vão cair?

Em 'super quarta', Brasil e Estados Unidos aguardam decisões sobre taxas de juros

Decisões do Copom e do Banco Central dos EUA impactam a economia de outras partes do mundo

Brasil de Fato | Rio de Janeiro (RJ) |

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Juros no Brasil estão entre os mais altos do mundo - Marcello Casal Jr/Agência Brasil

Veículos de imprensa que cobrem o mercado financeiro estão se referindo a este 22 de março como "super quarta", porque os bancos centrais do Brasil e dos Estados Unidos decidem quais vão ser suas taxas de juros básicas.

Tais índices têm grande influência em praticamente todos os setores da economia, influenciando as taxas  de inflação e empréstimos bancários, por exemplo, apesar de muitos dos tais veículos se aterem apenas às sensibilidades do "mercado".

Levantamento feito pela gestora de investimentos Infinity Asset Management em mais de 150 países mostrou que o Brasil tem hoje a maior taxa de juros reais (calculados quando o índice de inflação é abatido da taxa básica de juros) em todo o planeta. São quase 8 pontos percentuais de diferença entre os 13,75% da Taxa Selic e a inflação oficial dos últimos 12 meses, que está em 5,77%.

Essa discrepância favorece especuladores financeiros, já que o dinheiro investido rende mais parado do que sujeito às incertezas da "economia real", que gera empregos. A Selic alta também atrapalha a recuperação econômica por tornar mais difícil quitar dívidas assumidas, devido aos juros.   

Por isso, os últimos dias foram de protestos convocados por centrais sindicais para chamar atenção sobre os problemas causados pela taxa e pressionar o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC), responsável por definir a Taxa Selic, a baixar o índice. O Banco Central defende a Selic alta como forma de conter a inflação.

Mesmo antes de assumir o governo federal pela terceira vez, o hoje presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) se posicionou fortemente contra os juros altos. O BC é presidido por Roberto Campos Neto, indicado por Jair Bolsonaro (PL), que em 2021 assinou lei que determinou a autonomia do banco em relação ao governo - na prática, tirando de Lula a prerrogativa de nomear o chefe do banco.

“Vou esperar esse cidadão [Campos Neto] terminar o mandato dele para a gente fazer uma avaliação do que significou o Banco Central independente. Esse país está dando certo? Esse país está crescendo? O povo está melhorando de vida? Não. Então, eu quero saber de que serviu a independência”, disse Lula em fevereiro. O mandato a que ele se refere vai até 31 de dezembro de 2024.

:: Entenda a disputa entre Lula e o Banco Central e o que está em jogo na economia ::

Pesquisa recente feita pelo instituto Quaest mostra que o presidente não está sozinho - muito pelo contrário: 76% da população acredita que ele está certo ao pressionar pela queda na taxa.

Nos EUA

A reunião do Federal Reserve (Fed), equivalente nos Estados Unidos ao Banco Central, terá forte influência das falências do Silicon Valley Bank e do Signature Bank, na última semana. Se antes os analistas do mercado financeiro dos EUA faziam previsões de altas nas taxas de juros do país, agora, a tendência é de estabilidade. O patamar atual é o intervalo de 4,5% a 4,75%.

O economista André Roncaglia, professor da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), disse ao Brasil de Fato que as falências vão fazer o Federal Reserve recalcular a rota, e isso pode ter influência direta no Brasil.

"Ter um Banco Central americano subindo menos os juros implica para o Brasil um espaço maior para que o Banco Central brasileiro possa iniciar ou acelerar o processo de corte de juros por aqui", apontou Roncaglia.

O que é a Taxa Selic?

Usada como referência para todas as operações de crédito, a Selic é a taxa paga pelo governo ao tomar empréstimo com investidores. Como o risco de inadimplência nessas operações é muito baixo (já que é extremamente improvável que o governo deixe de pagar seus credores), ela tende a ser a taxa de juros mais baixa existente no país. Outras operações, que envolvam cidadãos ou empresas, têm juros mais altos devido ao risco maior de inadimplência.

Edição: Rodrigo Durão Coelho