TRADIÇÃO

Vestimentas incríveis: mantos resgatam história do Povo Tubinambá

Mais que vestimenta, mantos são parte da cultura e da relação com as entidades que guiam a etnia, afirma Célia Tupinambá

Brasil de Fato | Recife (PE) |

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As peças são feitas à mão, utilizando basicamente penas de diferentes aves e subprodutos do algodão - Divulgação/UFBA

Uma das tradições e culturas originárias que sofreram apagamento com a colonização do brasil foi a produção dos mantos tupinambás, uma tradição indígena que agora voltou a ser realizada graças a dedicação de Célia Tupinambá. A indígena é que vem resgatando essa tradição cultural e a disseminando por meio de suas peças únicas e cheias de significados. Assista:

A vontade de tecer os mantos surgiu após uma inquietação ao perceber o ato falho de uma universidade que, ao expor a peça, não convidou o cacique, dono da vestimenta, para a cerimônia, explica. “O manto pra mim vem nesse ato político. Num primeiro momento que eu tenho contato com o manto, que eu vou trazer a ele uma evidência, que vou tramar o manto pra ele ter esse momento de protesto, que é essa indignação do cacique”. 

Célia explica que nesse processo, ficou evidente o papel do manto não apenas como uma vestimenta. “E eu entendi o quanto a memória, a história e nosso patrimônio indígena está apagado na memória do povo brasileiro. Eles não sabem do patrimônio que tem e o manto existe desde 1500, desde a retirada do manto aqui do território. Ele é uma entidade, um parente, um ancestral, então é nossa virtude e o nosso encantado na terra” ressalta.


Antiga aquarela sobre pergaminho mostra indígenas brasileiros, um deles com um manto tupinambá / Reprodução

Os mantos tupinambás são peças de vestuário feitas com fibras de algodão e penas de aves, que eram usados pelos indígenas tupinambás em ocasiões especiais, como rituais religiosos e festividades. Com a colonização, essa tradição foi sendo gradualmente perdida, e tinha se tornado rara a produção dessas peças.

Célia, no entanto, decidiu resgatar essa tradição e começou a produzir utilizando conhecimentos ancestrais e técnicas tradicionais, tendo como base a semente de algodão. Para ela, a produção dos mantos tupinambás é uma forma de preservar a cultura de seu povo e de disseminá-la para as próximas gerações

“Eu estou nesse processo de ensinar, das pessoas entenderem o fio, o algodão, a importância de plantar essa semente. A gente tinha essa semente como uma coisa maravilhosa, tecnológica, necessária. Já existia essa semente com a gente, então ter essa semente do algodão era garantia de fogo, roupa, pesca e muitas outras coisas”, relembra ela, se referindo ao papel do algodão em diferentes aspectos da vida do povo tupinambá em outras gerações.

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Com sua produção, Célia Tupinambá é uma das responsáveis por trazer de volta e preservar essa importante tradição cultural dos povos originários, que contribui para a retomada do território físico e imaterial do povo Tupinambá.

Agora, o resgate desse processo conta com um grupo maior da etnia. “Dentro da comunidade, eu trabalho com um grupo de 35 jovens. Então uns aprendem, outros não, alguns têm dificuldades, outros não… e a gente vai caminhando, se educando, aprendendo um pouco sobre a nossa cultura, nossa identidade, o nosso lugar”, conclui Célia.

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Fonte: BdF Pernambuco

Edição: Vanessa Gonzaga