Maio Amarelo

DF tem a segunda maior malha cicloviária do país, mas mobilidade urbana continua um desafio

Em 2022, 23 ciclistas morreram no trânsito do DF; ativista afirma que é preciso mudar prioridade para reduzir mortes

Brasil de Fato | Brasília (DF) |
Debates sobre mobilidade urbana no DF dão evidência a uma modalidade de transporte mais inclusiva, sustentável e saudável: a bicicleta - Lúcio Bernardo Jr./ Agência Brasília

Em Brasília, cidade planejada para os carros, a mobilidade urbana é tópico constantemente em debate e disputa. A necessidade de considerar o impacto dos meios de transporte nas mudanças climáticas e no direito à cidade tem impulsionado novas possibilidades de pensar a mobilidade e ocupar as vias no Distrito Federal. O cicloativismo, por exemplo, surge na tentativa de deslocar a centralidade dada ao transporte individual para dar protagonismo a uma modalidade de transporte mais inclusiva, sustentável e saudável: a bicicleta. 

De acordo com a Federação Metropolitana de Ciclismo do Distrito Federal (FMC-DF), o DF conta com mais de 1,1 milhão de bicicletas e cerca de 500 mil ciclistas ativos. Além disso, a capital apresenta a segunda maior malha cicloviária do Brasil, com 636,890 km de extensão, segundo dados da Secretaria de Transporte e Mobilidade do DF (SEMOB). 

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Ainda assim, existem questões importantes que desafiam a mobilidade sobre duas rodas no DF. A baixa integração com as outras modalidades de transporte e a falta de segurança dos ciclistas no trânsito, por exemplo, ainda são problemas. 

Segundo estatísticas do Departamento de Trânsito do Distrito Federal (Detran/DF), em 2022, 23 ciclistas morreram em acidentes de trânsito no DF, cinco a mais do que no ano anterior. A maior parte das mortes (12) aconteceu em vias rurais.

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Para Ana Júlia Pereira, coordenadora de comunicação da ONG de cicloativismo Rodas da Paz, o aumento da morte de ciclistas no trânsito do DF é resultado de diferentes fatores produzidos pela ineficiência da gestão pública em tratar a questão.

“O aumento dos crimes no trânsito que vitimaram ciclistas se deve à excessiva velocidade admitida nas pistas do Distrito Federal, à inexistência de um sistema integrado de ciclovias (um sistema cicloviário) e ao consumo de álcool por quem dirige. O que no final desenha a frágil gestão de trânsito do GDF e a ausência de uma decisão política que tome como inaceitáveis as mortes no trânsito", afirma.

Neste ano, o cenário tem se desenhado menos violento, mas ainda preocupante. Segundo levantamento preliminar realizado pelo Detran-DF, durante o primeiro trimestre de 2023, houve uma redução de 27% no número de acidentes com vítimas fatais no trânsito do DF, quando comparado ao mesmo período do ano passado. 

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A maior redução de mortes registrada foi de ciclistas. De janeiro a março de 2022, ocorreram nove mortes. No mesmo período em 2023, foram registradas quatro ciclistas mortos em acidentes. 

Redefinir prioridades para evitar mortes

Ana Júlia Pereira aponta que o risco de vida para os atores mais vulneráveis do trânsito - ciclistas, pedestres e motociclistas - cresce na mesma proporção do aumento da velocidade nas vias. Segundo ela, os trechos que ligam as regiões administrativas do DF ao Plano Piloto, como o Eixão e a L4 Sul e Norte, em que a velocidade máxima é de 80 km/h, são áreas de “velocidade criminosa e incompatível com a vida”. 

A representante da Rodas da Paz defende que para evitar mortes no trânsito, é preciso mudar a prioridade dada aos carros. 

“O que precisa mudar é a prioridade. Estamos desde os anos 1930 priorizando o automóvel, que é o transporte individual motorizado. E o que é o automóvel no século 21? Uma moto de quatro lugares: transporta uma pessoa e ocupa quatro metros lineares de pista e de dois a quatro metros de largura. É o melhor símbolo de ineficiência como meio de transporte e da nossa falência como sociedade. A prioridade, a partir do século 21, precisa ser a vida. Se tínhamos alguma 'dívida' com os automóveis, já pagamos ao longo de 70 anos. Precisamos priorizar a mobilidade ativa, criar políticas públicas voltadas à preservação da vida no trânsito”, destaca.

Rodas da Paz

Rodas da Paz é uma ONG de cicloativismo criada em 2003 com o objetivo de reagir à violência e ao número crescente de acidentes de mortes no trânsito do DF. O grupo promove ações de incentivo ao uso de bicicleta e campanhas educativas em prol de um trânsito seguro para todos - ciclistas, pedestres, motociclistas e condutores de carros.

“Defendemos que a bicicleta seja tratada como veículo e inserida com segurança e conforto nas cidades. Em nossa pauta estão a defesa da mobilidade ativa e inclusiva, a harmonia entre os atores do trânsito, o direito de todos à cidade e a paz no trânsito”, explica a coordenadora de comunicação da organização. 

Maio Amarelo

Criado em 2014 pelo Observatório Nacional de Segurança Viária (ONSV), o Maio Amarelo é um movimento multissetorial que surge com o objetivo de chamar a atenção da sociedade para a quantidade de vítimas de acidentes de trânsito em todo o mundo. Anualmente, o Detran-DF realiza, durante o mês de maio, ações de conscientização por mais segurança no trânsito. 

Em 2023, a programação do Detran-DF para o Maio Amarelo conta com palestras em escolas, empresas e faculdades, além de ações e blitz educativas em Paranoá, Planaltina, Riacho Fundo II, Estrutural, Varjão, Brasília, Águas Claras e Sobradinho. 

No dia 28 de maio, acontece a 12ª edição do Circuito de Passeio Ciclístico do Detran-DF, em Águas Claras, com palestras direcionadas aos ciclistas sobre os procedimentos de segurança individual e coletiva, montagem de tendas e apresentação de repentistas.

Fonte: BdF Distrito Federal

Edição: Flávia Quirino