COMÉRCIO EXTERIOR

Para pesquisador, Brasil deve avançar em acordos comerciais com a China focados em tecnologia

Marco Fernandes, pesquisador do Instituto Tricontinental de Pesquisa Social, avalia viagem de Lula à China

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |
Lula e o embaixador da China no Brasil, Zhu Qingqiao, em fevereiro de 2023 - José Cruz/Agência Brasil

O presidente Lula embarcou nesta terça-feira (11) para a China. Na agenda oficial, que começa na quinta-feira (12), estão previstas assinaturas de 20 acordos bilaterais, além da participação do petista na posse de Dilma como presidenta do banco dos Brics (bloco formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) e uma reunião com o presidente chinês Xi Jinping.

Apesar das gafes diplomáticas, a relação comercial com a China se manteve mesmo sob o governo Bolsonaro. Para falar sobre a expectativa do encontro entre Lula e Xi Jinping e as parcerias estratégicas entre os dois países, o programa Central do Brasil desta terça-feira (11) conversou com Marco Fernandes, pesquisador do Instituto Tricontinental de Pesquisa Social.

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Fernandes pontuou que a expectativa na China para a visita do presidente Lula é alta e que o comércio entre os dois países ainda é desequilibrado. "A gente vê que a exportação do Brasil para China é baseada em commodities de baixo valor agregado, a soja, o minério de ferro, o petróleo bruto. É quase 90% da nossa exportação. Dos dois lados há essa consciência, tanto do governo Lula de que é preciso elevar o nível - com, por exemplo, transferência de tecnologia em agricultura e em setores como o aeroespacial - e o governo chinês também vem dizendo que essa relação está desequilibrada e que o Brasil é muito maior do que a nossa atual pauta de exportação."

Para ele, a viagem de Lula à China abre portas e possibilidades para que a gente possa avançar numa pauta muito mais estratégica com o país do que "meramente exportar commodities". "Nenhum outro país reúne a capacidade industrial, tecnológica, financeira e política da China para fechar acordos que podem para o Brasil significar um avanço muito grande nos próximos anos."

O pesquisador pontuou que os investimentos chineses não foram poucos no Brasil nos últimos 16 anos e que o país deve apostar em parcerias entre empresas chinesas e brasileiras, as chamadas joint-ventures. "O Brasil foi o quarto maior receptor de investimentos no mundo. O problema é que os investimentos chineses estão muito concentrados no setor de energia, 76% dos investimentos chineses nos últimos 15, 16 anos no Brasil foram somente no setor de energia. Avançar nessa pauta das joint-ventures vai ser estratégico pro Brasil, somente 6% foram para joint-ventures e mais de 70% para fusões e aquisições", defende.

A expectativa também é grande com relação à posse de Dilma como presidenta do banco dos Brics, avalia Fernandes. "O banco dos Brics é uma das principais ferramentas que o sul global vai ter nos próximos anos na construção de um mundo multipolar, de alternativas concretas ao Banco Mundial e ao FMI [Fundo Monetário Internacional]. Pela primeira vez o banco dos Brics vai ter uma liderança global respeitadíssima no mundo inteiro", afirmou.

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Ele acrescenta ainda que, com uma nova representante do banco, abre-se a possibilidade de expansão dos Brics nos próximos anos. "Com essas ferramentas tanto do banco para financiamento de projetos nos países global, como um fundo alternativo, que é o arranjo de reserva contingente, que pode ser uma alternativa ao FMI para países que estão com problemas de reserva internacional."

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