Nota de repúdio

Entidades do Ceará divulgam nota de repúdio contra senador Eduardo Girão

Girão quis entregar a réplica de um feto para o Ministro Sílvio de Almeida, que espera o nascimento da primeira filha

Brasil de Fato | Fortaleza (CE) |
A cena foi protagonizada por Girão, na última quinta (27), durante audiência pública no Senador Federal, quando o ministro Sílvio de Almeida apresentava as prioridades da pasta de direitos humanos - reprodução internet

Parlamentares, representantes de entidades e de diversas categorias trabalhistas do Ceará, divulgaram uma nota de repúdio contra a atitude do senador eleito pelo estado, Eduardo Girão (NOVO) que durante uma audiência pública no Senado, na última semana, tentou entregar ao Ministro dos Direitos Humanos, Sílvio de Almeida, a réplica do que seria “uma criança de onze semanas de gestação”, na fala feita pelo próprio senador. 

O Ministro, que já havia anunciado que será pai de uma menina, se recusou a receber a réplica e classificou o ato como “exploração inaceitável” de um problema sério que existe no país.

A carta, assinada por mais de 90 representações, aponta que o objetivo do senador era desviar o foco do debate sobre a descriminalização do aborto, que necessita de políticas públicas respaldadas pela ciência e pela ética. “A cena mórbida e desumana protagonizada pelo senhor Girão visou criar constrangimento para o Ministro no que diz respeito a relevante pauta da descriminalização do aborto”, diz a nota.

Relembre: Silvio Almeida freia teatro de senador bolsonarista com feto plástico: 'Exploração inaceitável'

Em outro trecho da nota, o grupo relembra que o senador Eduardo Girão é um aliado do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e defensor de pautas extremistas, tendo inclusive defendido o uso de medicações contra indicadas durante a pandemia da Covid-19.

“O senador cearense é um conhecido defensor das pautas fascistas e um opositor das evidências e pesquisas científicas, postura negacionista esta que levou a maior tragédia sanitária brasileira, com mais de 700 mil mortos durante a pandemia de covid-19”, diz a nota.

:: Senador Eduardo Girão, o cão de guarda do governo Bolsonaro na CPI da Covid ::


Eduardo Girão abaixa a cabeça e se retira após resposta de Silvio Almeida em tentativa de constrangimento / Reprodução/TV Senado

Confira a nota na íntegra:

NOTA DE REPÚDIO AO SENADOR EDUARDO GIRÃO

Nós cearenses de várias regiões do Estado e representantes de várias categorias de trabalhadoras, trabalhadores e estudantes, viemos a público nos manifestar contra a cena protagonizada pelo senhor Eduardo Girão, ocupante de uma cadeira no Senado Federal reservada ao Estado do Ceará, durante audiência pública neste parlamento com o Ministro dos Direitos Humanos Sílvio de Almeida.

Consta-se que o senhor Girão levou para entregar ao sr. Ministro uma réplica do que seria “uma criança de onze semanas de gestação”, palavras do Senador. A intenção evidente foi desviar o foco de uma questão humanitária que clama por políticas públicas respaldadas pela ciência e a ética. A cena mórbida e desumana protagonizada pelo senhor Girão visou criar constrangimento para o Ministro no que diz respeito a relevante pauta da descriminalização do aborto. Em uma resposta pedagógica, Sílvio de Almeida não aceitou a oferta por se tratar de uma performance desrespeitosa para com ele, para com o tema de grave e dramático alcance e para com os ritos republicanos das instituições do Estado.

O senador cearense é um conhecido defensor das pautas fascistas e um opositor das evidências e pesquisas científicas, postura negacionista esta que levou a maior tragédia sanitária brasileira, com mais de 700 mil mortos durante a pandemia de covid-19. Girão também fez propaganda aberta de medicações contraindicadas, defendeu o governo Bolsonaro durante a CPI da covid e justificou todos os seus erros e suas negligências na compra de vacinas contra a SARS CoV-2. Portanto, antes de ser um contumaz defensor da vida, o senador do Partido Novo age como um verdadeiro cavaleiro do apocalipse obscurantista e charlatão.

Repudiamos cenas como esta por que entendemos que este tipo de performance tem uma estética macabra que, ao avesso de uma obra das artes cênicas que nos comove para elevar o nosso espírito em direção à compreensão e aceitação das virtudes e da importância da superação das limitações humanas, procura forçosamente forjar um clima de terror, constrangimento e culpa no público para que, comovido, repudie qualquer argumento racional oposto ao seu. A interdição do diálogo dentro da lógica do pensamento racional é evidente. E isso em si, corrompe o espaço do parlamento, que por sua natureza é um território institucional da argumentação, da dúvida e da contra-argumentação, ou seja, do franco debate de ideias e projetos políticos por excelência.

A prática do aborto atinge mulheres de todas as camadas sociais, e está longe se ser uma decisão tranquila e sem consequências dolorosas para quem a faz. Esta pauta diz respeito ao Direito Reprodutivo que está intimamente conectado com o direito à saúde, ou seja, com os Direitos Humanos, e desde o século XX é disciplinada pelo Direito Internacional, e discutida pelas Nações Unidas. A questão é até mais ampla do que o importante tema do planejamento familiar, trata-se também do enfrentamento à violência.

Mesmo que a maior parte das mulheres que abortem sejam mulheres casadas e que já têm um filho, sabe-se que a violência sexual contra meninas e jovens também leva a dolorosa escolha de um abortamento. A questão diz respeito à intimidade destas mulheres, à integridade de seus corpos, à sua liberdade e autonomia. Trata-se de se ter cuidados com a sua saúde física e psicológica, pois as mulheres que são levadas à esta prática, não gozam de nenhuma assistência pública, e por conta deste descaso existe uma dramática estatística de morte em função das condições precárias e insalubres dos procedimentos clandestinos. Portanto, para além de um problema de saúde pública, também temos a conexão com o grave problema de desigualdade social e pobreza
extrema.

Uma mulher bem assistida é uma ou mais vidas que se salvam. Esta atitude do senador Girão revela que ele é uma pessoa completamente insensível à empatia diante da dor humana, incapaz de pensar por um segundo sobre o drama das mulheres que em algum momento se relacionam com a necessidade de interrupção de uma gravidez não desejada e suas dramáticas consequências. A utilização de uma réplica de um “corpo de uma criança” mostra o despudor e desrespeito ao manipular uma imagem de um “cadáver”. Desde a antiguidade, a violação dos corpos e ritos e símbolos fúnebres, atrapalhando o descanso eterno dos que se foram é algo abominável e monstruoso. Não é por menos que até hoje a tragédia “Antígona” de Sófocles ainda tem muito a ensinar aos nossos espíritos sobre ética e direito.

Por isso, em respeito à vida das mulheres que morrem cotidianamente vítimas de toda sorte de violências de gênero e são desassistidas pelo Estado, pela sociedade e até por suas famílias, viemos a público manifestar nosso veemente repúdio ao senador Eduardo Girão e nosso apoio à resposta do senhor ministro Sílvio de Almeida, que demonstrou firmeza em defender a vida, o diálogo, a ciência, as crianças, as mulheres e ser um fiel lutador e defensor dos Direitos Humanos.

Ceará, 27 de abril de 2023.

Subscrevem esta nota:

Coalizão Cearense em Defesa da Democracia
ADUFC - Sindicato dos Docentes das Universidades Federais do Estado do Ceará
Associação Brasileira de Juristas pela Democracia – ABJD-CE
Mandato do deputado Renato Roseno – PSOL
Coletivo Rebento de Médicas e Médicas
AJD – Núcleo Ceará
Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra – MST
Central Única dos Trabalhadores, CUT-CE
AOCA – Articulação em Apoio à Orfandade de Crianças e Adolescentes por COVID-19
Centro Popular de Cultura e Ecocidadania
Coletivo Feminista Mulheres do Ceará com Dilma
Mandato do deputado De Assis Diniz, PT
AFAC- Associação de Familiares e Amigos de Crianças com Alergias e Intolerâncias Alimentares
Mandata Coletiva Nossa Cara
Fórum de Mulheres no Fisco – FMFi
Comitê de Defesa da Democracia do São João do Tatuape
Comitê Memória, Verdade e Justiça Ceará
RENAP (Rede Nacional de Advogadxs Populares)
Federação dos Trabalhadores no Serviço Público Municipal do Estado do Ceará- Fetamce
Mandato da veradora Enedina Soares da Silva, PT Caucaia
Movimento Terra Nossa – MTN
Instituto Cultural , Habitacional e Sustentável AMA DOCE
Associação das Mulheres Empreendedoras do Ceará - AME Ceará
Movimento Brasil Popular
Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto, Ceará
Centro Popular de Cultura e Ecocidadania – CENAPOP;
Projeto Lugar do Sentir - Saúde Mental de Trabalhadores em Educação
Frente Evangélica pela Legalização do Aborto (FEPLA)
8m Santa Catarina
Frente Estadual pela Descriminalização das Mulheres e Pessoas com Útero e pela Legalização do Aborto Ceará
Frente de Mulheres do Cariri
Manuel Domingos Neto, professor da UFC
Roberto da Justa, médico e professor da UFC
Ecila Meneses, professora
Mércia Cardoso de Souza, professora universitária
Ranulpho Muraro, advogado
Newton de Menezes Albuquerque, professor UFC
Estevão José Saraiva Mustafa - OAB/CE n. 23.652
Maria de Jesus Cavalcante da Rocha- OAB/CE n.32426
Paulo Rodolfo Frank Filho, OAB/CE n. 49.823
Maria Verônica da Silva Guedes, Jornalista
Nazaré Antero, administradora e militante feminista
Fernando Antônio Castelo Branco Sales Júnior, professor da URCA
Lara de Sousa Duarte - OAB-CE 32.042
Gilberto Moreira Menezes Neto, OAB/CE 49628
Aline Saraiva, professora do Município de Fortaleza
Francisca Maciel, Educadora
Alexandrina Mesquita Mota Brito, Fisioterapeuta
João Alfredo Telles Melo, OAB/CE 3.762
Inocêncio Rodrigues Uchôa, OAB-Ce 3274
Antonio José de Sousa Gomes OAB/CE 23968
Marcelo Uchôa, advogado
Márcio Aguiar, advogado
Luiza Bárbara Cidrak, advogada
João Emiliano Fortaleza de Auino, professor da UECE
Bernadete de Souza Porto, professora da UFC
Estênio Azevedo, professor da UECE
Humberto Bayma Augusto, OAB/CE 16.692
Neilianny Carla Vieira Oliveira, OAB/CE 31.164
Marcelo Gleidson Cavalcante Melo, OAB/CE 16.115
Marcos Vinícius de Sousa Rocha Gomes, estudante e servidor da UFC
Julianne Melo dos Santos OAB/CE 29.503
Clayton Lopes Castelo Branco, OAB 50403
Luiz Carlos Prata Regadas /@TVH_Br
Alexandre Araújo Costa - Prof., UECE
Eveline Nogueira Augusto, historiadora
Carlos Marcos Augusto, 26.769 OAB-Ce
Rozilda Santos- gestora em saúde
Teresa Cristina Esmeraldo Bezerra, professora da UECE
Mauro Gurgel do Amaral Neto, OAB 36.312
David de Souza Vieira, OAB/CE 47.391
Sandra Helena de Souza. Professora
Leila Regina Paiva de Souza OABCE 9515
Gerson Sanford Vieira Lima OAB-CE 34.996
Ana Carolina Filgueiras Rios - OAB/CE 20.990
Kelma Nunes, cress 2574
Mário Mamede Filho, CRM -670
Osmarina Rocha, assistente social
Luiz de Souza Filho (Lula) – Coordenador de Formação Política do SINTSEF/CE;
Luciano de Andrade Filgueiras Filho - Servidor Federal e Delegado de Base do SINTSEF/CE;
Thaís Líssia Gonçalves dos Santos – OAB/CE 21.424;
Mateus de Olivera Alcântara – OAB/CE 19.583
Laura Silveira Rios – Arquiteta (Estar Urbano);
Paulo Norberto Rios Martins - Engenheiro Civil e Tecnólogo Ambiental;
Beatriz Maria Guedes Martins - Gestora Pública e Artesã;
Anna Iracy Araújo Moura Martins - OAB/CE 21.050;
Renê Vieira Dinelli - Psicólogo CRP 11/04773.
Junéia Batista, sindicalista
José Eudes Baima Bezerra, professor da UECE
Ingrid Viana Soares - OAB-CE 19296
Martonio Mont’Alverne Barreto Lima, procurador do município de Fortaleza
Paulo Antônio de Menezes Albuquerque, professor e procurador da UFC
Emerson Maia Damasceno, OAB-CE: 11.600

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Fonte: BdF Ceará

Edição: Francisco Barbosa