Mulheres no topo

Jogadoras da seleção também são conhecidas pela defesa da igualdade de gênero no futebol

A atacante Marta é a integrante do elenco que mais se posiciona nas redes sociais

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |
Time participa da Copa do Mundo FIFA de Futebol Feminino entre 20 de julho e 20 de agosto na Austrália - Divulgação/Thais Magalhães/CBF

As jogadoras seleção brasileira de futebol, que participam da Copa do Mundo FIFA de Futebol Feminino entre 20 de julho e 20 de agosto, na Austrália, contrastam com os homens quando o assunto é engajamento em temas sociais. Enquanto a maioria dos homens evita entrar nesse tipo de bola dividida, as mulheres se destacam por marcar posição.

Um dos momentos em que elas publicizaram suas opiniões foi quando o Corinthians a contratou o técnico Cuca para o time masculino. Cuca foi condenado em 1989 pela Justiça da Suíça por manter relação sexual com uma menina de 13 anos em um hotel. A pena de 15 meses e o pagamento de US$ 8 mil, no entanto, nunca foram cumpridos. 

Nas redes sociais, as jogadoras do clube postaram um texto com o título "Respeita As Mina", no qual afirmam que "estar em um clube democrático significa que podemos usar a nossa voz, por vezes de forma pública, por vezes nos bastidores". 

“'Respeita As Minas' não é uma frase qualquer. É, acima de tudo, um estado de espírito e um compromisso compartilhado. Ser Corinthians significa viver e lutar por direitos todos os dias", diz a publicação. Das jogadoras do Corinthians que publicaram a manifestação e foram convocadas para a seleção brasileira, estão a defensora Tamires e as meio-campistas Duda Sampaio e Luana. 

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

Uma publicação compartilhada por Tamires Dias (@tamires)

Recentemente, em um encontro da seleção com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Tamires agradeceu o apoio do petista ao futebol feminino. "É um momento único, histórico e muito simbólico, porque hoje a gente está trazendo mais esperança, alegria e motivação para tantas meninas que sonham em ser jogadoras de futebol e que querem um dia servir à seleção e ser reconhecidas por jogar futebol. Obrigada por nos dar essa oportunidade", afirmou.

"A gente falou sobre desenvolvimento e eu tenho certeza de que hoje essa sementinha de esperança foi plantada no coração de tantas meninas que sonham", disse Tamires se dirigindo ao presidente. 

Outra jogadora que já se posicionou nas redes sociais foi a defensora zagueira Rafaelle Souza, que joga no Orlando Pride, dos Estados Unidos. Em seu perfil no Instagram, ela publicou uma imagem com comentários machistas contra a presença de mulheres no futebol. Os comentários diziam respeito a uma reportagem da TNT Sports sobre o aniversário de 80 anos de um decreto-lei que proibiu mulheres de jogar futebol no Brasil durante o governo de Getúlio Vargas.  

Na legenda, Rafaelle disse que se impressionou "com a quantidade de homens que, ainda em 2021, pensam dessa forma. Será um problema das mulheres? Ou eles que não evoluíram mesmo depois de 8 décadas?". 

Na mesma linha se destaca a atacante Marta Vieira da Silva. É comum encontrar em suas redes sociais, por exemplo, publicações da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre o igualdade de gênero.  

Em uma dessas publicações, a atacante reproduziu a fala de António Guterres, secretário-geral da ONU. "O retrocesso nos direitos humanos - especialmente os direitos das mulheres e meninas - continua. Sempre iremos reagir - e avançar - para defender os direitos humanos."

Em 2018, a ONU Mulheres anunciou Marta como Embaixadora da Boa Vontade para mulheres e meninas no esporte. Desde então, a jogadora tem se empenhado em prol da igualdade de gênero e empoderamento das mulheres no âmbito esportivo. Sua influência e exemplo têm sido uma fonte inspiradora para desafiar estereótipos de gênero e ultrapassar obstáculos. 

A jogadora também vem se dedicando a defender a igualdade de oportunidades para mulheres e meninas no esporte, abordando questões como o investimento desigual, discriminação e até assédio sexual que muitas vezes enfrentam no meio esportivo.  

Quando foi nomeada pelo ONU, Marta afirmou estar "totalmente comprometida em trabalhar com a ONU Mulheres para garantir que mulheres e meninas em todo o mundo tenham as mesmas oportunidades que homens e meninos têm para realizar seu potencial e eu sei, da minha experiência de vida, que o esporte é uma ferramenta fantástica para o empoderamento".

"Em todo o mundo, hoje, as mulheres estão demonstrando que podem ter sucesso em papéis e posições anteriormente mantidas para os homens. A participação das mulheres no esporte e na atividade física não é exceção. Por meio do esporte, mulheres e meninas podem desafiar normas socioculturais e estereótipos de gênero e aumentar sua autoestima, desenvolver habilidades de vida e liderança; elas podem melhorar sua saúde e posse e compreensão de seus corpos; tomar consciência do que é violência e como evitá-la, procurar serviços disponíveis e desenvolver habilidades econômicas", disse a atacante. 

Mesmo longe da política institucional, a jogadora também já se manifestou indiretamente ao curtir uma foto do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em caminhada do senador Renan Filho (MDB) pelas ruas de Maceió, em Alagoas, durante campanha eleitoral, no ano passado. 

Em 2021, a jogadora também publicou uma foto sua nos stories do Instagram com a legenda "uns serão lembrados como os melhores da história, já outros..." depois que ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) criticou a comparação de salários de Neymar e Marta em uma questão do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) de 2020.

Na ocasião, Bolsonaro afirmou que "o banco de questões do Enem não é do meu governo ainda, é de governos anteriores. Tem questões ali ridículas ainda, ridículas, tratando de assuntos... Comparando mulher jogando futebol e homem, porque a Marta ganha menos que o Neymar. Não tem que ter comparação. O futebol feminino ainda não é uma realidade no Brasil. O que o Neymar ganha por ano todos os times de futebol junto no Brasil não faturam por ano. Como que vai pagar para a Marta o mesmo salário? Isso chama-se iniciativa privada. Ela que faz o salário, ela que mostra para onde o mercado deve ir". 

Edição: Thalita Pires