Crime e castigo

EUA condenam líder de extrema direita a 18 anos de prisão

Stewart Rhodes, fundador do grupo Oath Keepers, foi condenado pela conspiração que culminou na invasão do Capitólio

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Stewart Rhodes em depoimento ao Congresso dos EUA - Brendan Smialowski / AFP

O fundador do grupo de extrema direita Oath Keepers, Stewart Rhodes, recebeu nesta quinta-feira (25/05) uma pena de 18 anos de prisão pela conspiração que culminou na invasão do Capitólio dos EUA, em 6 de janeiro de 2021.

Rhodes é a primeira pessoa acusada pela invasão a ser sentenciada por conspiração sediciosa, e sua sentença é a mais longa até agora entre as centenas de casos relacionados ao ataque. Ele havia sido condenado em novembro, após dois meses de julgamento e três dias de deliberações num tribunal federal em Washington.

Antes de proferir a sentença, nesta quinta, o juiz disse que Rhodes é uma ameaça para os EUA e que ficou claro que ele "quer que a democracia neste país se transforme em violência".

"No momento em que for solto, quando for, sei que voltará a ficar pronto para pegar em armas contra o governo", disse o juiz distrital Amit Mehta.

Este foi um dos casos mais emblemáticos conduzidos pelo Departamento de Justiça americano, que tentou provar que o motim de extremistas de direita, entre eles membros do Oath Keepers, não foi um protesto ocasional, mas algo planejado por semanas para impedir a posse do democrata Joe Biden.

Procuradores queriam pena maior

Os procuradores pediram 25 anos de cadeia para Rhodes, alegando que ele foi o arquiteto de uma conspiração para interromper à força a transferência do poder presidencial que incluía equipes para transportar armas para a capital, se necessário.

Em comentários pouco antes de o juiz proferir a sentença, Rhodes criticou a acusação como sendo "politicamente motivada", alegando nunca ter entrado no Capitólio e insistindo na tese de que nunca disse a ninguém para fazer isso.

"Sou um prisioneiro político e, tal como o [ex-]presidente Trump, o meu único crime é opor-me àqueles que estão destruindo nosso país", defendeu-se Rhodes.

Os procuradores argumentaram que seria necessária uma sentença pesada para impedir a violência política futura.

Um advogado de Rhodes - que já anunciou que irá recorrer da sentença - disse que os procuradores tentam, injustamente, fazer de seu cliente o rosto dos acontecimentos no Capitólio em 6 de janeiro de 2021.


Invasão do Capitólio dos EUA, em 2021. / Olivier Douliery / AFP

Dois outros membros do Oath Keepers – absolvidos da acusação de sedição, mas condenados por outros crimes – ouvirão suas penas nesta sexta-feira, e quatro outros membros considerados culpados de conspiração sediciosa num segundo julgamento, que ocorreu em janeiro, devem ser sentenciados na próxima semana.

Por que Rhodes foi condenado

Em 6 de janeiro de 2021, membros do Oath Keepers atacaram o Congresso americano juntamente com outras centenas de apoiadores do ex-presidente Donald Trump. Incentivados pelo republicano, eles tentavam impedir a certificação da vitória eleitoral do democrata Joe Biden nas eleições presidenciais, ocorridas em novembro de 2020.

Mais de 870 pessoas foram detidas, e uma centena, condenadas à prisão.

A condenação por conspiração sediciosa, que remonta a uma lei aprovada após a Guerra de Secessão (1861-1865) para reprimir os últimos rebeldes do sul, envolve ter planejado o uso da força para se opor ao governo e difere da insurreição, que tem um caráter mais espontâneo.

Rhodes estocou armas

Durante o julgamento no ano passado, os promotores mostraram que Stewart Rhodes começou a reunir suas tropas em novembro de 2020. "Não vamos sair disso sem uma guerra civil", escreveu dois dias após a eleição presidencial em mensagens criptografadas.

Nas semanas que se seguiram, de acordo com os promotores, Rhodes gastou milhares de dólares em dispositivos de visão noturna, armas e munições, armazenando esse estoque em um hotel suburbano de Washington.

No dia do ataque ao Capitólio, munidos de capacetes e equipamentos de combate, entraram no edifício em formação. Rhodes permaneceu do lado de fora, mas, de acordo com os procuradores, liderou as tropas com um rádio "como um general no campo de batalha".

O ex-militar de 57 anos, conhecido por utilizar um tapa olho e pelos discursos inflamados, negou ter "planejado" o ataque, defendendo que o seu grupo estava presente para garantir a segurança da manifestação convocada por Trump para denunciar "a fraude eleitoral".

Formado em direito pela Universidade de Yale, Rhodes fundou o Oath Keepers em 2009, reunindo ex-soldados e policiais, inicialmente para lutar contra o estado federal, que ele considerava "opressivo". Como outros grupos radicais, a milícia foi seduzida pela retórica de Trump e abraçou plenamente as acusações de fraude eleitoral nunca comprovadas pelo líder republicano.