ASSEMBLEIA DA ONU

Lula na ONU: presidente brasileiro angaria aplausos dentro e fora dos grandes palcos

Presidente teve agendas importantes nos EUA e foi uma das prioridades da Casa Branca

Brasil de Fato | Nova York (EUA) |
Lula se tornou o presidente brasileiro que mais vezes representou o país na Assembleia Geral das Nações Unidas - AFP

Era noite no último sábado (16) quando Lula desembarcou em Nova York. Na porta do hotel, apoiadores já se aglomeravam para receber o presidente e sua comitiva de oito ministros que enfrentariam uma agenda cheia de eventos nos próximos dias.

“É uma alegria pra gente estar aqui pela primeira vez, depois de sete anos de resistência, fazendo um ato de alegria, um ato de boas vindas, um ato de welcome ao nosso presidente”, disse Myriam Marques, brasileira que mora há mais de 20 anos na cidade.

Myriam faz parte do Defend Democracy in Brazil (DDB), um coletivo militante que ajudou a fundar. Ela lembrou que participaram de muitas manifestações contra Jair Bolsonaro nos últimos anos. Além do DDB, estavam presentes também o Comitê de Lutas Nova York, New Jersey e Pensilvânia, o núcleo do PT de Boston e o PSL (Partido por Socialismo e Libertação, em inglês).

A abertura da Assembleia Geral

Na sede das Nações Unidas, como é tradição, Lula abriu a discussão entre os líderes mundiais. No discurso, o presidente falou de meio ambiente, paz mundial e governança global. Tudo isso sob o guarda-chuva da desigualdade, tema que permeou toda a sua participação.

Após um apagão na imagem internacional do Brasil, Lula resumiu o cenário atual: “a esperança, mais uma vez, venceu o medo. Nossa missão é unir o Brasil e reconstruir um país soberano, justo, sustentável, solidário, generoso e alegre. O Brasil está se reencontrando consigo mesmo, com a nossa região, com o mundo e com o multilateralismo. Como não me canso de repetir: o Brasil está de volta”.

Após a primeira intervenção, Lula foi interrompido sete vezes por aplausos dos líderes globais presentes. O seu discurso foi o único saudado, dessa maneira, na abertura da 78ª Assembleia Geral das Nações Unidas.

O presidente usou o maior palco da diplomacia mundial para defender uma nova ordem com protagonismo do Sul Global. Retomando uma tradição brasileira, escanteada durante o último governo, Lula criticou o embargo a Cuba.

“O Brasil seguirá denunciando medidas tomadas sem amparo na carta da ONU como o embargo econômico e financeiro imposto a Cuba, e a tentativa de classificar este país como um estado patrocinador do terrorismo”, disse Lula.

Ao falar de governança global, Lula foi incisivo: “Quando as instituições reproduzem as desigualdades, elas fazem parte do problema e não da solução. […] A representação desigual e distorcida na direção do FMI [Fundo Monetário Internacional] e do Banco Mundial é inaceitável”.

Lula citou a Ucrânia em meio a tantos outros conflitos, como na Palestina, no Haiti, Yemin, Líbia, Sudão, entre outros. O brasileiro foi fortemente aplaudido, mas Volodmir Zelensky se manteve imóvel.

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Do lado de fora, manifestantes tomaram as ruas na região central de Manhattan. Um grupo carregava cartazes e panfletos em defesa do Brics. Linne Speed, integrante do grou LaRouche Organization, explicou ao Brasil de Fato o que faziam ali.

“A história dos Estados Unidos é a primeira revolução anticolonialista do mundo”, disse Linne, “e nós temos que trazer os EUA de volta para essa tradição. Os EUA deveriam estar trabalhando e colaborando com o Brics pelo desenvolvimento econômico e para acabar com essas guerras insanas e sem vencedores. A Ucrânia é uma guerra de procuração para uma confrontação entre o Ocidente e a Rússia, o que é um desastre”.


Fora do palco da Assembleia da ONU, movimentos populares se manifestaram nas ruas de Nova York / Pedro Aquivo


Agendas importantes na quarta-feira

Mas o presidente não parou por aí. Diante de 60 pedidos de reuniões bilaterais, Lula focou em integrantes da União Europeia, com quem pretende fechar acordo enquanto estiver presidindo o Mercosul.

As reuniões mais importantes ficaram para quarta-feira. No início da tarde, Lula se reuniu a portas fechadas com o presidente dos
Estados Unidos, Joe Biden, e fechou um acordo histórico em defesa dos direitos trabalhistas no século XXI. Lula foi a única agenda de Biden para além de Natanyahu - presidente de Israel - naquele dia.

Em um segundo momento, aberto à imprensa e convidados, Biden disse: “Durante os últimos dias, líderes mundiais falaram sobre mudanças climáticas, desenvolvimento sustentável, segurança alimentar, resiliência econômica… mas nós sabemos que o nosso sucesso com esses desafios depende dos nossos trabalhadores”.

O presidente dos EUA explicou que “eles [os trabalhadores] vão fazer nossa transição para a energia limpa. Eles vão manter nossa cadeia de produção segura. Eles vão construir a infraestrutura que precisamos para manter nossas economias fortes. Então nós precisamos empoderá-los também. Essa parceria é sobre isso. E na verdade essa parceria foi ideia desse cara”, afirmou apontando para o presidente brasileiro.

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Em seguida, Lula recebeu o presidente da Ucrânia, Volodmir Zelensky. Foi uma para "quebrar o gelo", como definiu o chanceler ucraniano Dmytro Kuleba. O tão aguardado encontro aconteceu no hotel da comitiva Brasileira, por onde Zelensky entrou e saiu sem conversar com a mídia.

“Foi uma reunião importante”, disse Kuleba, “eu poderia até usar a expressão não diplomática: quebrar o gelo. Não para dizer que havia gelo entre os dois países, mas [para dizer] que a conversa foi muito calorosa e honesta. E agora acho que ambos os presidente entendem a posição um do outro de forma muito melhor”.
Lula conversou com a imprensa antes de deixar o hotel e retornar ao Brasil. Aos jornalistas, o presidente falou sobre o encontro com Zelensky.

“Eu acho que foi a reunião que devia acontecer e que precisava acontecer.”, pontuou Lula, “eu ouvi a história do Zelensky. Eu disse ao Zelensky que a necessidade é a gente trabalhar para construir a paz. Disse pra ele da necessidade de encontrar um grupo de países amigos que pudessem construir uma proposta que não fosse nem de um nem de outro, dos dois que estão em guerra, e de que a negociação em uma mesa de diálogo é muito mais barata que uma guerra. Não tem vítima, não tem morte e não tem tiro”.

Edição: Patrícia de Matos