Representantes de movimentos sociais e centrais sindicais reuniram-se na tarde desta sexta-feira (3) com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, para apresentar sugestões na área econômica, fazer algumas críticas e pedir mais participação em conselhos. "Não pode ouvir só a Faria Lima", afirmou ao final do encontro o presidente da CUT, Sérgio Nobre. A reunião, no escritório do ministério em São Paulo, na sede do Banco do Brasil, na avenida Paulista, durou aproximadamente duas horas. Haddad não conversou com os jornalistas.
Os diversos movimentos levaram ao ministro pontos da pauta debatida ontem (2), na sede da CUT, com as frentes Brasil Popular e Povo sem Medo, além do Fórum das Centrais Sindicais. Um dos principais assuntos foi a taxa básica de juros (Selic). Está previsto um ato na abertura da próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), que será realizada nos dias 21 e 22. Ao final do segundo dia, o órgão do Banco Central vai anunciar a nova taxa, atualmente em 13,75% ao ano. Será o primeiro encontro do Copom após as críticas públicas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e de outros representantes do governo contra os juros. "Essa taxa é um crime contra o desenvolvimento", disse ainda Sérgio Nobre, anunciando manifestações em todo o país.
:: Banco Central e o superministro Campos Neto: a granada neoliberal no colo de Lula ::
Segundo ele, as organizações sociais têm diversas propostas para ajudar o governo a buscar "um crescimento vigoroso" da economia. Inclusive sobre o sistema tributário, completou. As entidades também apresentaram reivindicação para ter mais presença em colegiados, como o Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (Carf), ligado à Fazenda. "Queremos fazer parte desse conselho e expressamos isso ao ministro." Sérgio disse que Haddad se mostrou receptivo: "O ministro da Fazenda está aberto às propostas. Vamos construir uma agenda".
Salário mínimo e IR
Em relação ao salário mínimo, o presidente da CUT observou que um grupo de trabalho acaba de ser constituído para elaborar uma política permanente de valorização do piso nacional. Ele lembrou que, se a política de reajustes não tivesse sido interrompida, o salário mínimo estaria em R$ 1.382,71 e não nos atuais R$ 1.302 – irá a R$ 1.320 em maio, segundo anunciou o governo.
Já o presidente da CSB, Antonio Neto, acrescentou que o Imposto de Renda também fez parte da discussão com Haddad. Ele citou como exemplo a participação nos lucros ou resultados (PLR). "O patrão não paga sobre juros e dividendos, mas o trabalhador paga (imposto sobre PLR)."
:: Para o presidente do Instituto Justiça Fiscal, reforma deve começar taxando os super-ricos ::
Também participaram da reunião, entre outros, os presidentes da Força Sindical, Miguel Torres, e da UGT, Ricardo Patah, e as presidentas da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT), Juvandia Moreira, e do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região, Ivone Silva. Além deles, Gilmar Mauro, dirigente do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), Raimundo Bonfim (Central de Movimentos Populares) e o diretor técnico do Dieese, Fausto Augusto. Estavam presentes ainda representantes do MTST (sem-teto) e organizações estudantis.