Bombardeio continua

Após noite de massacre em Gaza, Netanyahu diz que Israel não aceitará cessar-fogo

'Mesmo as guerras mais justas têm vítimas civis', disse sobre mais de 8 mil mortes, entre elas as de 3,5 mil crianças

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |
Imagens mostram bombardeio israelense no norte da Faixa de Gaza nesta segunda (30) - Menahem Kahana / AFP

O primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu afirmou em coletiva nesta segunda-feira (30) que Israel não vai aceitar um cessar-fogo em Gaza. A afirmação foi feita horas depois de a Força Aérea israelense afirmar ter atingido 600 alvos de domingo para segunda, no maior ataque desde o início do conflito.

Pelo menos 8.306 morreram vítimas dos ataques israelenses, entre as quais 3,5 mil crianças, segundo informações do Ministério da Saúde de Gaza. O número de vítimas dos ataques do Hamas totalizaram 1,4 mil mortes desde o dia 7 de outubro, segundo as autoridades israelenses. 

"Mesmo as guerras mais justas têm vítimas civis não intencionais", disse Netanyahu ao falar sobre as mortes provocadas pelos ataques israelenses. Ele afirmou que mais de 200 reféns estão em poder do Hamas, e que "todos os países civilizados deveriam estar do lado de Israel para exigir que esses reféns sejam libertados".

O Hamas, grupo que controla a região de Gaza, propôs a libertação dos reféns em troca do cessar-fogo e divulgou um vídeo de três reféns entregando uma declaração dirigida ao primeiro-ministro isralense. "Liberte-nos agora. Liberte seus civis, liberte seus prisioneiros, liberte-nos, liberte a todos nós, deixe-nos voltar para nossas famílias agora. Agora! Agora! Agora!", diz uma mulher israelense no vídeo.

As declarações de Netanyahu acontecem no momento em que ele enfrenta uma crise política em seu próprio país, em decorrência das declarações feitas no domingo (29), quando afirmou não ter sido alertado sobre os planos de ataque em larga escala do Hamas. Esses comentários provocaram uma intensa controvérsia política e causaram divisões dentro de seu gabinete de guerra. Posteriormente, Netanyahu apagou os comentários que havia publicado no X, antigo Twitter, na madrugada deste domingo e emitiu um pedido de desculpas.

Também nesta segunda-feira, o Conselho de Segurança da ONU realiza uma nova reunião de emergência para discutir o cessar-fogo na região. O Brasil está na presidência rotativa do Conselho até esta terça. Até o momento, quatro propostas de resoluções sobre a guerra foram vetadas. Foram duas propostas da Rússia, uma do Brasil e outra dos Estados Unidos. A proposta brasileira recebeu 12 votos favoráveis, mas acabou vetada pelos EUA. 

Contexto

O cerne da questão árabe-israelense é a forma como o Estado de Israel foi criado, em 1948, com inúmeros pontos não resolvidos, como a esperada criação de um Estado árabe na região da Palestina, o confisco de terras e a expulsão de palestinos que se tornaram refugiados nos países vizinhos. 

A decisão pela criação dos dois estados foi tomada no âmbito da Organização das Nações Unidas (ONU) e aconteceu sem a concordância de diversos países árabes, gerando ainda mais conflitos na região. 

Ao longo das décadas seguintes, a ocupação israelense nos territórios palestinos – apoiada pelos EUA –  foi se tornando mais dura, o que estimulou a criação de movimentos de resistência. Foram inúmeras tentativas frustradas de acordos de paz e, na década de 1990, se chegou ao Tratado de Oslo, no qual Israel e a Organização para Libertação da Palestina se  reconheciam e previam o fim da ocupação militar israelense. 

O acordo encontrou oposição de setores em Israel – que chegaram a matar o então premiê do país – e de grupos palestinos, como o Hamas, que iniciou sua campanha com homens-bomba. Após a saída militar israelense das terras ocupadas em Gaza, ocorreu a primeira eleição palestina, vencida pelo Hamas (2006), mas não reconhecida internacionalmente. No ano seguinte, o Hamas expulsou os moderados do grupo Fatah de Gaza e dominou a região. 

Em 7 de outubro de 2023, o Hamas lançou sua maior operação até então, invadindo o território israelense e causando o maior número de mortes da história do país, 1,4 mil, além de fazer cerca de 200 reféns. A resposta israelense vem sendo brutal, com bombardeios constantes que já causaram a morte de milhares de palestinos, além de cortar o fornecimento de água e luz, medidas consideradas desproporcionais, criticadas e rotuladas de "massacre" e "genocídio" por vários organismos internacionais.

* Com informações de G1, The Washington Post e Agência Brasil

Edição: Thalita Pires