ELEIÇÃO NO EQUADOR

Equador: reta final da corrida presidencial é desafio para candidata de esquerda Luisa González

Violência brutal da campanha parece ter prejudicado Luisa González, que provavelmente terá de enfrentar segundo turno

Brasil de Fato | Botucatu (SP) |
Campanha em Quito do candidato Topic, que acha que armar os cidadãos equatorianos é uma boa medida contra a violência que assola o país - MARTIN BERNETTI / AFP

Termina nesta quinta-feira (17) a campanha para as eleições gerais do próximo domingo no Equador. Foi a corrida presidencial mais violenta da história recente do país, na qual políticos foram assassinados, incluindo um candidato, Fernando Villavicencio.

Embora seja proibido difundir resultado de pesquisa às vésperas da eleição, dados extraoficiais indicam que os dois nomes mais bem colocados são Luisa González (Revolução Cidadã, de esquerda) e Jan Topic (Partido Social Cristão, de direita).

A candidata do ex-presidente Rafael Correa (2007-2017), que liderou boa parte da corrida eleitoral, estaria agora em empate técnico com Topic. Ambos teriam algo na faixa de 20% a 25% das intenções de voto, o que indica que deverá haver segundo turno.

Se essa votação se confirmar nas urnas, será um resultado abaixo da média para a Revolução Cidadã, cujo “voto duro” costuma ser de 34% — com 40% dos votos, a candidatura vence no primeiro turno, desde que tenha ao menos 10% de vantagem para a segunda colocada.

A morte de Villavicencio pode ter prejudicado González, especialmente pelas acusações feitas sem evidências de que Correa estaria envolvido com o assassinato. E a maioria dos votos do candidato assassinado podem ter migrado para Topic (extrema direita) e não para a direita tradicional.

Existem oito candidatos. Seis são assumidamente de direita, sendo que um deles, o "antissistema" Topic, flerta com o fascismo, na linha de armar a população para combater a violência desenfreada que assola o país. Yaku Pérez, o candidato indígena e ecologista que em tese seria de esquerda, tem atitudes e declarações que o posicionam de fato na centro-direita, pois parecem ir na contramão de um caminho progressista, sobretudo no que diz respeito à política externa e integração latino-americana. A única candidatura de fato progressista é a de Luisa González, da Revolução Cidadã.

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González é a única candidata mulher. Todas as outras chapas usam a mesma fórmula para seguir a regra da paridade de gênero que estipula que as mulheres devem ocupar 50% das candidaturas: homem na cabeça de chapa, mulher na vice. Ao longo da campanha, a candidata correísta sofreu fortes ataques de cunho sexista.

Mas a candidatura de esquerda enfrenta também outros tipos de dificuldade, notadamente o linchamento midiático por parte da grande imprensa e o lawfare (perseguição política por meio de mecanismos judiciais). O ex-presidente Correa enfrenta cerca de 30 processos, sendo que está condenado em última instância em dois deles.

Mandato será curto

Se houver segundo turno, será em 15 de outubro. E os eleitos tomarão posse no final do ano. Trata-se de uma eleição antecipada, pelo fato de o atual presidente, Guillermo Lasso, ter acionado o mecanismo da 'morte cruzada' recentemente. Como as próximas eleições, pelo calendário normal, estão previstas para fevereiro de 2025, a pessoa eleita para presidir o país governará apenas por cerca de 1 ano e meio.

Lasso decretou morte cruzada para evitar seu impeachment, o que na prática significa dissolver a Assembleia Nacional e encerrar o mandato presidencial antes da hora. Ele queria, com isso, ganhar tempo para seguir com sua agenda neoliberal, mas até o momento não obteve êxito. Por outro lado, quem anda concretizando seus objetivos é o crime organizado. Depois de registrar 22 mortes violentas por 100 mil habitantes em 2022, o Equador já soma 25 neste ano, o que pode resultar num total anual de 35 se o ritmo se mantiver, um índice próximo do de Honduras e superior aos de México e Colômbia.

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Edição: Rodrigo Durão Coelho