contra o racismo

Anielle confirma contato do governo com autoridades espanholas sobre Vini Jr: 'Isto é um basta'

Ministra da Igualdade Racial diz que quer trabalhar em conjunto com espanhois; direção do Real Madrid agradece a Lula

Brasil de Fato | Rio de Janeiro (RJ) |

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Jogador brasileiro foi alvo de diversas manifestações racistas na Espanha - Reprodução/Instagram

A ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, disse nesta segunda-feira (22) que o governo brasileiro está em contato com autoridades espanholas para tratar de mais uma agressão racista sofrida pelo jogador Vinícius Júnior, do clube espanhol Real Madrid. Em partida contra o Valencia, ele foi chamado de "mono" ("macaco", em espanhol) por boa parte da torcida adversária.

Anielle, que foi jogadora profissional de vôlei, disse que chegou a ficar trêmula ao comentar o caso, e prestou solidariedade a Vini. Ela disse que falou com um familiar do jogador após após o episódio do domingo, e destacou que já estava em contato com outras pessoas próximas dele antes disso, já que houve vários outros ataques ao atleta.

Levantamentos feitos pela imprensa brasileira indicam que o coro racista na cidade de Valência foi pelo menos o décimo episódio de violência racial e ódio contra o jogador de 22 anos, desde 2021. 

"Enquanto eu tiver sangue correndo nas minhas veias, enquanto estiver à frente dessa pasta do Ministério da Igualdade Racial, com o Governo Federal, o presidente Lula, a gente vai cuidar do povo preto brasileiro, seja aqui ou fora do país, porque, se tem uma coisa que assola nossa comunidade preta, é o racismo", afirmou.

"A gente não quer que isso chegue a uma escala muito maior do que já chegou. Isso é um basta."

Segundo Anielle, os contatos entre representantes dos governos do Brasil e da Espanha começaram ainda na noite de domingo. A ministra já esteve na Espanha duas vezes nestes primeiros meses de mandato, e, por lá, assinou memorando de entendimento entre os governos justamente para combater ao racismo.

A ministra disse que o Ministério Fiscal (equivalente na Espanha ao Ministério Público) será acionado por representantes dos dois governos para investigação da La Liga (entidade que administra o campeonato espanhol de futebol) e de todos os casos de racismo. "Não dá para ficar só no 'repudiamos', sem ação concreta", afirmou.

Uma das autoridades espanholas com quem Anielle tratou do assunto, a ministra da Igualdade, Irene Montero, também falou sobre o caso nesta segunda-feira. Em entrevista na comunidade autônoma do País Basco, no norte da Espanha, ela disse que condena "de maneira contundente" as repetidas agressões racistas a Vinícius.

"Normalizar e banalizar os discursos de ódio, os discursos negacionistas da violência contra mulheres, discursos racistas, tem consequências. Temos que ser capazes de criar uma grande mobilização social contra o racismo e a xenofobia, que proteja nossa sociedade", disse.

Real Madrid agradece a Lula

Em nota conjunta publicada pelos ministérios do Esporte, da Igualdade Racial, das Relações Exteriores, da Justiça e Segurança Pública e dos Direitos Humanos e Cidadania, o governo brasileiro repudiou formalmente os ataques sofridos pelo jogador, e reforçou a atuação em cooperação com o governo espanhol para coibir as agressões.

A manifestação formal deu seguimento à fala do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), após participar da reunião do G7 no Japão. Ele pediu que as entidades responsáveis pelo futebol tomem medidas efetivas. "Eu penso que é importante que a Fifa, a Liga espanhola, as ligas de outros países tomem sérias providências. Não podemos permitir que o fascismo e o racismo tomem conta dentro dos estádios de futebol", destacou.

O Real Madrid, clube pelo qual Vinícius atua, agradeceu o presidente brasileiro após os pedidos de medidas para combate ao problema. Em nota oficial publicada nesta segunda-feira (a segunda manifestação formal do clube sobre o tema), o clube agradeceu ainda pelas demonstrações "de carinho e solidariedade" vindas de todo o mundo, e cobrou atitudes dos dirigentes do futebol do país.

 

Edição: Rodrigo Durão Coelho