Ouça a entrevista

População brasileira precisa tornar doação de sangue um hábito cotidiano, diz especialista

Em conversa com o BdF, especialista da Fiocruz tira dúvidas e esclarece mitos sobre o assunto

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |

Ouça o áudio:

Junho Vermelho traz uma série de ações globais para incentivar doações - Rodrigo Nunes / MS

Menos de 2% da população brasileira doa sangue regularmente, de acordo com dados do Ministério da Saúde. O índice está dentro do intervalo recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), que varia de 1 a 3%. Ainda assim, não é suficiente para atender a demanda do país. 

A campanha do Governo Federal para o Junho Vermelho deste ano, mira justamente nesse problema, com o lema Quando você doa sangue ajuda a salvar muitas vidas, doe sangue regularmente. O mês é celebrado globalmente com ações para ampliar as doações no mundo todo.  

“Embora a hemorrede brasileira esteja disponível no país como um todo, ainda temos um efetivo de pessoas que buscam a doação muito baixo. São aproximadamente 3 milhões e 200 mil pessoas que fazem a doação a cada ano. Considerando o tamanho da nossa população, é muito pouco”, afirma Alexandre Vizzoni, coordenado da Agência Transfusional do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas da Fundação Oswaldo Cruz (INI/Fiocruz)

Em entrevista ao Brasil de Fato ele tirou dúvidas sobre o tema e esclareceu mitos a respeito do processo de doação. “Precisamos quebras alguns paradigmas. Um exemplo, muitas pessoas acham que se doarem sangue uma vez serão obrigadas a doar sempre, o que não é verdade. É importante que façamos essas informações chegarem.” 

Quem pode doar?

Para doar é preciso cumprir alguns requisitos básicos. Estar em boas condições de saúde, ter entre 16 e 69 anos e pesar no mínimo 50kg. No dia anterior, é necessário descanso e boa alimentação. Além disso, a frequência das doações também é controlada, para homens é estabelecido um intervalo de 60 dias entre uma doação e outra; para mulheres o prazo é de 90 dias. 

Resfriados também criam os chamados impeditivos temporários. A recomendação é de que se espere sete dias após o fim dos sintomas para doar sangue. Mulheres que acabaram de ter filhos estão liberadas para a doação 90 dias após o parto normal e 180 dias em caso de cirurgia cesariana. Quem está amamentando deve esperar 12 meses. 

Doadores e doadoras que tenham feito tatuagens ou pigmentações definitivas devem aguardar um ano. Algumas vacinas também inabilitam a doação por determinado período. A vacina da gripe deve ter intervalo de 48 horas antes da coleta de sangue. Já as vacinas contra a covid variam de 48 horas a sete dias, a depender da marca.   

“Tivemos uma epidemia que afastou muitos doadores. Estamos em um processo de resgatar esses doadores, que ficaram durante muito tempo dentro das casas e tiveram receio de ir pro banco de sangue. É um trabalho de trazer esses doadores de volta para o hemocentro”, afirma Vizzoni. 

O ano todo

O especialista ressalta a importância de efemérides, como o Junho Vermelho, para incentivar as doações, mas ressalta que as campanhas para manter os estoques dos hemocentros em níveis adequados precisam ser realizadas ao longo de todo o ano. 

“Não há prejuízo nenhum para quem faz a doação. O prejuízo está na não doação, quando não conseguirmos ajudar mais pessoas. O nosso grande estímulo é fazer as pessoas entenderem que, cada vez mais, elas precisam ser doadoras de repetição”, alerta Vizzoni.

Ele cita a o peso da informação para que esse objetivo seja atingido. “Precisamos mostrar aos doadores a importância deles nesse processo. É uma questão cultural e de educação. Precisamos mudar as pessoas. Geralmente elas vão ao hemocentro quando algum familiar ou amigo pedem. Queremos que elas retornem de forma voluntária depois dessa experiência.” 

O Brasil possui hoje 2.097 serviços de hemoterapia, entre centros de coleta, hemocentros, hemonúcleos, unidades de coleta e transfusão e agências transfusionais. Clique aqui para ter informações sobre os principais endereços da rede. 

Ouça a íntegra da entrevista no tocador de áudio abaixo do título desta matéria. 

Edição: Rodrigo Durão Coelho