da entidade, em nota emitida ainda na segunda.

Para a FUP, quatro nomes teriam sido escolhidos por Silveira: Pietro Adamo Sampaio Mendes, Carlos Eduardo Turchetto Santos, Vitor Eduardo de Almeida Saback e Eugênio Tiago Chagas Cordeiro e Teixeira. Esses indicados não estariam comprometidos com o projeto de Lula para a nova gestão da Petrobras, na visão da entidade. "São nomes ligados ao bolsonarismo, ao mercado financeiro e a favor de privatizações", complementou Bacelar.

Em entrevista ao site Metrópoles, a deputada e presidenta do PT, Gleisi Hoffmann, afirmou que Silveira preteriu nomes apontados por Prates para o conselho da Petrobras. Cobrou que os nomes escolhidos por Silveira atuem de acordo com o projeto de governo de Lula.

"Ele [Alexandre Silveira] é o ministro de Minas e Energia. Ele não pode colocar um conselheiro que seja contra o que o presidente falou na campanha. Estelionato eleitoral não pode, não", disse Hoffmann. "Os indicados do governo têm que seguir o governo."

Padilha referendou a lista e pediu confiança nos nomes indicados pelo governo. "Tenho certeza absoluta que o ministro de Minas e Energia, que encaminhou a sugestão de membros para o conselho da Petrobras, e todos os conselheiros que representam o governo, vão defender a posição do governo. Eles estão lá para defender o governo."

Confira a lista dos oito indicados pelo governo:

. Pietro Adamo Sampaio Mendes (para presidência do conselho)
. Jean Paul Terra Prates (atual presidente da Petrobras)
. Carlos Eduardo Turchetto Santos
. Vitor Eduardo de Almeida Saback
. Eugênio Tiago Chagas Cordeiro e Teixeira
. Bruno Moretti (substituiu o nome de Wagner Granja Victer)
. Sergio Machado Rezende
. Suzana Kahn Ribeiro

O que é o conselho?

É no conselho de administração da Petrobras que são tomadas as maiores decisões sobre os rumos da empresa. É ele quem dá a última palavra sobre planos de investimento e de privatizações. É ele também quem aprova ou não a indicação de diretores da estatal escolhidos pelo governo. Ele ainda pode alterar a política de preços da empresa, apontada por especialistas como o principal motivo da alta da gasolina e diesel no país.

Este conselho é composto por 11 membros. Cada um deles tem direito a um voto em discussões sobre decisões da Petrobras.

Atualmente, quatro deles são representantes dos acionistas minoritários da Petrobras – investidores que compraram ações da empresa na bolsa de valores; um membro representa os funcionários – a geóloga Ronsangela Buzanelli; e outros seis são indicações do governo federal, o sócio-controlador.

Para a FUP, pelo perfil dos indicados por Silveira, não é garantido que eles votariam seguindo orientações do governo em reuniões do conselho caso venham a assumir um posto no órgão. A FUP listou suas principais queixas contra quatro indicados:

. Pietro Mendes é funcionário de carreira da Agência Nacional de Petróleo (ANP) e foi secretário-adjunto do ex-ministro bolsonarista Adolfo Sachsida.

. Eduardo Turchetto, empresário do setor de açúcar e álcool, responde a processo relacionado à destruição de floresta, com corte de árvores no bioma da Mata Atlântica.

. Vitor Sabak, diretor da Agência Nacional de Águas (ANA), onde está hoje por indicação do senador bolsonarista Rogério Marinho (PL-RN), foi assessor especial do ex-ministro da Economia de Bolsonaro, Paulo Guedes, e articulador da reforma da Previdência. Também trabalhou no governo de Michel Temer (MDB).

. Eugênio Teixeira foi sócio do vice-governador de Minas Gerais e ex-senador Clésio Andrade (MDB) - vacinado contra covid-19 gratuitamente e às escondidas, numa garagem -, na empresa Aurium Trading Importação e Exportação S/A.

Esses nomes, como os outros enviados pelo governo, ainda vão passar por análise do comitê de pessoas da Petrobras. Depois disso, serão submetidos a votação em assembleia de acionistas marcada para abril.

Edição: Nicolau Soares