Alianças

Rússia fará o possível para que Venezuela seja menos dependente dos EUA, diz Lavrov em Caracas

Ministro russo já visitou o Brasil e deve passar por Cuba e Nicarágua; temas abordados incluíram alternativas ao dólar

Brasil de Fato | Caracas (Venezuela) |

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Chanceler russo esteve em Caracas nesta terça-feira (18) - Cancillería Venezuela

Em visita à Venezuela nesta terça-feira (18), o chanceler da Rússia, Serguei Lavrov, afirmou que Moscou fará "o possível" para que o país sul-americano se torne cada vez menos dependente "dos caprichos" dos Estados Unidos e que possa superar as sanções impostas por Washington. 

As declarações ocorreram após uma reunião entre Lavrov e o chanceler venezuelano Yván Gil em Caracas, onde o ministro russo cumpre a segunda parte de sua agenda na América Latina. Nesta segunda-feira (17), ele esteve no Brasil e ainda deve visitar Cuba e Nicarágua nos próximos dias.

"Faremos todo o possível para garantir que a economia venezuelana se torne cada vez menos dependente dos caprichos e jogos geopolíticos dos Estados Unidos ou de alguns outros atores do campo ocidental. Estou convencido de que nossa experiência será útil aos amigos venezuelanos, porque em número de sanções já somos campeões mundiais e estamos acumulando experiência rapidamente", disse Lavrov.

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Parceiros econômicos e políticos, Rússia e Venezuela são dois dos países sancionados pelos EUA. No caso venezuelano, a situação se agravou após 2018, quando o ex-presidente estadunidense Donald Trump bloqueou a estatal petroleira PDVSA, principal responsável pela renda do país. Já Moscou foi atingida com sanções financeiras de Washington após o início da guerra na Ucrânia.

Lavrov ainda disse que "a Venezuela é um dos parceiros mais confiáveis ​​da Rússia" e que havia assinado acordos com o chanceler venezuelano para "expandir a cooperação comercial e de investimentos e os contatos entre os círculos empresariais".

Os ministros também abordaram a possibilidade de implementar novos mecanismos de pagamentos internacionais que buscam contornar o uso do dólar. Segundo Lavrov, foram discutidos "progressos em relação ao sistema de troca de informações financeiras".

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"Está sendo criado e é uma alternativa à empresa internacional SWIFT. Os bancos estão trabalhando nisso, e também com o cartão Mir, que permitirá que os turistas russos paguem diretamente na Venezuela, contornando grandes corporações transnacionais", afirmou.

Ainda nesta terça-feira, Lavrov se reuniu com a vice-presidente da Venezuela, Delcy Rodríguez, e deve encontrar o presidente, Nicolás Maduro, no Palácio Miraflores, sede do Executivo venezuelano.

Aproximação latino-americana

Com agenda extensa, Lavrov chegou ao Brasil na última terça-feira para dar início a uma série de viagens por países latino-americanos, incluindo Venezuela, Cuba e Nicarágua. Os três últimos países têm sido aliados próximos de Moscou, por integrarem um grupo de países sancionados pelos EUA.

Por outro lado, as visitas ocorrem em meio aos esforços do governo brasileiro para construir uma agenda de diálogos sobre um possível cessar-fogo na Ucrânia.

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Após se reunir com o chanceler brasileiro, Mauro Vieira, Lavrov disse que a Rússia está interessada "no fim do conflito ucraniano o mais rápido possível".

O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, chegou a comentar a proposta defendida pelo presidente Lula de negociar uma proposta de paz com outros países que não estão diretamente envolvidos no conflito.

"Qualquer ideia que leve em consideração os interesses da Rússia, as preocupações da Rússia, claro, merecem atenção e, claro, devem ser atendidas. E a Rússia está pronta para fazer isso. Para nós, o principal é zelar pelos nossos próprios interesses", disse Peskov.

*Colaborou Serguei Monin, do Rio de Janeiro

Edição: Thalita Pires