CENTRAL DO BRASIL

Ataques no RN são um grito contra as condições dos presídios, diz pesquisadora

Desde a última terça-feira o estado vem sofrendo ataques organizados por facções criminosas

Brasil de Fato|Recife(PE) |

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Ônibus incendiado na capital potiguar: veículos estão entre os principais alvos dos ataques dos últimos dias no RN - Reprodução/YouTube

Pela terceira madrugada consecutiva, o estado do Rio Grande do Norte vem sofrendo com uma onda de ataques contra prédios públicos, veículos e estabelecimentos comerciais.  As ações são orquestradas por facções criminosas e há suspeitas de que a ordem para os ataques esteja saindo de dentro dos presídios. 

Segundo o último balanço da Secretaria da Segurança Pública e da Defesa Social (Sesed-RN), divulgado às 10h30 desta quinta-feira(16), 66 pessoas já tinham sido presas desde o início da violência, na madrugada de terça-feira (14). Houve registros de incidentes em mais de 30 cidades do estado.

::Após terceira noite de ataques, Rio Grande do Norte já tem mais de 60 pessoas presas::

Para a professora da Universidade Federal do Rio Grande do Norte e pesquisadora sobre o sistema prisional, Juliana Melo, a onda de ataques é um grito de alerta dos detentos contra a situação de precariedade dentro das penitenciárias. Ela acredita que os atos violentos são uma forma de denunciar os casos de tortura, privação alimentar e violação aos direitos humanos vividos dentro da prisão. 

"De modo geral, a gente tem no Brasil um sistema prisional marcado por graves violações, mas o sistema potiguar consegue ainda ter uma carga maior. Há várias denúncias, desde o massacre de Alcaçuz, têm sido feitas sem sejam apuradas ou que essas práticas sejam coibidas", explicou. 

A pesquisadora rebateu também a versão das autoridades de segurança do estado, repetidas também pela imprensa, de que os detentos estariam reivindicando regalias. 

"Infelizmente, muitas pessoas têm tentado desvirtuar  - por ausência de conhecimento ou preconceito - que são pedidos de regalia, por não entender que o que acontece dentro das prisões afeta aqui fora também. São denúncias muito sérias, que envolvem torturas física, psicológica e privação a uma série de direitos que são assegurados legalmente e violados pelo estado", apontou. 

Juliana participou do programa Central do Brasil desta quinta-feira(16) e comentou que "nada justifica a violência, mas ela está associada as condições violadoras que marcam nossos presídios". 

Ela não está isolada ao defender este ponto de vista. Em participação no Central do Brasil, o pesquisador Bruno Paes Manso também apontou que a aposta no aprisionamento em massa tem favorecido a atuação de guangues prisionais. 

::Denúncias apontam violações de direitos na Casa de Custódia de São José dos Pinhais::

Em 2017, um confronto entre facções dentro do presídio de Alcaçuz, na Região Metropolitana de Natal, resultou no maior massacre da história do sistema prisional potiguar, com 27 mortos. A resposta do governo estadual ao caso foi insuficiente, na visão de Juliana. 

"Nós tivemos reformas arquitetônicas, nós tivemos modificações nas dinâmicas. Por exemplo, as fugas eram constantes e havia presença de celulares. Havia relatos de corrupção, com vendas de fugas, e hoje em dia não há isso. Mas hoje foi instaurado um regime disciplinar diferenciado, que é destinado para presos de presídios federais e que não cabe nos nossos presídios potiguares", analisou. 

A entrevista completa da pesquisadora Juliana Melo você acompanha na edição desta quinta-feira(16) do Central do Brasil 

Assista agora ao programa completo



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Edição: Rodrigo Durão Coelho