Hegemonia

China endurece o tom com os EUA e chanceler alerta para 'conflito e confronto'

Qin Gang alerta para possível "descarrilamento" na relação entre as duas maiores economias do mundo

São Paulo (SP) |
O chanceler chinês, Qin Gang, com a Constiuição de seu país durante coletiva de imprensa - Noel Celis / AFP

O ministro das Relações Exteriores da China, Qin Gang, afirmou nesta terça-feira (6) que os EUA devem "pisar nos freios" para evitar um cenário de "conflito e confrontação". A fala ocorre em um momento de tensão na relação entre as duas potências, com acusações mútuas de espionagem e sanções.

"Se os Estados Unidos não pisarem no freio e continuarem no caminho errado, nenhuma grade de proteção será suficiente para impedir que o trem descarrile e bata, e certamente haverá conflito e confronto", disse Qin.

A fala do chanceler foi acompanhada de um recado similar do presidente chinês, Xi Jinping, durante sessão do legislativo. "Países ocidentais, liderados pelos EUA, implementaram contenção e supressão completas da China, o que trouxe desafios severos sem precedentes ao desenvolvimento do país", afirmou Xi na segunda-feira (6), segundo a agência Xinhua.

Os Estados Unidos aplicam sanções para tentar frear o desenvolvimento tecnológico chinês e têm visões diferentes sobre a guerra na Ucrânia e a situação de Taiwan. No final de 2022, Xi e o presidente dos EUA, Joe Biden, se encontraram durante a cúpula do G20, na Indonésia, mas a reaproximação azedou mais recentemente após uma viagem do Secretário de Estado dos EUA para Pequim ser cancelada. Anthony Blinken acusou os chineses de usar balões para espionar os EUA, acusação rebatida pela China.

O chanceler chinês afirmou que o episódio dos balões indica que a percepção dos EUA sobre a China é "seriamente distorcida" e que a Casa Branca aposta em uma política "viver ou morrer, um jogo de soma zero". Qin também negou a acusação dos EUA de que a China estaria planejando fornecer armas para a Rússia em sua guerra com a Ucrânia, acusando os EUA de tentar escalar o conflito para apoiar "uma certa agenda geopolítica".

"Infelizmente, os esforços para promover a paz e as negociações foram prejudicados repetidamente. Parece que há uma 'mão invisível' que está prolongando e intensificando o conflito, tentando usar a crise ucraniana para servir a algum tipo de conspiração geopolítica”, afirmou.

Qin foi embaixador nos EUA antes de assumir o cargo de chanceler. Em artigo publicado no jornal Washington Post ao deixar o cargo, ele afirmou: "Meu tempo aqui [como embaixador] também me lembra que as relações China-EUA não devem ser um jogo de soma zero em que um lado supera o outro ou uma nação prospera às custas da outra. O mundo é grande o suficiente para a China e os Estados Unidos se desenvolvam e prosperem. Os sucessos de nossos dois países são oportunidades compartilhadas, não desafios em que o vencedor leva tudo."

 

Edição: Rodrigo Durão Coelho