Tensão

Lula garante permanência de Daniela no Turismo, mas destino da pasta a médio prazo é incerto

União Brasil, que já tem três ministérios, pleiteava mudança em pasta já comandada pela legenda

Brasil de Fato | Brasília (DF) |
Daniela Carneiro, deputada eleita pelo União Brasil, pediu desfiliação da legenda no início de 2023. - Pedro França/MTur

Apesar das pressões do União Brasil, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) decidiu manter, por ora, Daniela Carneiro como ministra do Turismo. A informação foi confirmada pelo Secretaria de Comunicação (Secom). Sua permanência no posto, entretanto, não é garantida no médio prazo. 

Parte do União Brasil deseja ver o deputado Celso Sabino (União-PA) no lugar da atual ministra, que também foi eleita para a Câmara dos Deputados pela legenda. Além da pasta, a agremiação ainda almeja o controle da Embratur, hoje sob o comando de Marcelo Freixo (PT).

Outra ala do partido, além das pretensões na Esplanada, também pede que a chefia dos Correios passe para alguém indicado pelo grupo. Todas as exigências tinham como contrapartida não uma adesão firma da bancada à base governista, mas sim a não oposição frontal ao Planalto.

Daniela é casada com Wagner dos Santos Carneiro, conhecido como Waguinho, atual prefeito de Belford Roxo (RJ) e filiado ao Republicanos. Os dois apoiaram a eleição de Lula em 2022, atuando em sua base eleitoral, a Baixada Fluminense.

Lula se reuniu com o casal antes do anúncio da permanência da ministra no cargo. Um dos pontos debatidos foi uma tentativa de atrair o Republicanos para a base do governo e, assim, respaldar o nome da deputada no Ministério. Há a percepção de que - mesmo representando uma força política aliada ao governo em uma região notoriamente bolsonarista - o nome da parlamentar é insustentável no médio prazo caso não haja apoio parlamentar à sua permanência. 

Daniela pediu desfiliação do União Brasil no início de 2023, alegando que o presidente da sigla, Luciano Bivar, agia de forma autoritária no controle de diretórios locais, incluindo o fluminense. A questão está sendo julgada pela Justiça Eleitoral, já que a ministra deseja sair do partido sem perder seu mandato como deputada federal. A clara intenção de abandonar o partido intensificou, de outro lado, exigências do União Brasil para que ela fosse substituída por Lula. 

Crise interna

Além do Turismo, os ministérios comandados pelo União Brasil são o de Comunicações e o da Integração e Desenvolvimento Regional. O primeiro tem como ministro o deputado federal Juscelino Filho (MA) e o segundo é chefiado por Waldez Góes, político do Amapá filiado ao PDT mas indicado pelo União Brasil. Desde o início do atual mandato de Lula, entretanto, a liderança do partido afirma que a presença na Esplanada não garante apoio à agenda do governo no Congresso.

"A gente não faz parte do governo Lula. Vamos votar com o governo o que for de interesse do Brasil", ressaltou Bivar ainda em dezembro de 2022, quando já era certa a presença da legenda entre os ministérios.

As dificuldades do Planalto com o União Brasil são nítidas em votações chave no Congresso, como as do marco do saneamento e do marco temporal. No segundo caso, apesar da orientação do governo em votar contra a tese que limita direitos territoriais de povos indígenas, 48 deputados da legenda - o que equivalente a 96% do total - apoiaram o projeto.

Desunião

A proximidade dos Carneiro com Lula diverge de boa parte dos integrantes do União Brasil, legenda que foi constituída em 2022 a partir da fusão de dois outros partidos de direita: o Democratas, herdeiro da Arena, e o PSL, partido pelo qual se elegeu Jair Bolsonaro, atualmente no PL.

De um lado, o PSL perdeu grande número de parlamentares após a saída do ex-presidente da legenda e também por conta de disputas em torno do controle do partido com Bivar. O Democratas também vivia um processo de desgaste com nomes importantes abandonando a legenda, como o ex-presidente da Câmara dos Deputados Rodrigo Maia. 

Ao longo de 2021 até o início de 2022, o partido foi buscado por PSDB e MDB na tentativa de constituição de uma candidatura única para as eleições presidenciais. Até mesmo o nome de Sérgio Moro foi cogitado como presidenciável da legenda, mas o ex-magistrado acabaria se candidatando ao Senado após ter seu nome vetado no interior da legenda, principalmente por ex-integrantes do Democratas.

O União Brasil se retirou das negociações com MDB e PSDB e lançou a senadora Soraya Thronicke como candidata à Presidência. No segundo turno, não definiu apoio a nenhum dos postulantes. 

Atualmente, a bancada do União afirma que não foi consultada sobre as indicações para ministérios. Deputados da legenda alegam, por exemplo, que Waldez Góes, ministro da Integração Regional, é uma indicação de Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), e não do partido. 

As indicações aos ministérios envolvem também a disputa entre Planalto e Congresso, especialmente com Arthur Lira (PP-AL). Celso Sabino, cotado para substituir Daniela, se associou com a campanha de Bolsonaro em 2018, o que causou constrangimentos ao PSDB, sigla à qual pertencia. Uma vez no União Brasil, se tornou um deputados mais próximos de Lira: presidiu a Comissão Mista do Orçamento de 2022 e foi cotado até para presidir a CPMI do 8 de Janeiro. 

Diante deste cenário, Waguinho afirmou que a família estaria pagando o preço político de ter apoiado Lula, e que a substituição que não chegou a ocorrer seria trocar "a [deputada federal] mais votada do Rio de Janeiro" por um "homem bolsonarista", também já qualificado por ele como "frouxo" e "machista". O próprio Waguinho afirma, porém, que a presença de Daniela na Esplanada faz parte da "cota pessoal" de Lula. O que significa dizer que seu nome não é respaldado pela sigla que a esposa deseja abandonar.

Edição: Thalita Pires