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Após líder republicano 'travar', idade de políticos reacende debate nos EUA

Saúde de Mitch McConnell pode atrapalhar retórica anti-Biden da oposição

Brasil de Fato | Nova York (EUA) |

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O senador travou por diversos segundos durante uma coletiva de imprensa pela segunda vez em 2 meses - AFP

No fim de agosto, o líder republicano no Senado dos EUA, Mitch McConnell, congelou por 30 segundos em meio a uma coletiva de imprensa no estado de Kentucky, o que levantou questionamentos sobre a saúde do senador.

Esse não foi o primeiro episódio do tipo. Em 26 de julho, em uma coletiva no Capitólio, o republicano teve que ser retirado por assessores após ficar em silêncio por quase 20 segundos. Olhando para o nada, o senador parecia ter desligado por alguns instantes.

Em março deste ano, McConnell, que é um ano mais velho que o presidente Joe Biden, sofreu uma concussão após uma queda. Existem especulações de que as recentes travadas do senador estejam ligadas ao acidente, mas médicos e pesquisadores acham pouco provável.

“80% das pessoas resolvem suas concussões, seus sintomas de concussões, em entre 3 e 4 meses. Tem uns 20% persistentes que têm sintomas que duram mais, até um ano, algumas questões vestibulares, onde balanço e vertigem são uma questão”, diz Gerald Voelbel, neurocientista da New York University (NYU) que conversou com o Brasil de Fato sobre o assunto. E ele conclui: “nada do que o senador McConnell demonstrou nas coletivas de imprensa seria considerado reação de uma concussão”.

Um peso, duas medidas

O mistério sobre o estado de saúde de Mitch McConnell pode parecer, pra quem vê de longe, como uma questão menor. Algo privado e que não deveria ganhar tanta atenção. Mas com as crescentes críticas dos republicanos em relação à idade avançada de Biden, e supostos problemas de saúde do presidente, esses episódios ganham grande relevância na disputa eleitoral do ano que vem.

Debates sobre a idade e a saúde dos líderes políticos não são uma novidade nos Estados Unidos, mas vem ganhando força nos últimos anos com a presença cada vez maior de líderes idosos em ambos os grandes partidos do país.

“Nós podemos pensar em muitos exemplos”, conta Heath Brown, professor de Políticas Públicas da City University of New York (CUNY), “John F. Kennedy é um. A sua saúde era algo que preocupava muito seus conselheiros e eles conseguiram, na maior parte, esconder essa questão dos eleitores. A idade de Ronald Reagan certamente foi uma questão predominantemente na campanha de 1984”.

Brown explica que “isso é algo que surge rotineiramente e de forma importante, porque quando os eleitores tomam decisões sobre seu candidato preferido eles estão tentando entender sua aptidão para o cargo e questões de saúde sempre serão consideradas”.

Ao tomar posse em 2021, com 78 anos, Biden se transformou no presidente mais velho da história dos Estados Unidos. De lá pra cá, republicanos constantemente atacam a capacidade do presidente em liderar o país, sobretudo quando ele troca palavras em discursos ou apresenta dificuldades ao falar.

No primeiro debate das prévias republicanas, mediado pela Fox News no mês passado, pré-candidatos chegaram a falar sobre limite de idade para cargos eletivos e testes de capacidade física e mental. Tudo, claro, tendo como base o atual presidente.

“O presidente Biden tem uma longa história de impedimento de fala”, conta Gerald Voelbel, “isso não é um distúrbio clínico que o impeça de estar consciente, ou que o impeça de ter as capacidades cognitivas que o permitem estar consciente de onde está ou do que está fazendo. É apenas uma questão de fala”.

Trump tem problemas maiores que a idade

Em 2024, o cenário mais provável da eleição presidencial é uma revanche entre Biden e Trump. O republicano, com 77 anos, é apenas 3 anos mais novo que o democrata. A questão da idade, porém, não parece ter o mesmo peso para Trump do que tem para Biden.

“Eu acho que cada campanha identifica quais são as fraquezas do seu oponente”, diz Brown, “e eu acho que os democratas viram muitas fraquezas em Donald Trump, seja em 2016, em 2020, ou mesmo hoje. O fato da idade de Donald Trump não estar no topo da sua lista de críticas da campanha, eu acredito, não é um indicativo da sua idade, mas das outras questões que ele traz para a disputa”.

Após o segundo episódio de congelamento de Mitch McConnell, lideranças da ala mais à direita do Partido Republicano começaram a pedir a renúncia do senador, como a deputada da Geórgia Marjorie Taylor Greene.

McConnell, porém, já anunciou que cumprirá o mandato de liderança até o final, após as eleições. Algo que pode atrapalhar as críticas da oposição em relação ao presidente, sua idade e saúde.

“É difícil não ser hipócrita quando críticas à idade de um oponente são levantadas quando o mesmo não acontece com membros do próprio partido”, conclui o professor da CUNY, “então, eu acho que se eles quiserem fazer da idade uma questão, eles vão ter que abordar o tema de uma forma muito cuidadosa, porque existem tantos republicanos mais velhos concorrendo quanto democratas. E existem democratas e republicanos que enfrentaram questões físicas e de saúde, e que podem ser alvo de críticas, válidas ou não, em ambos os partidos”.

Edição: Thales Schmidt