Xadrez mundial

Biden recebe presidente da Índia na Casa Branca para tentar frear China e Rússia

Presidente tenta balancear os anseios da sua base interna com os interesses da política externa estadunidense

Nova Iorque |
Biden quer atrair a Índia para perto dos EUA, mas o país asiático joga em múltiplos times - AFP

Nesta quinta-feira (22), o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, recebeu na Casa Branca o primeiro-ministro indiano Narendra Modi. A reunião teve grande repercussão nos EUA e no mundo, principalmente pela  importância da visita e do que ela pode significar. A Índia é uma peça fundamental na geopolítica  mundial e o governo estadunidense tenta trazer o país para perto, apesar das críticas internas.

Membro do Brics, recentemente a Índia se tornou o país mais populoso do mundo, ultrapassando a China. No cenário econômico, o país asiático foi um dos que apresentaram maior crescimento do PIB em 2022: 8,2%. A antiga colônia britânica superou o Reino Unido e tornou-se a 5ª maior economia do planeta.

Mas, para além dos números, a Índia é importante para os Estados Unidos pela sua posição no tabuleiro global. O país pode, ao mesmo tempo, ajudar ou atrapalhar a luta dos estadunidenses para manter o seu status hegemônico.

A Índia é um importante parceiro comercial da Rússia, sobretudo após o boicote europeu ao petróleo russo. O país asiático passou a importar óleo cru da Rússia com preço mais baixo. A quantidade de barris superou aqueles comprados do Iraque e da Arábia Saudita. Na Índia, o petróleo é refinado e vendido - inclusive para a Europa, que aumentou em aproximadamente 30% a importação de diesel e combustíveis de avião indianos, segundo dados da Kpler.

Um impasse histórico, porém, entre Índia e China, pode aproximar Modi dos Estados Unidos. Há décadas, os dois gigantes brigam por territórios na região do Himalaya.  A disputa na fronteira, que levou a uma guerra nos anos 1960, hoje se materializa na crescente tensão entre os dois países que constroem infraestrutura e aumentam a presença militar na região.

Dentre os acordos debatidos entre Biden e Modi, há um que permitirá que a General Eletric produza motores na Índia para serem usados em aeronaves militares indianas. Em contrapartida, navios da marinha estadunidense poderão atracar em portos do país para reparos. Além disso, os EUA devem fazer um investimento de bilhões de dólares para começar a produzir semicondutores no estado natal de Modi - uma tentativa de diminuir o poder chinês sobre a produção desta tecnologia.

Em casa, porém, a visita não foi bem vista por parte da base de apoio de Joe Biden. O New York Times, que geralmente se alinha ao democrata, afirmou que “Biden jogou o discurso da democracia para o escanteio para receber Modi”. Narendra Modi é um líder conservador, acusado de intolerância religiosa, ataques à mídia e a opositores. Do lado de fora da Casa Branca, um grupo protestou contra a visita.

Edição: Thales Schmidt