Ondas de calor com máximas de até 45 graus tomaram conta do Brasil nos últimos dias. O calor extremo é ainda mais grave para a população em situação de rua, que está exposta diariamente às alterações climáticas. Muitas cidades brasileiras tomaram medidas de proteção a quem vive nas ruas. Porém, Curitiba vem sendo criticada por chegar a comemorar o calor e não apresentar, até agora, nenhuma medida concreta para essa população.
O deputado estadual Goura (PDT) chegou a fazer uma postagem nas redes sociais republicando cards produzidos pela Rede Curitiba Climática criticando a comemoração da prefeitura e cobrando medidas de proteção à população em situação de rua. Na postagem, o parlamentar diz que Curitiba sabe, desde 2020, quais são as áreas mais vulneráveis e de risco às ondas de calor.
“O que o poder público pode fazer em relação a isso? A gente pode agir de várias formas. Uma delas é um ponto que a gente já tem defendido há bastante tempo, inclusive cobrado da Prefeitura e da Sanepar: é a instalação de bebedouros públicos, de locais de acesso à água potável em espaços públicos da cidade, uma política pública que teria benefício para toda a população, incluindo a população em situação de rua”, defendeu o deputado.
A Vereadora Giorgia Prates tem também se posicionado quanto à esta pauta e sugerido medidas. " Uma das formas é garantir que tenham acesso a água potável, pois, mesmo em condições climáticas normais, as pessoas em situação de rua já têm mais dificuldade em se manterem hidratadas, o que piora consideravelmente sob altas temperaturas. Uma medida simples e de baixo custo é a instalação de bebedouros públicos em locais estratégicos, como praças, parques e abrigos. Outra necessidade é ter equipes preparadas para fazer o monitoramento da saúde da população em situação de rua, identificando e encaminhando para as unidades de saúde pessoas com sintomas de desidratação e insolação," defende.
Medidas urgentes
Curitiba é a 6ª cidade do país com maior porcentagem de pessoas em situação de rua. São 3,4 mil pessoas. No recorte por estado, o Paraná está em 4º lugar no ranking nacional, com 13,3 mil pessoas morando nas ruas. Os dados são de relatório divulgado pelo Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania (MDHC)
No frio, geralmente são várias as ações, como doação de roupas e cobertores e até o abrigo para estas milhares de pessoas. Já no calor, segundo Leonildo Monteiro, do Movimento Nacional da População de Rua (MNPR), são poucas as ações.
“Nós do Movimento Nacional da População de Rua e o Instituto Nacional de Direitos Humanos em Rua estamos reivindicando medidas urgentes e programas para este tipo de situação. Assim como acontece no frio extremo, é preciso que o poder público tome medidas com essa condição de calor. Estamos aguardando um posicionamento da Fundação de Assistência Social”, disse.
Para o deputado Goura, a justificativa da prefeitura para não tomar tais medidas chega a ser cruel. “Diz que não dá para instalar bebedouros ou torneiras por causa do vandalismo, e por isso não se faz nada. Então você tem toda uma população que pratica esportes, que frequenta praças, que está usufruindo do espaço público, e também a população em situação de rua que se vê privada desse direito básico do acesso à água”, analisou.
Curitiba vem sendo criticada por chegar a comemorar o calor e não apresentar, até agora, nenhuma medida concreta para a população em situação de rua / Joka Madruga
Onda de calor continuará
Segundo o professor de geografia da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e coordenador do Grupo NAPI de Emergência Climática, Francisco Mendonça, as ondas de calor seguirão intensas até o ano que vem.
“Neste ano, em especial, as ondas de calor estão muito associadas ao El Nino que é o fenômeno do aquecimento anormal acima da média das águas do Oceano Pacífico, que por sua vez desempenham ou injetam um calor a mais no ar, e a gente tem um período que dura meses de maior intensificação do calor. A tendência é que o El Nino seja muito intenso esse ano, ou seja, até o começo do ano que vem, a gente terá situações muito favoráveis à ocorrência de ondas de calor muito fortes”, explicou.
Sobre o impacto das mudanças climáticas na sociedade, o professor cita a atenção necessária para as populações mais vulneráveis. “Nem todas as populações são impactadas da mesma maneira pelos eventos climáticos extremos. As populações mais vulneráveis, dentre elas destacam-se as populações em situação de rua, são populações que por não possuírem abrigo, não possuírem alimentação correta, não possuírem uma vida cuja base material e base psicológica social seja boa, elas então estão muito mais expostas aos efeitos das ondas de calor”, pontuou.
O que diz a Prefeitura
Em nota para o Brasil de Fato Paraná, a assessoria de comunicação da Prefeitura de Curitiba disse que “nos Restaurantes Populares, assim como nas unidades do Mesa Solidária, são oferecidos, diariamente, cardápios balanceados com saladas, arroz, feijão, um acompanhamento, carne, frango, frutas e sucos.”
E, que a Urbs “disponibiliza água potável em 4 bebedouros instalados nas praças Rui Barbosa e Osório, nas Arcadas do Pelourinho e no Mercado Municipal, em frente à Rodoferroviária”. Além disso, que “as pessoas em situação de rua também têm acesso à água potável em todos as unidades da rede de assistência social da Fundação de Ação Social (FAS).”