Geopolítica

Para especialista, presença de Zelensky no G7 secundariza pautas propostas na cúpula

Professor de Relações Internacionais da UFABC, Giorgio Romano vê Lula preocupado com liderança do G20

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |
"A presença dele coloca todo assunto na sombra", explica Romano - Stefan Rousseau / AFP

No Japão, a chegada do presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, que desembarcou no início da noite deste sábado (horário local), 20, em Hiroshima, pegou de surpresa os participantes do encontro, que viram o europeu se tornar o centro das atenções na cúpula, mesmo fora da agenda oficial.

“O Zelensky foi para a reunião e sequestrou o G7. A presença dele coloca todo assunto na sombra. Ele está lá para ser aplaudido pelo G7”, afirmou Giorgio Romano, professor de Relações Internacionais e Economia da Universidade Federal do ABC (UFABC) e membro do Observatório da Política Externa e da Inserção Internacional do Brasil (OPEB).

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Após pisar em solo japonês, Zelensky pediu uma reunião com o presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva (PT). A comitiva do Brasil ainda não respondeu ao convite do ucraniano e o encontro não está confirmado.

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Mas, para Romano, uma eventual evolução nas conversas pela paz podem favorecer uma perspectiva do governo brasileiro. “Acho que o Lula foi muito consistente desde o primeiro dia. Acontece que alguns governos da Otan foram pouco justos com Lula. Desde o primeiro dia da invasão, o Lula condenou a invasão. Na busca de uma solução, o Lula também faz apelo ao Zelensky, não apenas ao Putin.”

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Em seu discurso, na cúpula do G7, Lula atacou o neoliberalismo e pediu ajuda aos países mais pobres. “O endividamento externo de muitos países, que vitimou o Brasil no passado e hoje assola a Argentina, é causa de desigualdade gritante e crescente, e requer do Fundo Monetário Internacional um tratamento que considere as consequências sociais das políticas de ajuste.”

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Romano lembra que Lula assumirá, ainda neste ano, a presidência do G20, grupo que reúne as vinte maiores economias do mundo, e que lhe interessa trazer para o debate uma posição defendida por países que não integram o G7.

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“As mudanças estruturais devem ser discutidas no G20, onde há a presença do sul global. No G7, eles são convidados apenas para o cafezinho. É importante o Lula utilizar o espaço para dar esse recado, mas é um recado para ouvidos pouco preocupados com esse discurso”, disse Romano.

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Edição: José Eduardo Bernardes